Capítulo I

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O despertador berrava em meu ouvido.
07:15
Abri uma brecha do olho, o suficiente para desligar o despertador e voltar a dormir.
- Pietro, por que você coloca o celular para despertar, se você sempre desliga e volta a dormir? Está meia hora atrasado.
Meia hora?
Abri os olhos e me sentei na cama.
- O que disse? - indaguei.
- Que já são sete e quarenta e cinco. - meu irmão falou.
Pulei da cama, passei no banheiro rapidamente e troquei de roupa mais rápido ainda.
Eu até iria fazer a barba se já não estivesse tarde.
- Obrigado Heitor. - falei pegando uma lata de energético na geladeira. - Por me acordar, não posso faltar hoje.
Heitor estava terminando de pôr café em sua xícara, ele necessitava de sua dose diária de cafeína.
Sem virar para olhar para mim ele falou:
- Quando eu começar a cobrar uma taxa por cada dia que te acordar, além de me agradecer, irá pagar.
Eu sorri.
- Falaremos sobre isso mais tarde, - eu disse - agora preciso ir.
Abri a latinha e a porta, fechei ela e desci a escadaria de dois em dois degraus.
Heitor era meu irmão mais velho, três anos mais velho, trabalhava como advogado, namorava com Elise Freff e dividia seu apartamento comigo. Ele era extremamente organizado, eu até tentava ser.
Droga!
Eu tinha exatamente quinze minutos para chegar na faculdade. Cheguei no portão principal que ligava o apartamento à rua, joguei a latinha seca no lixo, dei bom dia ao porteiro e dei início ao meu objetivo: não chegar tão atrasado.
Cheguei na faculdade faltando vinte e cinco segundos para o portão ser trancado. Pelos menos consegui alcançar minha meta.
Fotografia, era o curso que eu fazia, estava bem perto de concluir, era questão de quatro meses. Eu não poderia seguir outra profissão, eu amava fotografar. Essa minha escolha era a decepção do meu pai, mas Heitor o consolava.
Pedi licença ao professor Jones para entrar na sala, ele não gostou do meu atraso (já devia está acostumado), eu o recompensaria com belas fotos.
Foco na aula.

Cheguei em casa no fim da tarde, aproveitei o dia na faculdade para terminar trabalhos, revelar fotos e tirar algumas dúvidas. Heitor estava trancado em seu escritório, provavelmente planejando novas estratégias para ganhar outra causa. Resolvi não incomodá-lo, fui para meu quarto, tomei banho, vesti uma bermuda jeans e uma camisa verde de manga curta.
Saí sem que meu irmão notasse.

"Imagine que o amor é tipo o fogo, e o coração é repleto de gasolina, imagine apenas uma faísca do amor no coração, é só isso que basta para incendiar, uma faísca."
C.S

Toquei duas vezes na campanhia da casa de Cássio, antes dele abrir a porta.
Cássio era um dos meus amigos mais próximos, o conheci quando entrei na faculdade.
- Estava esperando você. - disse ele ao me vê - Está atrasado.
Ele deu passagem para que eu entrasse.
- Eu sei.
Ele fechou a porta e me mandou sentar no sofá. Sentei e o esperei ir até o quarto buscar o notebook.
Cássio tinha vinte e quatro anos, morava com sua mãe, era um pouco mais alto que eu, mais claro também, tinha os olhos verdes, não gostava de festas, preferia ficar em casa assistindo filmes ou jogando.
Cássio não voltou com o notebook.
- Então? - perguntei ansioso.
- Nada.
- Nada?
- Falei com meu amigo, mostrei a foto, - ele tirou a foto do bolso de sua bermuda e me entregou - mas ele não encontrou sua garota. Sinto muito, Pietro.
- Não entendo como ela simplesmente desapareceu.
- Uma coisa é evidente, ela não é daqui, se não, você já teria esbarrado nela, você a procura a anos, em algum momento você a acharia, a cidade não é tão grande a ponto de você só vê uma pessoa apenas uma vez.
- Realmente. Parei uma mesma mulher três vezes durante esse tempo achando que fosse ela.
Respirei fundo.
- Se tivéssemos pelo menos o nome dela...
Guardei a foto no bolso da minha bermuda e levantei do sofá.
- Obrigado Cássio. Vou indo.
- Queria muito ter a encontrado.
Eu também.
- Agradeça a seu amigo também, por mim.
- Repasso o agradecimento.
- Tchau Cássio.
- Tchau.
Eu saí de lá arrasado.
É isso que dá criar tanta expectativa. Você se decepciona, se machuca...Você fica furioso.
Eu poderia rasgar a foto em pedacinhos minúsculos, que mesmo que eu me arrependesse (que eu iria), não conseguiria juntar novamente. Mas do que adiantaria? Seu rosto, seu sorriso, estariam fotografados em minha mente. Dali eu não podia arrancar.
Tirei a foto do bolso e guardei na carteira.
Às vezes me sentia maluco por continuar procurando ela.
Talvez eu fosse.

A Garota da FotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora