Passamos a manhã inteira sem se falar, e quase metade da tarde. Eu sabia que a forma pela qual me apaixonei por Nicole não era a mais normal, e que devia ser complicado para ela aceitar meu amor por ela. Eu não precisava falar com ela, só de está perto dela e saber que estava segura já me sentia bem.
Eu estava na varanda, admirando o vaivém dos carros na rua, senti quando ela se aproximava, ela parou ao meu lado, apoiou seus braços na sacada. Eu continuei a observar o trânsito.
- Eu confio em você, - disse ela -mas para mim é difícil acreditar que o que sente por mim é amor, que é apaixonado por mim há anos.
- Por que é tão difícil para você acreditar? - perguntei sem olhar para ela.
- Porque nunca ninguém disse que me amava. Porque fiz do amor algo que eu não merecia, depois de vinte e dois anos não achei que alguém me amaria e vem você me dizer que me amava desde seus dezessete anos, e você não me conhece.
- Agora conheço. E por incrível que pareça, passei a te amar ainda mais. - olhei para ela - Não estou pedindo que me ame, acho que o cupido que me flechou esqueceu de flechar você, acontece.
Ela sorriu.
- Pietro...
- Mas podemos pelo menos ser amigos.
- Isso já somos.
Eu sorri.
Ficamos o restante da tarde ali, parados na varanda, em um silêncio confortável, até que o céu se encheu de estrelas e Heitor chegou.
Eu e Heitor preparamos o jantar, nós três jantamos e logo após Nicole pediu licença e foi para o quarto.
- Você falou com ela? - Heitor perguntou quando já estávamos a sós. - Fiquei surpreso ao vê-la quando cheguei.
- Sim, eu falei. O único jeito de provar a Nicole que sinto por ela amor e não uma obsessão é deixando ela livre, sabe, criei um plano que acredito não ter como falhar, amanhã ela irá embora da cidade.
- Sinto muito, Pietro. Queria que sua longa procura tivesse valido a pena.
- E valeu, eu conheci uma garota incrível...Heitor, para meu plano dá certo vou precisar de sua ajuda.
- Claro, ajudarei como puder.
- Eu sei.
Contei meu plano ao meu irmão, ele achou muito bom.
Ainda naquela noite liguei para o Cássio.
.............
" Amar pode doer,
Amar pode doer às vezes...
Mas é a única coisa que eu sei,
Quando fica difícil,
Você sabe que pode ficar difícil
às vezes
É a única coisa que nos mantém vivos [...]"
Photograph - Ed SheeranProvavelmente o que eu ia fazer, ficaria marcado em minha vida como: Uma das coisas mais difíceis que faria em minha vida. Me despedir de Nicole.
Nicole saiu cedo do quarto, cabelo preso em uma trança, um macacão jeans e uma blusa preta, ela colocou a bolsa no sofá a minha frente e sentou ao lado.
- Vai me contar seu plano? - perguntou ela enquanto cruzava as pernas.
- É simples, Heitor vai te levar de carro até a casa de Cássio, um amigo de confiança. E Cássio vai te levar até outra cidade, você decide qual das três cidades vizinhas quer que ele te deixe, e de lá vai ser com você.
- É um bom plano.
- Eu concordo. - disse Heitor vindo da cozinha e entregando uma sacola a Nicole - Para viagem - explicou ele.
- Obrigada.
- Eu vou indo na frente, vou tirar o carro do estacionamento, dá a volta e ficar esperando você na rua de trás. - disse Heitor. - Espere alguns minutos antes de sair.
Ela concordou com um aceno e Heitor saiu.
Esperei a porta fechar para falar:
- Tenho uma coisa para você.
Tirei de dentro do meu caderno de poemas um envelope branco.
Eu escrevi uma carta para ela de madrugada.
Entreguei a ela.
- É uma carta, mas não leia agora. - pedi.
Ela a guardou em um bolsinho de sua bolsa.
- Obrigada por tudo. - agradeceu ela - Me desculpe pelos danos - ela apontou para meu olho esquerdo, que amanheceu hoje menos inchado, mas ainda arroxeado.
- Não tem de quê.
Ela levantou do sofá e colocou a bolsa nas costas.
- Queria ter te conhecido em outras circunstâncias. - disse ela.
- Eu também. - falei tão baixo que não sabia ao certo se ela tinha ouvido.
Ela começou a caminhar em direção à porta, levantei para acompanhá-la. Foi nesse momento que ela parou.
Nicole virou-se em minha direção, jogou sua bolsa em um dos sofás e então estávamos próximos demais.
Demais para eu pensar, demais para ouvir qualquer coisa que a razão gritasse em minha mente.
Eu a beijei.
Ela retribuiu.
Senti seus braços ao redor do meu pescoço, puxei ela para mais perto pela cintura. Meu coração estava aos pulos, o de Nicole estava acelerado (acelerado demais para um beijo sem importância).
A campanhia tocou e nos afastamos.
Ficamos em silêncio, apenas nos encarando.
A campanhia tocou novamente.
Fui até a porta, mas algo me fez olhar primeiro pelo olho mágico antes de abrir a porta. Dois policiais estavam parados do outro lado, com expressões nada simpáticas.
Não abri a porta. Peguei a bolsa de Nicole, puxei-a pelo braço em direção à cozinha.
Na cozinha tinha uma porta que também levava para rua.
- Saia por aqui. - falei entregando a bolsa a ela e abrindo a porta.
- Quem está tocando a campanhia?
- Problemas. Mas não se preocupe, vou resolver, agora vá, Heitor já deve está te esperando.
Ela me lançou um último olhar antes que eu fechasse a porta.
A campanhia tocou pela terceira vez.
Bufei e fui abrir a porta.
- Bom dia - falei - O que desejam?
- Por que demorou tanto para abrir a porta? - O policial mais alto perguntou.
- Estava no banheiro. - menti.
Eles não pareciam ter acreditado nem por um instante em minha resposta.
- É aqui que reside Pietro Barcellos? - perguntou o policial mais baixo.
- Sim. Está falando com ele. - respondi.
- Temos em mãos um mandato de prisão contra você.
- E do que sou acusado?
- Sequestro. - respondeu os dois em uníssono.
- Posso saber que provas têm contra mim?
- Você foi o último a ser visto com Nicole Carvalho. Deve algumas respostas ao delegado.
- Nicole Carvalho?
- Vai nos dizer que não a conhece? Que não sabia que ela está desaparecida? - indagou o mais alto.
- Só responderei na presença do meu advogado.
- Pode exigir seu advogado na delegacia. Algeme-o. - mandou o mais alto para o mais baixo.
- Não é necessário algemas. Não causarei problemas.
- Não é isso que os hematomas em seu rosto dizem.
Estendi os braços e fui algemado.
- Estão cometendo um erro, eu sou inocente. - falei.
- Isso é o que todos dizem. Vamos.
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A Garota da Fotografia
RomanceSe apaixonar é algo normal, exceto quando alguém se apaixona por outra apenas por vê-la em uma foto... É exatamente isso que aconteceu a Pietro, se apaixonou por uma garota ao vê-la em uma fotografia...Uma garota que ele nunca havia visto na vida. T...