Capítulo XXII

71 7 0
                                    

Se acalme, vai dar tudo certo.
Relaxe, Pietro controle esta ansiedade.
Faltavam quinze minutos para começar, quinze minutos.
- Pietro, calma. - disse Nicole com um sorriso tranquilizador - Vai dá tudo certo.
- Estou calmo...Um pouco calmo.
- Você é excelente, e o melhor fotógrafo que já conheci e vai dar um show na sua apresentação.
- Como tem tanta certeza? - perguntei preocupado.
- Porque sei sua capacidade, sei que é normal ficar nervoso com um momento tão importante, mas tente se acalmar, confie em você.
- Tenho medo de decepcionar você, o Heitor, a Elise, minha mãe, sua mãe, meus amigos...
Ela me calou com um beijo suave que acalmou cada nervo do meu corpo.
- Ei, - disse ela com a testa encostada na minha - você vai arrasar, tenho certeza, tenho muito orgulho de você, meu amor.
Dei um beijo nela.
- Obrigado, obrigado por tudo, por me acalmar, por está comigo.
Acariciei seu rosto.
- Eu te amo.
- Também te amo.
- Vou me juntar a sua família e minha mãe, respire fundo e mostre do que é capaz e porquê escolheu fotografia. Arrase.
  Ela saiu da sala onde eu estava, fiz o que ela disse, respirei fundo. Esperei o professor ir chamando todos os nomes dos alunos de minha sala até chegar em:
  - Pietro Barcellos.
  Você consegue, você consegue.
  Antes de sai da sala, dobrei o papel em que escrevi minha apresentação, enfiei no bolso da minha calça e então sai.
Como esperava o local estava lotado, assim que apareci ao lado da minha turma minha mãe acenou para mim e me mandou beijo. Ao lado dela estava Heitor que estava de mãos dadas a Elise. Nicole estava do outro lado da minha mãe, com sua mãe. Cássio estava ao lado de outros amigos meus.
  O professor falou um pouco, e então cada um da turma foi em direção ao seu trabalho, por ordem alfabética os trabalhos começaram a ser apresentados, eu era o antepenúltimo a apresentar.
  Eu estava tranquilo, ou pelo menos tentando me manter tranquilo, era apenas mais um trabalho, não precisava voltar a ficar nervoso. Só que eu vi meu pai entrando na galeria e senti um desespero tomar conta de mim, Heitor foi até ele, falou algo perto de seu ouvido, meu pai acenou para ele e foi para perto de minha mãe observar o trabalho de Bianca, uma das garotas de minha turma.
  Meu irmão veio até mim.
  - O que ele tá fazendo aqui? - perguntei.
  - Eu o convidei. - disse Heitor.
  - Você fez o quê?
Falávamos um pouco mais alto que um sussurro para não atrapalhar os trabalhos.
  - Ele é o nosso pai, Pietro, sei que ele errou com você, mas conversei com ele estes dias, ele sente sua falta, ele quer recomeçar. Acredite, se ele não mostrasse mudança em seu comportamento absurdo eu não o chamaria, mostre a ele que você nasceu para fotografar.
  - Tá. Tá bem. Volte para perto da Elise.
  - Sucesso.
  - Obrigado.

