Capítulo XI

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  Não, não, não! Isso não podia ter acontecido, ela não podia ver aquele desenho...Como pude esquecer?!
  Nicole encarou por mais um tempo o desenho. Ela não parecia acreditar no que via. Então ela olhou para mim.
  - Eu posso explicar. - falei parado na porta.
  - Como...Eu...Pietro...
  Dei alguns passos em sua direção, mas ela recuou passo por passo.
  - Eu vou explicar, só, me escute.
  - Esse desenho...Foi das últimas férias que passei aqui. Lembro bem desse dia, foi há seis anos atrás, então comece a se explicar.
  - Nicole...Eu sou apaixonado por você desde meus dezessete anos.
  Ela franziu a testa e uma expressão confusa tomou seu rosto.
  - Você só pode está zoando com a minha cara. Fale a verdade!
  - Mas essa é a verdade! - rebati.
  Sentia que se não escolhesse as palavras certas, perderia qualquer mínima chance que poderia ter com ela. Isso era desesperador porque tudo que naquela hora me faltava eram palavras. 
  - Isso é impossível! - protestou ela - Não nos conhecíamos, a gente...- ela se interrompeu bruscamente e olhou para mim - Eu sabia que te conhecia de algum lugar...Eu até falei com você sobre isso...Você estava na praça naquele dia, você...
  - Fotografava um casal e você saiu em uma das fotos - a interrompi - E eu me apaixonei pela garota da foto.
  - Não, não se apaixonou.
  - Me apaixonei.
  - Não percebe o quanto isso é um absurdo?!
  - Por quê? Tanta gente se apaixona à primeira vista, porquê seria um absurdo me apaixonar por você só em te ver em uma foto?
  Ela me olhou incrédula.
  - Você acha isso normal?! Pietro, isso é loucura!
  - Então sou condenado por me apaixonar?
  - Ninguém se apaixona por alguém apenas por vê-la em uma foto!
  - Então eu sou uma exceção. - falei - Nicole, eu te procurei por todos esses anos.
  - Você sabia que eu ia me casar? Você foi como fotógrafo...
  - Não. - eu a interrompi - Eu não sabia. Eu quase não consegui segurar minha alegria quando finalmente te encontrei no seu casamento...Te vê vestida de noiva partiu meu coração, e ouvir você dizer que não se casaria o restaurou. Nesses anos mantive a esperança de te encontrar, eu imaginei centenas de possíveis encontros, mas em nenhum te encontrava fugindo de seu próprio casamento. Pode chamar de maluquice, chame do que quiser, mas o que sinto por você eu conheço por amor.
  - Não...Não é amor.
  - É sim. Acredite, por muitas vezes eu quis que não fosse, tudo que eu queria era te esquecer, mas eu nunca consegui. Pode parecer absurdo ou loucura, eu teria confessado antes o que sentia por você, mas sabia que acabaria assim. - suspirei - Nicole, eu te amo.
  - Não dá para acreditar...
  Apostei em uma nova tentativa de me aproximar, mas ela recuou novamente.
  - Sei que é muito, acho que se estivesse em seu lugar também acharia um absurdo, mas a vida é mais complicada e surpreendente do que qualquer ser humano pode imaginar.
  Ela começou a chorar.
  - Nicole...
  - Não se aproxime. - pediu ela ao perceber minha intenção de tentar novamente se aproximar.
  - Não vou te machucar. Sabe que eu nunca faria isso. Confie em mim.
  - Por favor, me deixa sozinha.
  - Pense sobre isso, por favor.
  Sai do quarto e fechei a porta atrás de mim.
  Bati duas vezes na porta do quarto do meu irmão. Ele abriu, Heitor falaria alguma piadinha, mas ao ver minha cara de decepção, arrebentada e inchada ele engoliu a piadinha e me perguntou em um tom preocupado:
  - O que aconteceu?
  - Eu me declarei.
  - E o que deu errado?
  - Ela viu um desenho dela em meu caderno de desenho antes da declaração.
  - Foi tão ruim assim?
  Meu silêncio foi o suficiente para ele me puxar para um abraço e dizer:
  - Esquece que te perguntei isso. Deve ter sido um choque para ela, e teve aquilo mais cedo que resultou nesse teu rosto cheio de hematomas, dê a ela um tempo para refletir sobre tudo isso. Não pode desistir dela depois de todos esses anos.
  - Você está certo, volte a dormir, boa noite.
  - Boa noite irmão. 
  Me deitei no sofá, mas não consegui dormir, meus pensamentos só me levavam à Nicole e pensar nela me tirava o sono, e tinha o fato de ter levado uma surra. Mas isso eu podia dá um jeito.
  Levantei peguei um Dorflex na farmácia do banheiro, passei na cozinha e enchi um copo de água. Engoli o comprimido.
  Voltei para o sofá.
  Queria que houvesse um remédio que curasse ou pelo menos amenizasse a dor que sentia no peito.

