- Nossa mãe ligou hoje. - comentou Heitor aparentemente lendo o jornal. - Ela nos convidou para jantar lá.
Dei uma grande mordida em meu sanduíche e perguntei:
- Nosso pai estará lá?
- Pietro, não fale com a boca cheia!
Revirei os olhos.
- Vai ou não? - perguntei após engolir.
- Vai. - ele respondeu e abaixou o jornal - Isso muda sua opinião?
Não queria ir, eu e meu pai temos um relacionamento complicado. Mas, minha mãe... Fazia semanas que eu não a via.
- Vou, pela nossa mãe. - respondi - Não tem uma causa para ganhar?
- Trabalhei até as três da manhã para isso.
- Uau!
Ele riu.
- E você não tem um casamento para fotografar?
- Verdade. - olhei para o relógio e quase cai para trás. - Tenho que chegar lá antes das oito!
- E que horas são?
- Sete e vinte.
Heitor suspirou.
- Pega seus equipamentos, te dou uma carona.
..................
- Bom trabalho. - desejou-me Heitor quando desci na frente da mansão onde ocorreria o casamento.
- Para você também.
Bati a porta do carro forte o suficiente para receber um olhar fuzilante de Heitor antes que ele acelerasse e me deixasse sozinho.
O grande portão principal da casa estava decorado com rosas brancas e aberto. Tinha um segurança lá, mostrei o papel onde informava meu contrato com a cerimônia. Ele me deixou entrar.
Segui retas que diziam: casamento de Eric & Nicole.
Assim, cheguei ao espaço que deveria está ocorrendo o casamento. Os convidados estavam sentados, o noivo estava no altar, parecia aborrecido. Resumindo: ninguém parecia feliz naquele ambiente.
Cadê a noiva?
Acho que ela está bem atrasada pela expressão de todo mundo.
Finalmente alguém mais atrasado que eu!
Já que a noiva não aparecia, todo mundo estava com cara de tédio e eu não iria fotografar uma cena tão desanimada, resolvi dá uma olhada no ambiente, lugares que dariam um belo cenário para as fotos que eu tiraria, fotos que o professor ficaria orgulhoso...
O que é aquilo?
Uma corda improvisada com lençóis foi jogada de uma das janelas do primeiro andar da mansão. Ela parecia firme, eu podia apostar que logo alguém desceria por ali.
Sem que passasse um minuto após a corda improvisada surgir, uma bolsa foi jogada e caiu no gramado.
Eu devia voltar para o casamento, meu trabalho era tirar fotos do casamento, não assistir alguém descer por uma junção de lençóis. Mas aquela cena atiçou minha curiosidade de um jeito...
Só mais um tempinho, tem muitos fotógrafos, não vão notar sua ausência.
Fiquei esperando, esperando, esperan...
Uma perna surgiu, e outra. Fiquei perto de uma árvore para não ser visto pelo fugitivo...Um par de salto alto foi jogado também, fugitiva. Não demorou muito para eu notar que a fugitiva se tratava da noiva, seu vestido não deixava dúvidas. Ela descia rapidamente pela corda, tirei duas fotos de sua descida, não duvidava que ela já tivesse descido diversas vezes dessa mesma forma.
A noiva fugitiva chegou ao chão, pegou a bolsa no gramado e seu par de salto e então ela virou. Pude vê claramente seu rosto.
"Eu sabia que no dia que eu a avistasse eu a reconheceria, meu coração saltaria."
Foi o que aconteceu.
Meu coração disparou a mil por horas.
Dei dois passos para longe da árvore e fiquei a vista dela, era ela, a garota da foto.
Minha presença a assustou, sua expressão dizia isso, ela ficou me encarando, como uma criança pega em flagrante enquanto apronta.
Aquele rosto...Aqueles olhos...
O que eu faço?
Eu não sabia se meu coração pulava de alegria por depois de seis anos, finalmente encontrar ela, ou se quebrava por finalmente encontrar ela...Mas prestes a casar com outro.
A expressão no rosto dela se suavizou, ela começou a caminhar em minha direção.
O que vai fazer?
Só naquele momento que notei que apesar de manter a esperança viva de encontrar ela em meu coração, nunca cheguei realmente a acreditar que a encontraria. Era como manter um sonho considerado impossível, você anseia por aquilo, mas no fundo tem certeza que nunca se realizará.
Nunca foi tão difícil pronunciar um oi.
A medida que ela se aproximava, mais nervoso eu ficava. Ela parou em uma distância considerável para dois estranhos e perguntou:
- O que está esperando para ir me entregar?
- Te entregar? Não vou fazer isso.
Ela estreitou os olhos, não parecia acreditar nem um pouco em mim.
- Quem é você? E o que faz aqui?
A bolsa estava em suas costas, o par de salto permanecia em suas mãos.
Pietro, responda!
- Pietro. Fui contratado como fotógrafo para o casamento.
Ela parecia me avaliar.
- Bem, não haverá casamento. - afirmou ela.
Senti um alívio no coração.
- Não? Isso explica porquê o noivo está plantado no altar.
- Não diga a ninguém que me viu.
- Vai fugir do seu casamento?
- O que acha? - perguntou ela sorrindo.
O sorriso inesquecível.
- Nicole!
Uma voz se aproximava. A noiva se alarmou de novo.
Nicole...
- Tenho que ir. - disse ela.
- O que eu faço? Se me encontrarem aqui perto do local que indica seu desaparecimento vou ficar bem encrencado.
Ela bufou.
- Então você vai comigo, eu pago pelo seu trabalho não trabalhado.
- Nicole!
A voz estava mais próxima.
Não ia deixá-la ir sozinha. Quando finalmente a encontrei, ela iria para só Deus sabe onde. Não estava pronto para isso.
- Fechado. - ouvi minha boca pronunciar.
Ela pareceu satisfeita com a resposta.
Ela guardou agilmente os saltos na bolsa, levantou um pouco o vestido, disse:
- Venha, por aqui.
E então começou a correr. Corri atrás.
Entramos por um jardim que dava para um portão dos fundos. Mas estava trancado.
- Não faça essa carinha de que deu tudo errado. - disse ela olhando para mim - Eu trouxe a chave.
Fiquei em silêncio observando enquanto ela tirava a chave da bolsa e abria o portão. Saimos e ela fechou.
- Não acha que esse vestido chama atenção? Para quem está fugindo...
Ela olhou para o vestido e então para mim.
- Não tive tempo para retrocar de roupa, não vão demorar para notar que desapareci, então é melhor corrermos.
E foi o que fizemos.
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A Garota da Fotografia
RomanceSe apaixonar é algo normal, exceto quando alguém se apaixona por outra apenas por vê-la em uma foto... É exatamente isso que aconteceu a Pietro, se apaixonou por uma garota ao vê-la em uma fotografia...Uma garota que ele nunca havia visto na vida. T...