  Se passou quase uma hora para enfim chegar em meu trabalho, vê todos se dirigindo para focar toda a atenção em mim me deixou nervoso, mas vi minha família, meus amigos, Nicole e a presença deles me tranquilizou.
Assim que todos sentaram-se e acomodaram-se eu decidi que havia chegado a hora de iniciar.
  Mas antes de começar, virei para encarar minha linha do tempo formada por diversas fotos minhas, sozinho, com amigos, com minha família, com Nicole. Ela começava com uma foto do meu nascimento e terminava com uma foto criando a própria linha do tempo.
  Era a hora.
  Virei para todos que esperavam minha apresentação e então comecei:
  - A vida é feita de momentos, a partir do instante em que nascemos, há o primeiro choro, o primeiro sorriso, os primeiros passos, a primeira travessura, a primeira palavra, essas coisas são marcantes, são únicas, o primeiro ano de aula e o baile de formatura, uma festa onde toda a família se reúne, um encontro com velhos amigos. Momentos...Nós, seres humanos, colecionamos momentos, recordações, colecionamos até o dia em que nos tornamos uma...Gostamos de registrar, lembrar, de congelar as partes boas da vida, as partes que consideramos inesquecíveis. Podem perguntar o que isso tudo tem haver com fotografia, eu respondo:tudo. Quando você fotografa, você guarda momentos, você guarda sentimentos, você congela uma parte de sua vida, você faz história. Escolhi fotografia porque nasci para fotografar, porque é o que amo fazer. - olhei para meu pai - Porque saber que dentro de uma foto, um papel retangular, há tanto, me fascina. Eu encontrei o amor da minha vida em uma fotografia, se eu não tinha motivos para amar essa profissão, há seis anos atrás ganhei um. - todo mundo sorriu - Meu trabalho de conclusão foi a linha do tempo da minha vida, meus vinte e três anos, contados por fotos, - tirei um envelope de um dos bolsos da minha calça e tirei dele a última foto que tinha tirado naquele dia, há duas horas atrás com Heitor, Nicole, Elise, minha mãe, dona Laura e Cássio. - Esta foi a última foto que tirei hoje, e um dia tão importante como esse não podia ficar fora da minha linha do tempo. - coloquei ela após a última foto da linha - Agradeço a presença de todos.
  As pessoas começaram a aplaudir, meus professores me deram parabéns, minha mãe me deu um abraço bem forte.
  - Estou muito orgulhosa de você, querido. - disse ela me dando um beijo na bochecha.
  - Obrigado mãe.
  Minha mãe deu espaço para Nicole que me deu um beijo e me deu um abraço.
  - Eu te disse que você arrasaria, meu amor, você me fez chorar.
  - Vou recompensá-la por isso.
  Ela sorriu.
  - Acho bom. - eu a beijei - Parabéns Pietro.
  Nicole se afastou e foi a vez de Heitor de me dá um abraço, então Elise, minha sogra e logo depois Cássio, outros amigos também. E então vi meu pai, ele se aproximou de mim.
  - Preciso falar com você. - disse ele.
  Eu queria dizer que não queria falar, que ele fosse embora, mas estaria mentindo, eu queria falar com ele, queria que ele estivesse feliz por mim também, queria que ele me abraçasse.
  Olhei para minha mãe, depois para o meu irmão. Eu sabia que eles queriam que eu falasse com ele. Então apenas concordei com um aceno de cabeça.
  - Não aqui, vamos até a outra sala.
  - Tá.
  Eu o segui até a sala em silêncio, estava praticamente vazia.
  - O que quer? - perguntei.
  - Pietro...O que tenho para te dizer...O que quero falar é...
  Eu sabia que ele estava esmagando o seu orgulho para vim falar comigo, eu sabia porque era difícil, mas não facilitaria.
  Ele suspirou e então tentou recomeçou a falar:
  - Pietro, eu sei que fui muito duro com você, sei que deveria ter respeitado sua escolha, o caminho que escolheu, mas sempre fui cabeça dura e queria decidir sua vida por você, eu achava que te levaria para um caminho melhor e não aceitei quando você disse que não mudaria seus sonhos pelo que eu queria, quando se negou a me obedecer, eu errei, Pietro, e há oito anos pago por isso, eu perdi você, eu perdi uma das pessoas que mais amo nesse mundo por orgulho. Esperei três meses para te dizer isso, abri mão do meu orgulho porque ele só te afastou de mim, eu sinto sua falta, sinto falta sua filho, eu te magoei e me magoei, eu te machuquei, eu sei disso, mas saiba que sofri com o abismo que eu mesmo criei nos separando, eu falhei, falhei como pai para você, falhei com nossa família, ah...Pietro, eu me arrependo tanto.
  - Por que agora? Por que depois de oito anos?
  - Porque da última vez que discutimos você disse que eu não me importava com nossa família, passei dias com essa frase em minha cabeça, eu me importo, só estava demonstrando do jeito errado. - ele se aproximou mais de mim - Pietro, não posso pedi que me perdoe porque acredito que o que fiz não tem perdão, mas estou aqui hoje, e te peço mais uma chance, quero ser o pai que você merece.
  - E qual é o pai que mereço?
  - Um que diga: Pietro, você foi fantástico em sua apresentação, seu trabalho de conclusão foi excelente, eu tenho muito orgulho de você e o amo muito.
  Eu só notei que estava chorando quando ele enxugou uma lágrima que descia por meu rosto, depois ele me abraçou. Eu esperava por aquele abraço a anos.
  - Por favor não me faça se arrepender. Eu te amo pai.
  Ele apertou mais o abraço.
  - Não vou. Não vou perdê-lo de novo, nunca mais.
  Foi essa cena, nós dois abraçados, que Heitor viu quando chegou na sala.
  Nós nos afastamos.
  - Está tudo bem? - perguntou Heitor.
  - Pela primeira vez em anos está. - disse meu pai.
  Enxuguei meu rosto.
  - Está. Está tudo bem. - falei.
  - Graças a Deus. Vocês se reconciliaram, esse era um dos meus maiores sonhos. - disse Heitor.
  Eu sorri.
  Heitor veio até nós, e então nós três nos abraçamos.
  Nos juntamos a minha mãe, Nicole, dona Laura e Elise. Minha mãe abriu um largo sorriso ao vê eu, Heitor e meu pai andando juntos. Após o fim dos trabalhos fomos para casa dos meus pais, e pela primeira vez em oito anos eu me sentia em casa, eu estava feliz, extremamente feliz, eu me sentia completo.
  Eu estava na varanda, perdido em meus pensamentos quando Nicole saiu ao meu encontro.
  - Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou.
  Eu puxei Nicole para um abraço e ela sorriu.
  - Aconteceu.
  Ela ergueu a cabeça e me olhou preocupada.
  Tratei logo de sumir com aquelas ruguinhas na testa dela:
  - Eu encontrei a garota mais linda, extraordinária e maravilhosa do mundo, e eu a amo profundamente e da forma mais pura que alguém pode amar.
  - A cada batida do meu coração eu te amo mais, Pietro.
  Eu segurei seu rosto com a mão e lhe beijei intensamente.
  - Eu estou tão feliz.
  - Eu também.
  - Vamos entrar, minha mãe preparou minha sobremesa favorita e vamos aproveitar a noite com nossa família.
  - Nossa?
  - Você é minha namorada e eu pretendo que logo seja minha noiva e depois minha esposa. Vou resumi: Quero viver minha vida inteira com você, então, já te considero da família.
  - Acho que me acostumo com o sobrenome Barcellos. - disse ela.
  Eu sorri.
  - Pode ir se acostumando com a ideia.
  Entrelacei sua mão a minha e a puxei para dentro.
  Aquela noite, naquele momento, eu sentia, eu tinha certeza, que eu era a pessoa mais feliz do mundo.
      
                  
                           Fim
 
 
 

A Garota da FotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora