obs:Por causa de alguns problemas o capítulo cinco ficou antes do quatro.
A casa dos meus pais.
Durante todo o trajeto até lá, tudo que eu queria era ir de volta para o apartamento. Essa era a parte racional falando, meu cérebro sabia que não era nada bom ir, mas meu coração, ele apelava com o sentimento, saudade e amor, era o que sentia pela minha mãe. E agora, dentro do carro, olhando para a casa onde passei minha infância e adolescência, sabia porquê não mudei de ideia, porque meu coração venceu. Como sempre. E eu sabia que eu pagaria por ouví-lo, sempre pagava. Então respirei fundo antes de descer do carro, minhas pernas doíam, consequência da corrida mais cedo.
Heitor tocou a companhia, passos apressados se aproximaram e então a porta se abriu e um sorriso enfeitou o rosto de minha mãe.
Saudade daquele sorriso.
Ela nos abraçou ao mesmo tempo.
- Meus meninos!
Dei um beijo em sua bochecha.
- Estava com saudade. - disse eu.
- Eu também. Dos dois. Mas você Pietro, ainda vejo menos que Heitor.
Ela passou as mãos por meus cabelos, como costumava fazer quando eu era criança.
- Entrem.
Obedecemos.
Meu pai ainda não estava em casa.
Minha mãe foi até a cozinha, tinha deixado algo no forno, segundo ela.
- Pietro, para onde a garota vai quando ela for embora?
- Eu não sei. Acho que nem ela mesma sabe. Mas ela disse que vai embora amanhã.
- É por isso que está aborrecido?
- Não estou aborrecido.
- Sou seu irmão, Pietro, sei exatamente quando está aborrecido.
- Tá, eu estou, mas isso não vai mudar nada, amanhã ela vai embora e...
- Não vai dizer a ela o que sente.
- Seria maluquice.
- Seria, mas estava apaixonado por ela, antes mesmo de conhecê-la já não é maluquice?
- Não tenho coragem.
- Talvez seja sua única chance.
- E o que acha que aconteceria? Ela acharia que sou algum tipo de psicopata. Ou louco. Esquece Heitor, ela não vai saber.
Ele cruzou os braços.
- Você vai se arrepender.
- Cale a boca.
- Meninos, venham para mesa! - gritou mamãe, provavelmente da sala de jantar.
Me sentei ao lado de minha mãe, Heitor na cadeira a minha frente. Antigamente jantávamos apenas quando meu pai chegava, mas acho que minha mãe sabia que quando ele chegasse eu logo iria. Começamos a jantar sem ele.
A porta da frente fez ruído. Ele chegou.
Aproveitei os últimos minutos ao lado de minha mãe antes que ele se juntasse a nós.
Ele não falou comigo quando sentou a mesa. Era melhor assim.
Por uns cinco minutos achei realmente que por uma noite, seríamos uma família...Feliz.
Eu era bastante iludido.
Logo avisando, foi ele que começou:
- Então Heitor, como vai o trabalho?
- Bem. Ganhei dois casos este mês.
- Que orgulho!
Minha mãe olhou para mim, seu olhar implorava para que eu ficasse quieto. Fiquei.
Ele continuou:
- Se seu irmão fosse um pouco inteligente teria seguido o mesmo caminho.
A carne que engoli desceu rasgando.
Minha mãe lançou um olhar de reprovação para meu pai.
- Pai...- Heitor falou quase em um sussurro.
Ele ignorou ambos.
- Não gosta de ouvir a verdade Pietro? Enquanto seu irmão tem prestígio, apartamento, carro e dinheiro, você não tem nada, vive nas custas de Heitor!
- Isso não é verdade. - protestou Heitor.
- Pare com isso Will! - pediu minha mãe - Quero pelo menos terminar o jantar em paz.
Meu sangue fervia.
- Fotógrafo. - ele cuspiu a palavra com desgosto - Não é uma profissão digna! Minha maior decepção!
Foi aí que explodi.
- Eu não sei porquê insisto em vim aqui! - levantei da cadeira - Sempre é a mesma coisa, desculpe pai se sou uma decepção, mas nunca, nunca eu iria escolher uma profissão só para lhe agradar. Nunca vou me arrepender de minha escolha!
- Pois devia, não vai chegar a lugar algum com isso, no máximo envergonhar a mim, a nossa família!
- Família? Você não se importa com sua família, apenas com status, você quer mandar em nossas vidas, mas na minha não vai mandar!
O rosto dele estava vermelho.
- Pai, Pietro, parem com isso. - pediu Heitor.
- Não admito que fale comigo nesse tom! Muito menos em minha própria casa.- gritou meu pai.
Agora ele também estava em pé.
- Pois bem, já ia embora mesmo. Não se preocupe sr.Will, eu não voltarei a pisar em sua casa.
- Ótimo!
Me retirei da sala de jantar, minha mãe correu atrás de mim.
Parei quando ela segurou em meu braço.
- Pietro...
Dei um beijo na testa dela.
- Desculpe mãe. Todos sabiam que esse jantar resultaria nisso. Não adianta, nunca vamos voltar a nos entender.
- Não diga isso.
Lhe dei um abraço e um beijo na bochecha.
- Tchau mãe.
Da casa dos meus pais até o apartamento era um longo caminho, principalmente a pé. Heitor ligou para mim umas cinco vezes. Não atendi nenhuma.Cheguei no apartamento depois de uma horas de caminhada.
Nicole estava deitada no sofá, ela sentou ao me vê.
- Não achei que chegaria tão cedo. - comentou ela.
- Eu tinha certeza que chegaria.
Sentei no outro sofá.
- Você está bem? - perguntou ela.
- Estou.
Ela segurava meu caderno de poemas, olhei para ele e depois para Nicole. Ela olhou para o caderno e depois para mim.
- Você tem uma bela caligrafia. - elogiou.
- Como sabe que é minha letra?
- Porque embaixo de todos os poemas tem assinado Pietro Barcellos. - justificou ela.
As assinaturas, como eu poderia esquecer.
- Claro.
Ela riu.
- Seus poemas são lindos.
- Obrigado.
- Gostei de todos. - prosseguiu ela - Mas um me chamou atenção.
- Qual?
- Deixa eu procurar... - ela voltou algumas páginas - Achei!
Ela começou a recitar em voz alta:
- " Eu te procuro, nos sonhos, nas ruas, nas esquinas, em qualquer lugar. Eu te procuro incansavelmente, preciso te achar. Você levou meu coração, minha razão e meu sossego.
Ah menina de belo sorriso, um dia te encontrarei, eu sei, e nesse dia você já não será apenas uma fotografia."
Meu coração estava acelerado. Aquele poema eu tinha escrito para ela, como vários outros.
- É romântico, e também triste. - comentou ela. - Me diz, um dia ele vai encontrar ela?
Ele já encontrou. A garota é você.
- Espero que sim. - respondi.
- Eu também.
- Não está cansada? Você teve um dia longo.
- Você também. É, estou um pouco cansada.
- Você tem que descansar, amanhã vai embora e precisa de energia. Eu vou pegar umas coisas no quarto e você pode dormi lá.
- Não, eu durmo aqui mesmo.
- Nem pensar. Espere um instante.
Fui até meu quarto. Peguei um lençol para mim, escondi meu bloco de desenho que continha alguns desenhos de Nicole, troquei a calça jeans por uma calça de pijama e a camisa por uma camiseta. Voltei para sala.
- Espero que durma bem. - disse a ela colocando meu lençol no sofá.
Ela sorriu e meu coração perdeu o compasso. O sorriso dela era incrível, para mim era como vê o pôr-do-sol a beira mar.
- Boa noite Pietro.
Me sentei no sofá.
- Boa noite Nicole.
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A Garota da Fotografia
RomanceSe apaixonar é algo normal, exceto quando alguém se apaixona por outra apenas por vê-la em uma foto... É exatamente isso que aconteceu a Pietro, se apaixonou por uma garota ao vê-la em uma fotografia...Uma garota que ele nunca havia visto na vida. T...