Chamerd: Um enigma nas sombras (Encantado 2)

Capítulo 25. Jogo de enganações

           

De volta ao local combinado, Lyfia e eu estávamos sentados à beira de um projeto de fogueira, que aos poucos acendia. Sukki estava dentro de uma das cabanas de raiz, Allium estava girando seu cajado no ar, parecendo lutar contra as rajadas de vento que viam em sua direção. Alex e Aka estavam correndo ao redor do campo, parecendo tentar se distrair. A sua volta, a cerca viva que ele havia construído reagia a sua proximidade.

Enquanto esperávamos, as mãos leves de Lyfia estavam em meu cabelo, fazendo uma trança embutida, tentando me acalmar. Ela conversava comigo, tentando me fazer esquecer o que ouvimos... Tentando me fazer pensar em outra coisa senão o nervosismo.

– Agora que Allium conseguiu fertilizar um pouco o solo desse local, eu consigo conjurar flores vivas – Lyfia falou, separando meu cabelo. – Vão ficar lindas com seu cabelo.

Eu estava segurando um pequeno botão de margarida, girando-o em minha mão e analisando a beleza da magia. Poderia parecer calmo, mas meu coração estava dando pulinhos nervosos, esperando o momento certo para sair voando pela minha boca. Foi exatamente por isso que eu não respondi a minha amiga – pelo medo de perder meu coração. Allium se aproximou de nós dois, olhando de mim para sua prima. Uma gotícula de suor escorria em seu peitoral.

– Não acham que está demorando demais?

– Calma... – A voz de Lyfia vacilou pela primeira vez. – Ele chegará a qualquer momento.

– Eu sei... Mas essa espera está me deixando agoniado... – Falou Allium, nervoso. – Acha mesmo que estamos prontos para fazer isso?

A mão de minha amiga tremeu um pouco. Parecendo não estar mais tão segura de si... Eu a olhei por cima do meu ombro. Lembrando-me dos instantes passados, quando chegamos e logo ela foi tratada por Sukki.

– Temos que estar prontos – ela falou, fechando a expressão em seu rosto. De repente parecendo séria demais para vacilar em sua decisão.

Alex parou de correr por um instante e veio andando em nossa direção. Aka ofegava e se aproximou de mim. Seus grandes olhos amarelados, eu a acariciei... Dando meu primeiro sorriso sincero. Tocar aquela loba me dava uma sensação gostosa de paz e calma... Mas esse era o dom eterno dos lobos gigantes, não era? Quando levantei meus olhos, encontrei o olhar amarelo de Alex, que me analisava com bastante calma. Provavelmente vendo como meu cabelo estava naquele momento.

– Está lindo – ele comentou, tímido.

– Obrigado... – Respondi, sentindo o formigamento em minhas bochechas aumentar.

De repente, eu senti uma estranha sensação em minha barriga e eu podia sentir o ardor em minhas bochechas crescerem. Eu abaixei a cabeça, e então Aka lambeu meu rosto. Uma parte de meu coração bateu triste, cheio de culpa. Se lembrando do rosto de Stefan... Eu estou dando motivos para seu ciúme sem razão? Ou havia mesmo um fundamento?

Enquanto isso, meus amigos conversavam entre si. Parecendo ansiosos para o acontecimento.

– Está tudo pronto mesmo? – Perguntou Lyfia.

– Faz tempo... – Allium respondeu, ficando agoniado. Ele trocava o peso de suas pernas enquanto olhava preocupado para trás de seu ombro. – Por isso estou agoniado... Acha que devo testar um pouco mais? 

Aka latiu, dando um breve salto que a fez sair alguns centímetros do chão. Eu olhei para ela, que saiu correndo na direção de uma das cercas vivas de Allium, ela continuou latindo. De repente, a noite pareceu cair do nada, a escuridão fazia parte do cenário. Sukki saiu da cabana de raiz, parecendo perceber a tensão no local, seu cabelo preso com uma vareta de arvore. Seus olhos voaram preocupados para o mesmo ponto onde todos nós encarávamos. Meu coração bateu forte, meus olhos resistiram a curiosa vontade de ativar os Lucidos... Pois eu podia sentir a familiar energia negra.