- Eu não a sequestrei.- respondi pela segunda vez em menos de cinco minutos - Será que pode tirar as algemas?
O delegado, um cara que parecia desconfiar de sua própria sombra, olhou para mim, e depois acenou para um policial que estava em pé ao lado da porta.
- Senhor Pietro, admite que conhece Nicole Carvalho? - indagou o delegado enquanto meus pulsos ficavam livres.
- Em nenhum momento neguei isso.- retruquei.
- Então a conhece?
- Meu Deus! Mas não foi isso que acabei de responder?
- Diminua o tom rapaz.
Soou como uma ameaça.
Me controlei para não bufar.
Alguém bateu duas vezes na porta da sala do delegado. O policial perto da porta abriu apenas uma brecha e falou com quem quer que fosse, então virou para o delegado.
- Delegado, o advogado do sr.Barcellos chegou.
- Deixe-o entrar.
Heitor entrou e cumprimentou o delegado:
- Sou Heitor Barcellos, advogado de Pietro.
- Outro Barcellos? Interessante...
- Não há nenhuma lei que proíba que eu defenda meu irmão, ele é um cliente como qualquer pessoa.
- Claro, em nenhum momento o questionei.
Meu irmão sentou-se ao meu lado.
- Delegado, quero que me informe as provas que tem contra o meu cliente.
- Seu irmão...Seu cliente, aparece em filmagens de câmeras de segurança acompanhado de Nicole Carvalho - Heitor não demonstrou qualquer expressão.
- Não vejo onde está o delito de acompanhar alguém. O que há de grave nisso? - questionou Heitor.
- O que há de grave? - o delegado pareceu sorrir. Um sorriso sem qualquer humor - A moça desapareceu, e Pietro Barcellos foi, pelo que tudo indica, o último a ser visto com ela.
- Ainda assim não há provas que o ligue ao desaparecimento da moça.
Eu alternava a cabeça, do delegado para meu irmão e vice-versa.
- Seu cliente afirmou conhecer Nicole. - disse o delegado - Pietro Barcellos, que relação há entre você e a moça desaparecida?
Boa pergunta! Sabe senhor delegado, éramos...amigos, mas nos beijamos e eu não sei...Para ser franco, também quero saber.
Heitor olhou para mim, seu olhar dizia:"Muito cuidado com o que vai responder."
- Bem...- limpei a garganta - Não há exatamente uma relação. - respondi - Eu a conheci no dia de seu casamento. - expliquei.
Não era mentira, também não era totalmente a verdade.
- Como a conheceu? - indagou ele.
- Fui contratado como fotógrafo.
Imaginei como seria se eu contasse a verdade, que era apaixonado por ela há seis anos e que a encontrei no dia de seu casamento. Provavelmente eu seria internado em algum hospício, com o seguinte diagnóstico: "Maluco obsessivo e psicopata."
Era melhor omitir essa parte.
- Eu mesmo o deixei em frente ao local onde ocorreria o casamento. - disse Heitor dando bases para minha resposta.
O delegado olhou para meu irmão.
- O senhor pode até defender seu irmão judicialmente, mas deveria saber que, como sendo irmão, não pode ser testemunha.
- Sei disso. - disse Heiror secamente - Assim como sei que não pode acusar alguém sem pelo menos uma prova.
- A garota está sumida, e Pietro Barcellos é o principal suspeito por isso.
- Só lembrando, - falei - estou bem aqui.
- Então porquê não colabora? - perguntou o delegado - O sr . carvalho prestou prestou queixa e as investigações levaram até o senhor. Por que não diz onde ela está?
- Pelo simples fato de não saber. - respondi.
Não era mentira. A deixei escolher para onde ir. Eu não sabia.
- Não acredito.
Problema é seu.
- É uma pena, porque estou sendo sincero.
- Fale a verdade ou as coisas podem piorar para o senhor.
- Eu realmente não sei onde ela está.
- Ele não sabe, Pietro está falando a verdade. - intrometeu-se Heitor.
- Por favor, doutor Barcellos, se não conseguir controlar os laços familiares e agir como profissional vou ter que pedir para se retirar.
- Fique quieto, Heitor. - pedi.
O que me faltava era Heitor se meter em problemas por minha causa. Seria mais um motivo para meu pai me odiar.
- O senhor, Pietro Barcellos, ficará detido até resolvermos o caso.
Heitor levantou bruscamente.
- Como assim?! Ele não fez nada! - protestou indignado meu irmão.
- Se não baixar o tom, doutor Barcellos, ira fazer companhia ao seu irmão. - ameaçou o delegado.
