Capítulo 19

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Dez longos dias passaram e Adrian dava sinais de melhora. Doty não o abandonou em nenhum momento, aparecia sempre no hospital para ter notícias. Assim que ele acordou, se certificou de que ele não incriminaria Phillip e decidiu não mais ir ao hospital. Mas seu coração apertou ao ver de longe a primeira vez que ele ficou de pé e dava pequenos passos ajudados por um enfermeiro. Teve certeza naquele momento que mesmo ele sendo desprezível não conseguia odiá-lo e sentiu raiva de si mesma, saiu corredor a fora bufando e se chamando em voz alta de idiota, burra e imbecil. 

O dia de Kevan sair da prisão havia chegado, Phillip acordou tão ansioso e entusiasmado, que seu sorriso estava iluminado, conversou com o bebê na barriga que traria o avô para brincar com ele/ela.

-Se você for menino, ele vai te ensinar muitas coisas, vai brincar de carrinho com você, te ensinar a montar a cavalo, mas se você for menina, ele vai construir uma casa de bonecas pra você. O que você acha?

A alegria dele me deixava boba. Todos os dias que acordava com ele a meu lado, eu tinha absoluta certeza que faria tudo outra vez se fosse preciso, exceto a tragédia com Alex, óbvio. Ainda preciso agradecer mais uma vez ao álcool daquela noite que me deu coragem de beijá-lo. Em meu estado normal, nem ficaria no mesmo lado da calçada que ele.

Uma tarde, deitados no nosso cantinho especial no celeiro, ele me contou que se eu não o tivesse beijado, ele jamais se aproximaria de mim, pois eu era como algo inalcançável, alguém que estava além do que ele poderia ter ou até mesmo querer. Pertencíamos a classes e mundos diferentes, ele não se atreveria a se aproximar de mim. Eu era como o brinquedo mais caro e ele como uma criança pobre que só o admirava através da vitrine, eu me lembro de ter rido muito dessa comparação ridícula.

Phillip saiu nervoso, o vi jogar dois maços de cigarro no porta-luvas, o beijei apaixonadamente e ele saiu. Minha mãe estava aqui e também notoriamente um poço de nervos. Como enfrentaria Kevan depois de tanto tempo? Como justificaria o que fez? Como pediria perdão? E ele? Será que a perdoaria? O amava, nunca deixou de amá-lo,essa era a verdade, mas será que ainda poderiam ser felizes juntos? Tinha certeza absoluta que eram esses questionamentos que pairavam em sua cabeça. Sentou na varanda com os olhos em direção ao portão; ela mexia nervosamente o pingente em seu colar. Pensei comigo mesma sobre o que acontecera com eles, eu teria confiado, teria acreditado nele.

 Pensei comigo mesma sobre o que acontecera com eles, eu teria confiado, teria acreditado nele

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Phillip

Que espera maldita, meus nervos estão se digladiando dentro de mim. Penso o que deve estar passando na cabeça do meu pai nesse momento, depois de 20 anos privado de sua liberdade por um crime que não cometeu, sair e encarar o mundo aqui fora.

De repente ele surge através do portão, protegendo os olhos da claridade. Uma pequena mala era tudo que trazia, tudo que tinha durante esses 20 anos. Alex me disse que ele é um bom homem, honesto, íntegro e sentimental. Deve ser mesmo, pois ele vem chorando em minha direção, com os braços abertos pra me abraçar, já estou no último cigarro de uma das carteiras. O abracei muito forte e disse:

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora