Chegamos em uma casa que Nicole nomeou de "parada de fuga", na verdade era apenas a casa de uma amiga dela que fazia parte do plano, ou algo assim.
Nicole entrou e eu fiquei esperando em frente a casa.
Como tudo isso aconteceu? Eu saí de casa para trabalhar, sem pensar nela e aí eu encontrei ela.
Se eu contasse que era apaixonado por ela, no mínimo ela me acharia um louco. Ela ia ter medo, não, eu não ia dizer nada, não agora.
Lembrei de nossa correria pelas ruas da mansão até aqui, nunca pensei que seria tão estranho e ao mesmo tempo tão divertido acompanhar a fuga de uma noiva. O vestido dela estava sujo e rasgado, o penteado para o casamento se desfez, seu cabelo estava todo desgrenhado, todo mundo nos encarava por onde passávamos.
Seu cabelo estava maior, mas no mesmo tom escuro e ondulado.
Nicole.
Em menos de dez minutos Nicole saiu da casa da amiga, lhe deu um abraço. Ela agora estava com uma blusa de manga curta e um short jeans rasgado.
- O que fez com o vestido? - perguntei.
- Disse para Bia queimar.
Eu ri.
Resolvemos ir caminhando como pessoas normais, já tínhamos corrido demais.
- Então fugitiva, para onde vai?
- Sinceramente?
- Com certeza.
- Não faço ideia.
- Não deveria pôr em sua lista pós fuga um lugar para se refugiar?
- Lembrarei na próxima.
Eu sorri.
- Sendo assim, sugiro que me acompanhe.
Ela parou de andar, parei em sua frente.
- Eu não te conheço, você é um estranho.
- E mesmo assim te ajudei e fugi com você. Se quisesse te fazer mal, já teria feito. Nicole, confie em mim.
Ela pareceu pensar em todas as suas alternativas, então suspirou.
- Certo, vou com você, mas se tentar alguma gracinha...
- Não vou.
- Saiba que luto mais de cinco artes marciais.
- Tá. Me acompanhe.
Heitor compreenderia, ele precisava entender.
............
Quando chegamos no apartamento Heitor não estava. Ele deixou uma folha de seu bloco de anotações grudada por um ímã na geladeira lembrando-me do jantar na casa dos nossos pais.
Enchi dois copos de suco, entreguei um a Nicole e em dois bons goles esvaziei o meu.
- Eu não entendi uma coisa. - comecei me sentando no sofá em frente ao que ela estava sentada.
- O quê? - ela perguntou tomando um gole do suco.
- Se não queria casar, porquê aceitou?
Ela cruzou as pernas.
- Pressão. Aceitei pensando em minha família, não em mim. Meu pai me fez acreditar que era o certo a fazer, se casar por negócio, não por amor. Aceitei para não decepcioná-lo.
- Você queria que ele sentisse orgulho de você. O que mudou?
Eu sabia exatamente como era aquilo.
- Me questionei se aquilo era realmente o certo, e vi que eu tinha dois caminhos: Em um eu faria o que meus pais queriam, mas me decepcionaria e viveria infeliz, no outro eu poderia seguir a vida que sempre sonhei, encontrar alguém que realmente ame, ser feliz. Escolhi a segunda opção, então fugi, e você me flagrou.
Ela tomou o restante do suco.
- Sabe, no ramo de problemas com pai eu sou veterano, meu pai e eu não nos damos bem desde o dia que cheguei em casa e disse a ele que seria fotógrafo. Ele queria que eu fosse médico ou advogado, meu irmão é advogado, meu pai tem um orgulho imenso dele e um desgosto imenso de mim. Saí da casa dele por não aceitar suas ordens, ele me odeia.
- Ele é seu pai, não te odeia.
- Você não o conhece.
Ela olhou para as mãos e depois voltou a olhar para mim.
- Obrigada por ter fugido comigo, pelo suco e por está me ajudando.
- De nada.
Queria tanto falar a ela o que eu sentia, queria que ela soubesse que a procurei há anos. Mas eu precisava esperar.
- O que pretende fazer? - perguntei - Digo, quando a poeira baixar, vai voltar para casa?
- Não. Fiz uma escolha, não posso voltar.
- Então...
- Pretendo viajar, vou arrumar um emprego e um lugar para morar. Tenho dinheiro suficiente para me sustentar por alguns meses. A propósito, - ela abriu a bolsa - quanto te devo?
- Nada. - respondi.
- Fizemos um trato, vou pagar por seu trabalho.
- Eu não trabalhei. Não é justo receber.
- Mas...
- Não te ajudei pelo dinheiro.
- Então ajudou por quê?
Porque amo você.
Foi nessa hora que Heitor entrou e ficou nos encarando, sua entrada me salvou de responder aquela pergunta.
Valeu irmão!
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A Garota da Fotografia
RomanceSe apaixonar é algo normal, exceto quando alguém se apaixona por outra apenas por vê-la em uma foto... É exatamente isso que aconteceu a Pietro, se apaixonou por uma garota ao vê-la em uma fotografia...Uma garota que ele nunca havia visto na vida. T...