- Heitor...
Ele olhava furioso para o delegado e juro, sério, juro que achei que ele ia voar para cima do delegado e estrangulá-lo.
- Heitor. - chamei-o novamente.
Ele olhou para mim.
- Se acalme. - pedi.
- Isso não é justo, Pietro, é um absurdo.
- Se acalme, - repeti - Ou vá para casa. Absurdo será se você for preso.
Heitor respirou fundo.
- Vou te tirar daqui.
- Sei que vai.
Dei um abraço em meu irmão e depois acompanhei o policial da porta, até uma cela vazia.
Sentei em um banco de cimento e encostei minhas costas na parede fria.
Tudo que eu queria era que Nicole estivesse bem longe. - essa era minha parte racional falando - Meu coração doía desde o momento que ela foi embora.Passaram-se vinte minutos até um policial abrir a cela e dizer:
- Me acompanhe.
Levantei do banco.
- Por quê?
- Não faça perguntas, apenas me acompanhe.
Fui levado novamente para a sala do delegado.
O policial abriu a porta e meu coração saltou quando meus olhos pararam nela.
- Eu tô com cara de que fui sequestrada?! - ela perguntava com as mãos na cintura quando entrei - Exijo que solte Pietro, agora.
O delegado fixou seus olhos em mim.
Nicole girou e também me encarou.
Cássio estava escorado na parede onde outrora estava o policial.
Heitor entrou na sala, e tive a sensação - por conhecê-lo bem até demais - que ele tinha preparado ótimos argumentos contra os do delegado (não era por ele ser meu irmão, mas ele mandava muito bem em seu trabalho). Ele ficou tão surpreso quanto eu ao vê Nicole ali.
- Seu pai, senhorita Carvalho, prestou queixa sobre seu desaparecimento.
- Eu sei. - disse ela olhando para mim - Mas estou aqui, não estou? - falou ela voltando a olhar para o delegado - Afirmo não ter sido sequestrada por ninguém, muito menos pelo Pietro Barcellos, e tem mais, não tive surto nenhum, eu fugi porque quis de meu casamento.
- E onde Pietro se encaixa nisso tudo?
Ela voltou a olhar para mim.
- Ele foi gentil comigo. - respondeu ela - Isso não é crime.
- Como eu disse meu cliente não fez nada de errado. - disse Heitor. Ele não iria perder a oportunidade de passar na cara do delegado.
- Sua família vai ser informada de seu aparecimento. - disse o delegado.
- Informe, faça o que quiser, mas libere o Pietro.
O que ela fez?
Ela se aproximou de mim, eu a abracei.
Eu sei, eu sei! Não devia está feliz por ela está aqui. Ela devia está longe, mas não conseguia ficar triste de tê-la ali.
- Não devia ter voltado. - disse perto de seu ouvido.
- Fiz o que meu coração dizia para eu fazer. E não me arrependo.
Lancei um olhar fuzilante para Cássio, ele devia ter levado Nicole para bem longe.
- Não me culpe, - disse ele - Ela ameaçou pular do carro se eu não retornasse. E parecia está falando sério.
- E eu estava.
- Você é mesmo maluquinha. - disse Heitor sorrindo - Confesso que não achei que a veria tão cedo.
- Eu também.
- Nicole, você pensou nas consequências? - perguntei.
- Eu pensei em você. - respondeu ela fazendo meu coração acelerar novamente.
- Hum hum - pigarreou Heitor - Eu vou...Cássio preciso falar com você.
Cássio entendeu o recado e saiu da sala do delegado com Heitor.
O delegado estava ao telefone.
- Eu não deixaria você ser preso. - disse ela - Falei com Heitor e ele me disse que o delegado o tinha detido. Ele só não imaginava que eu voltaria.
- Isso não tá certo. O que vai ser de você?
Ela deu de ombros.
- Vou encarar meus pais. Não posso fugir para sempre...- ela olhou para mim - E talvez eu já tenha encontrado o que procurava.
Eu ia falar, mas fui interrompido pelo delegado que disse para Nicole:
- Seus pais estão a caminho.
Ela acenou como resposta.
- Temos muito o que conversar, mas não agora.
- Eu sei.
Talvez ela não tivesse percebido, mas estávamos de mãos dadas. E eu não queria soltá-la...Não mesmo.
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A Garota da Fotografia
RomanceSe apaixonar é algo normal, exceto quando alguém se apaixona por outra apenas por vê-la em uma foto... É exatamente isso que aconteceu a Pietro, se apaixonou por uma garota ao vê-la em uma fotografia...Uma garota que ele nunca havia visto na vida. T...