Capítulo XII

81 5 0
                                    

  Passamos a manhã inteira sem se falar, e quase metade da tarde. Eu sabia que a forma pela qual me apaixonei por Nicole não era a mais normal, e que devia ser complicado para ela aceitar meu amor por ela. Eu não precisava falar com ela, só de está perto dela e saber que estava segura já me sentia bem.
  Eu estava na varanda, admirando o vaivém dos carros na rua, senti quando ela se aproximava, ela parou ao meu lado, apoiou seus braços na sacada. Eu continuei a observar o trânsito.
  - Eu confio em você, - disse ela -mas para mim é difícil acreditar que o que sente por mim é amor, que é apaixonado por mim há anos.
  - Por que é tão difícil para você acreditar? - perguntei sem olhar para ela.
  - Porque nunca ninguém disse que me amava. Porque fiz do amor algo que eu não merecia, depois de vinte e dois anos não achei que alguém me amaria e vem você me dizer que me amava desde seus dezessete anos, e você não me conhece.
  - Agora conheço. E por incrível que pareça, passei a te amar ainda mais. - olhei para ela - Não estou pedindo que me ame, acho que o cupido que me flechou esqueceu de flechar você, acontece.
  Ela sorriu.
  - Pietro...
  - Mas podemos pelo menos ser amigos.
  - Isso já somos.
  Eu sorri.
  Ficamos o restante da tarde ali, parados na varanda, em um silêncio confortável, até que o céu se encheu de estrelas e Heitor chegou.
  Eu e Heitor preparamos o jantar, nós três jantamos e logo após Nicole pediu licença e foi para o quarto.
  - Você falou com ela? - Heitor perguntou quando já estávamos a sós. - Fiquei surpreso ao vê-la quando cheguei.
  - Sim, eu falei. O único jeito de provar a Nicole que sinto por ela amor e não uma obsessão é deixando ela livre, sabe, criei um plano que acredito não ter como falhar, amanhã ela irá embora da cidade.
  - Sinto muito, Pietro. Queria que sua longa procura tivesse valido a pena.
  - E valeu, eu conheci uma garota incrível...Heitor, para meu plano dá certo vou precisar de sua ajuda.
  - Claro, ajudarei como puder.
  - Eu sei.
  Contei meu plano ao meu irmão, ele achou muito bom.
  Ainda naquela noite liguei para o Cássio.
                    .............
  " Amar pode doer,
    Amar pode doer às vezes...
   Mas é a única coisa que eu sei,
  Quando fica difícil,
  Você sabe que pode ficar difícil
  às vezes
  É a única coisa que nos mantém vivos [...]"
  Photograph - Ed Sheeran

  Provavelmente o que eu ia fazer, ficaria marcado em minha vida como: Uma das coisas mais difíceis que faria em minha vida. Me despedir de Nicole.
  Nicole saiu cedo do quarto, cabelo preso em uma trança, um macacão jeans e uma blusa preta, ela colocou a bolsa no sofá a minha frente e sentou ao lado.
  - Vai me contar seu plano? - perguntou ela enquanto cruzava as pernas.
  - É simples, Heitor vai te levar de carro até a casa de Cássio, um amigo de confiança. E Cássio vai te levar até outra cidade, você decide qual das três cidades vizinhas quer que ele te deixe, e de lá vai ser com você.
  - É um bom plano.
  - Eu concordo. - disse Heitor vindo da cozinha e entregando uma sacola a Nicole - Para viagem - explicou ele.
  - Obrigada.
  - Eu vou indo na frente, vou tirar o carro do estacionamento, dá a volta e ficar esperando você na rua de trás. - disse Heitor. - Espere alguns minutos antes de sair.
  Ela concordou com um aceno e Heitor saiu.
  Esperei a porta fechar para falar:
  - Tenho uma coisa para você.
  Tirei de dentro do meu caderno de poemas um envelope branco.
  Eu escrevi uma carta para ela de madrugada.
  Entreguei a ela.
  - É uma carta, mas não leia agora. - pedi.
  Ela a guardou em um bolsinho de sua bolsa.
  - Obrigada por tudo. - agradeceu ela - Me desculpe pelos danos - ela apontou para meu olho esquerdo, que amanheceu hoje menos inchado, mas ainda arroxeado.
  - Não tem de quê.
  Ela levantou do sofá e colocou a bolsa nas costas.
  - Queria ter te conhecido em outras circunstâncias. - disse ela.
  - Eu também. - falei tão baixo que não sabia ao certo se ela tinha ouvido.
  Ela começou a caminhar em direção à porta, levantei para acompanhá-la. Foi nesse momento que ela parou.
  Nicole virou-se em minha direção, jogou sua bolsa em um dos sofás e então estávamos próximos demais.
  Demais para eu pensar, demais para ouvir qualquer coisa que a razão gritasse em minha mente.
  Eu a beijei.
  Ela retribuiu.
  Senti seus braços ao redor do meu pescoço, puxei ela para mais perto pela cintura. Meu coração estava aos pulos, o de Nicole estava acelerado (acelerado demais para um beijo sem importância).
  A campanhia tocou e nos afastamos.
Ficamos em silêncio, apenas nos encarando.
  A campanhia tocou novamente.
  Fui até a porta, mas algo me fez olhar primeiro pelo olho mágico antes de abrir a porta. Dois policiais estavam parados do  outro lado, com expressões nada simpáticas.
  Não abri a porta. Peguei a bolsa de Nicole, puxei-a pelo braço em direção à cozinha.
  Na cozinha tinha uma porta que também levava para rua.
  - Saia por aqui. - falei entregando a bolsa a ela e abrindo a porta.
  - Quem está tocando a campanhia?
  - Problemas. Mas não se preocupe, vou resolver, agora vá, Heitor já deve está te esperando.
  Ela me lançou um último olhar antes que eu fechasse a porta.
  A campanhia tocou pela terceira vez.
  Bufei e fui abrir a porta.
  - Bom dia - falei - O que desejam?
  - Por que demorou tanto para abrir a porta? - O policial mais alto perguntou.
  - Estava no banheiro. - menti.
  Eles não pareciam ter acreditado nem por um instante em minha resposta.
  - É aqui que reside Pietro Barcellos? - perguntou o policial mais baixo.
  - Sim. Está falando com ele. - respondi.
  - Temos em mãos um mandato de prisão contra você.
  - E do que sou acusado?
  - Sequestro. - respondeu os dois em uníssono.
  - Posso saber que provas têm contra mim?
  - Você foi o último a ser visto com Nicole Carvalho. Deve algumas respostas ao delegado.
  - Nicole Carvalho?
  - Vai nos dizer que não a conhece? Que não sabia que ela está desaparecida? - indagou o mais alto.
  - Só responderei na presença do meu advogado.
  - Pode exigir seu advogado na delegacia. Algeme-o. - mandou o mais alto para o mais baixo.
  - Não é necessário algemas. Não causarei problemas.
  - Não é isso que os hematomas em seu rosto dizem.
  Estendi os braços e fui algemado.
  - Estão cometendo um erro, eu sou inocente. - falei.
  - Isso é o que todos dizem. Vamos.

 

A Garota da FotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora