Capítulo IX

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  - Oh meu Deus! Pietro acordado? Nem são sete horas! Não acredito! - Heitor realmente parecia surpreso.
  - Shhh...Cale a boca, vai acordá-la. - falei apontando para o sofá.
  Heitor esticou o pescoço e viu Nicole dormindo.
  Ele ergueu uma sobrancelha questionativa.
  - Longa história. - disse eu.
  - Resuma.
  - Ela estava com insônia e ficamos conversando e ela adormeceu. Eu continuei acordado. Até agora.
  - Nossa...Ei, até que enfim tirou a barba! - exclamou ele só agora notando meu rosto.
  - Dá para falar baixo?
  Me dirigi à cozinha, Heitor veio atrás de mim,sentou na bancada e falou:
  - Pietro, - ele passou a mão no cabelo despenteado - sabe que por ter aparecido naquela filmagem pode se prejudicar.
  Enchi uma xícara de café para mim e outra para Heitor.
  - Eu sei. - disse entregando uma xícara a ele. - Virei um sequestrador de noivas.
  - Pietro... Você foi o último a ser visto com Nicole, se ela não aparecer, vão chegar a você.
  - Sorte minha ter um irmão advogado.
  - Estou falando sério.
  - Eu também. - retruquei.
  - Pietro...
  - Olha irmão, eu sei que está preocupado, agradeço sua preocupação, sério, mas eu fiz minha escolha, escolhi ajudar ela, e se eu pudesse escolher novamente essa seria minha escolha. Vou fazer o possível para que sua fuga ocorra sem problemas mesmo que isso parta meu coração. Sou inocente, não me arrependo, minha consciência está tranquila e eu tenho o melhor advogado da cidade ao meu lado.
  - Obrigado pelo elogio. Só peço que tome cuidado, faça o possível para não chamar atenção.
  - Pode deixar maninho.
  - E hoje você vai por conta própria para faculdade, tenho que sair mais cedo.
  - Droga.
  Ele sorriu e esvaziou a xícara.
  - Diga a Nicole que ela pode ficar aqui quanto tempo achar necessário...E que ela é uma garota de sorte por ser amada por você.
  - Falarei a primeira parte.
  Ele saiu da cozinha sorrindo.

  Boné, óculos de sol, barba feita. Seja discreto ninguém vai lhe assemelhar ao cara na TV. Espero.
  Coloquei minha mochila nas costas.
  Nicole ainda dormia.
  Abri a porta para sair, mas então voltei até a sala me inclinei em direção a Nicole e lhe dei um suave beijo na testa.
  Peguei o ônibus e fiz meu trajeto até a faculdade. Pela primeira vez cheguei faltando dez minutos para o portão principal ser fechado.
  Antes de chegar a minha sala encontrei com Cássio.
  - Pietro, ontem de noite tentei ligar dezenas de vezes para você.- disse ele.
  - Desculpe, ele descarregou e só o coloquei para carregar hoje. Por que ligou?
  - Por quê? Você a encontrou.
  - Eu o quê?
  - Encontrou a garota da fotografia. Te reconheci da filmagem, também reconheci ela da foto. Sabe que ter vindo de boné e óculos chama atenção, né? Já estava em tempo de fazer a barba.
  - Cássio não conte a ninguém. É muito importante, não conte.
  - Não vou contar, confie em mim. Só estou contente por ter encontrado sua garota. Como foi encontrá-la?
  - Como se achasse está em sonho, se beliscasse e só aí notasse que era real. Ela é real, eu não era maluco.
  Ele sorriu.
  - Destino ou coincidência, o que importa é que finalmente a encontrou.
  - Cássio, eu confio em você, então não me faça se arrepender.
  - Não vou. Pode confiar. Pode contar comigo.
  - Obrigado.

  Revelei todas as fotos presentes na câmera. Separei as que entregaria a Nicole em um envelope e as minhas em outro. Deixei as fotos que tirei mais cedo do nascer do sol para meu professor avaliar e fui para casa.
  O apartamento estava em silêncio, nenhum sinal de Nicole. Senti meu coração se apertar.
  Ela não iria embora sem se despedir, iria? Não. Ela não podia ir, ela não faria isso, ela...
  Fui para cozinha, ela devia está lá. Mas não a encontrei lá, encontrei:
  - Elise?
  Ela virou e sorriu.
  - Pietro!
  Fui até ela e lhe dei um beijo na bochecha.
  - Lise, você viu a...
  - Nicole? - ela perguntou me interrompendo.
  - Sim, a Nicole.
  Ela abriu um largo sorriso.
  - Enfim chegou o fim de sua procura. Ela é uma boa escolha. - disse Elise em um sussurro.
  Tirando Heitor e Cássio, a única outra pessoa que sabia de minha paixão pela Nicole era Elise.
  - É, ela é. Onde ela está?
  - Você vai ficar surpreso quando vê-la.
  - O que vocês duas aprontaram?
  Passos se aproximaram da cozinha.
  - Elise, acha que...- Nicole parou de falar e eu virei para vê-la.
  - Nicole?
  Ouvi Elise dá uma risada. Nicole também sorriu, provavelmente achou engraçada minha expressão facial ao me deparar com uma Nicole loura, LOURA.
  - É uma parte do disfarce. - explicou Nicole.
  - Boa ideia. - foi a única coisa que veio em minha cabeça naquele momento.
  - Não vou me acostumar tão fácil com meu cabelo louro, amo ele no tom escuro, mas foi preciso.
  - Eu disse que ficaria surpreso. - disse Elise.
  - E como.
  - Quando Heitor me contou que estavam ajudando uma noiva foragida - aposto que ele mencionou a ela que também era a garota pela qual sou apaixonado - vim conhecê-la e ela falou que precisava de um disfarce, pintar o cabelo sempre dá uma nova aparência.
  - Concordo. - murmurou Nicole.
  Loura ou morena Nicole era linda.
  - Tenho algo para você. - disse eu para Nicole. Está lá na sala.
  - O que é?  - ela perguntou curiosa.
  Eu sorri.
  - Me acompanhe.
  Abri minha mochila que tinha deixado no sofá antes de me dirigir à cozinha e retirei de lá o envelope com o nome Nicole.
  Ela franziu a testa, ela fazia isso frequentemente.
  - São as fotos? - perguntou ela.
  Concordei.
  Entreguei a ela o envelope.
  Antes de abrir ele Nicole me deu um abraço, eu retribui. Meu coração estava agitado, ela podia ouví-lo, isso eu tinha certeza, e essa certeza só o agitava ainda mais.
  - Obrigada Pietro.
  Ela se afastou, sentou no sofá, abriu o envelope e tirou todas as fotos, ela olhou uma por uma. Eu fiquei em silêncio apenas observando-a.
  - Ficaram maravilhosas! - comentou ela.
  - Obrigado.
  Ela olhou diretamente em meus olhos, seu olhar prendeu o meu.
  - Não importa a opinião de seu pai, você nasceu para ser fotógrafo. É muito bom no que faz.
  - Obrigado novamente.
  Ela colocou as fotos de volta no envelope.
  Elise voltou da cozinha com um prato de biscoitos quentinhos. Ela fazia o curso de gastronomia.
  Em menos de quatro minutos o prato esvaziou.
  - Simplesmente deliciosos. - disse Nicole.
  - Concordo. - disse eu.
  Elise sorriu satisfeita com nossa avaliação.
  - Vocês foram os primeiros a provarem esta receita. - Elise falou.
  - Amo ser sua cobaia. - falei com um sorriso.

  Heitor chegou pouco antes do anoitecer, ele e Elise saíram para jantar. Heitor me disse que pretendia pedir Elise em casamento nesse jantar, eu dei total apoio, eu amava meu irmão, ele era uma das pessoas que eu mais amava no mundo e Elise era como uma irmã para mim, ela o fazia bem e vice-versa. Então eu estava na torcida para meu irmão pedir ela em casamento.
  Mas, no momento, eu estava na sala com Nicole. Ela parecia altamente concentrada lendo algumas páginas de um caderno dela, vez ou outra acrescentando algo a lápis.
  Eu fingia assistir, mas a maior parte do tempo eu a observava, eu queria guarda cada detalhe dela na memória, queria ter o máximo de detalhes possíveis na mente, ela iria embora logo e era isso que eu teria: detalhes dela guardados, lembranças, saudade e um coração quebrado. Queria ter coragem para confessar a ela o que eu sentia, mesmo que ela achasse loucura.
  - Pietro?
  - Oi. - olhei para ela.
  - Estava distante, parecia...triste.
  - Estava refletindo sobre a vida. - menti.
  Ela fechou o caderno.
  - Seria muito arriscado sair? - ela perguntou - Sabe eu pintei o cabelo, eu mesma estou me achando muito diferente.
  - Talvez. - ela mudou seu olhar para as mãos - Mas podemos arriscar, podemos não chamar atenção. Casais passeando pela cidade é algo banal.
  Ela sorriu, olhou para mim e franziu a testa.
  - Não somos um casal.
  - Nós sabemos disso, mas as outras pessoas não.
  O que eu não fazia por um sorriso dela?....

 

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