  Um barulho me despertou.
  Abri apenas o olho direito, já que o esquerdo estava inchado demais para abrir. Era Heitor.
  - Bom dia.
  - Bom dia. - respondi.
  - Liguei para a faculdade e disse que você não iria hoje, disse que estava doente.
  - Obrigado.
  - Fiz o café da manhã.
  - Ei, que horas são?
  - Oito e quinze. - ele respondeu olhando para o relógio em seu pulso. - Pietro, fale com Nicole. Tenho que ir trabalhar, tchau. - ele bagunçou ainda mais meu cabelo.
  - Tchau...Ei!
  Ele parou e virou para me lançar um olhar interrogativo.
  - Por que não fez o pedido? - perguntei - Por que não pediu Elise em casamento?
  - Porque tive medo da resposta que escutaria. Mas hoje eu a pedirei.
  - Bom trabalho, irmão.
  - Tchau Pietro.
                   ..........
  Pensei o que dizer a Nicole quando ela saísse do quarto, pensei muito, e cheguei a conclusão que o que eu podia dizer já havia dito.
  Foi mais ou menos de umas dez horas da manhã que ela saiu do quarto...Com a sua bolsa nas costas.
  - Obrigada por ter me ajudado, só peço que agradeça a Heitor por mim.
  Ela não podia ir embora.
  - Sabe que é loucura ir hoje. - falei - Eles estão te procurando, sabem que mudou a cor do cabelo, é muito arriscado.
  - Vou correr o risco.
  Ela virou-se e começou a caminhar em direção à porta. Em poucos passos a detive pelo braço e a encostei na porta. Ela não esperava isso, seu olhar surpreso a denunciou.
  - Me solta.
  - Não.
  - Vai me prender?! Vai me manter aqui? Me deixe ir embora.
  - Não vou machucá-la. Nicole eu imploro que me escute. Por favor, me escute.
  - O que sente por mim se chama obsessão.
  Balancei a cabeça.
  - O que sinto por você é amor. - nossos rostos estavam bem próximos - Eu só quero que escute o que tenho a dizer, depois você decide o que quer fazer. Por favor.
  - E o que tem a dizer?
  - Eu esperei anos para te encontrar e finalmente te conheci, e...Eu não me arrependo de ter passado esses anos sem desistir de te encontrar. Tudo que desejo é que seja feliz, mesmo que isso signifique está longe de você. Amar significa querer o melhor para a pessoa que se ama, querer a sua felicidade. Nicole, eu vou te ajudar a fugir, só peço que espere até amanhã, confie em mim. - ela olhava para mim - Vou te tirar da cidade. Só mais um dia, é isso que te peço. Mas se quiser sair agora eu não vou te impedir.
  Me afastei e a deixei escolher.
  A deixei sozinha e fui para cozinha.
  Ouvi a porta abrir. Achei que a dor que sentia no peito não podia piorar.
  Estava muito enganado.
  Ouvi novamente o rangido da porta. Queria muito ir atrás dela, mas eu a deixei escolher.
   Queria que aquilo fosse um pesadelo terrível.
  - Mais um dia. - ouvi Nicole dizer. Sua voz trouxe um alívio imenso para meu coração.
  Virei e a vi em pé na porta da cozinha.
  - Achei que...- deixei o resto da frase sem ser dita. Agora só o que importava era que ela tinha decidido ficar.
  - Como vai me ajudar a fugir?
  - Deixe comigo. Amanhã você estará longe daqui, e livre para seguir o destino que lhe for desejado.

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