Capítulo IV

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  - Não sabia que teríamos visita. - disse Heitor fechando a porta.
  Será que ele a reconheceu da foto?
  Meu irmão sabia de meu amor platônico pela garota da foto.
  Levantei do sofá e fui até ele.
  - Heitor, esta é a Nicole, Nicole este é o meu irmão, Heitor.
  - Prazer em conhecê-la. - disse ele.
  - Igualmente. - falou Nicole.
  - Heitor, preciso falar com você, - falei um pouco mais baixo - no seu escritório.
  - Claro.
  - Fica a vontade - falei para Nicole - Volto já.
  Segui meu irmão até seu escritório, ele escorou a porta e então perguntou.
  - Como foi o casamento?
  - Não foi. Não houve casamento. - respondi. Heitor me encarou surpreso. - É sobre isso que quero falar.
  - Estou ouvindo.
  - A moça que está lá na sala, ela, ela...
  - Ela...
  - Ela era a noiva.
  Heitor arregalou os olhos e exclamou:
  - Ela é o quê?!
  - Era - corrigi - a noiva. Ela fugiu do casamento. - usei um tom natural, como se todos os dias noivas saíssem fugindo por aí. É que...Eu ainda não tinha contado a verdadeira bomba.
  - Ela, - ele apontou em direção à porta - ela fugiu do casamento?
  - Sim, foi o que eu acabei de falar. Eu a ajudei fugir.
  - Pietro...Meu Deus!
  - E...
  Ele me encarou novamente.
  - Ainda tem mais?
  - Heitor, ela é a garota.
  Meu irmão franziu a testa, ele só fazia isso em duas circunstâncias: quando estava preocupado ou quando tentava raciocinar algo que ele não entendia de primeira.
  - Irmão, - eu iria ser mais preciso - ela é a garota da fotografia.
  Isso foi demais para ele. Heitor abriu uma garrafa de whisky, encheu um copo até a metade e tomou em um só gole.
  Meu irmão passou as mãos no cabelo e então falou:
  - Impossível. Pietro, isso é inacreditável.
  - Não é, não.
  - Você a procurou por seis anos. Seis anos! Pietro você nunca encontrou nada que te desse uma pista dessa garota. Não pode me dizer que a garota lá na sala é ela, é...É inacreditável. - repetiu ele.
  - Heitor, é ela. É ela.
  - Tem certeza?
  - Absoluta.
  Tirei de meu bolso a minha carteira e dela a foto. Mostrei novamente para meu irmão.
  - Certo. É ela. Mas, como.Ela.Veio.Parar.Aqui?
  Pausadamente. Foi assim que meu irmão perguntou.
  - Não posso explicar agora cada detalhe. Heitor, ela não tem para onde ir, ela pode ficar? Por um ou dois dias.
  - Pode. Só espero que não saia machucado.
  - Obrigado Heitor.
  - Ainda não está arrumado para o jantar?
  Tinha esquecido do jantar.
  - Estava ocupado correndo pela cidade com uma noiva em fuga.
  Ele riu.
  - Vá se arrumar, vou fazer o mesmo.
  - Tá.
  Saimos do escritório. Heitor foi direto para seu quarto, eu voltei para sala.
  Nicole continuava sentada no sofá, mas seus olhos percorriam um quadro na parede, formado por vários retratos. A maioria tirados por mim.
  Ela não notou minha presença até eu sentar ao seu lado.
  - Pode ficar aqui. - disse eu - Por uns dias, até, pelo menos decidir para onde ir.
  - Não quero abusar de sua bondade, nem de seu irmão. Amanhã irei embora. - disse ela, como uma juíza falando por fim o veredito.
  Aquela frase doeu. Doeu como se algo afiado perfurasse meu coração, talvez a tristeza fosse afiada como a lâmina de uma espada, talvez por isso ela causasse tanta dor.
  - Amanhã?
  - É. Quanto mais rápido ir para bem longe melhor.
  Bem longe...
  Eu sentia a dor mais viva e presente. Ela se tornava mais profunda.
  Então era isso? Seis anos a procura de uma garota e quando finalmente a encontrei ela vai embora, para bem longe...
  Amanhã...
  Se eu contasse o que sentia ela iria embora agora mesmo.
  - Você que sabe. - foi a única frase que consegui pronunciar para aquilo. - Eu preciso me arrumar vou ir com meu irmão até a casa dos meus pais e sei que voltarei bem depressa, mas tem comida na geladeira e...É isso.
  - Obrigada mais uma vez, por tudo.
  - Não tem de quê.
 
O amor devia ter alguma desavença comigo. Não havia outra explicação.
 

A Garota da FotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora