Capítulo XV

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  Cássio foi embora, também já tinha me ajudado muito em um único dia. O delegado se manteve sentado em seu gabinete, Nicole estava em pé ao meu lado esquerdo e Heitor estava ao meu lado direito.
  A porta da sala abriu e todo mundo na sala olhou para quem entrava.
  Nicole estremeceu.
  Uma mulher e um homem entraram em silêncio. O homem estava de terno, gravata, barba feita, o cabelo um dia foi escuro como o da filha, mas hoje, tinha seu toque grisalho. A mulher tinha o cabelo mais claro, com um vestido marrom até os joelhos. O pai de Nicole fechou a porta e olhou para ela. Não identifiquei o que aquele olhar queria passar, mas Nicole entendeu, pois deu um passo para mais perto de mim. A mãe dela lhe lançou um olhar de reprovação.
  - Nicole, - começou a mãe dela - o que deu em você? Eu estava tão preocupada, eu...- Nicole a interrompeu lançando um braço para frente como se dissesse "pare".
  - Sem cena mãe, nós duas sabemos que não estava preocupada.
  - Estava sim!
  - Não, não estava.
  - Cale-se Nicole! - ordenou o pai - Não responda sua mãe.
  - Tenho que me calar e ouvir todo o teatro? Dá um tempo.
  O pai dela lhe lançou um olhar fuzilante.
  - Nicole, não teste minha paciência. - ele avisou.
  - E você sabe o que é isso? - retrucou ela. - Estão com raiva porque fugi e estraguei o negócio de vocês.
  - Nicole...- disse o pai dela entredentes.
  - Não, vocês vão me escutar, nunca fui nada para vocês sempre se importaram apenas com trabalho e dinheiro, sempre. O meu casamento com o Eric seria apenas mais um negócio para vocês.
  - Você aceitou se casar. - disse o pai dela se contendo para não gritar.
  - Sobre pressão! - falou ela - Seria a maior besteira que faria em minha vida. Sei que não se importam, mas eu quero ser feliz, e não seria ao lado do Eric.
  - Que baboseira. - falou o pai irritado - Nicole, seu ato foi irresponsável.
  - Não. Foi um ato corajoso.
  - Você está fora de si.
  - Não estou, não.
  - Nicole, - falou a mãe dela, forçando uma paciência que não tinha - pare de nos confrontar. Vamos para casa dos Vicents, conversaremos melhor lá.
  - Eu não vou para lugar algum!
  O pai de Nicole perdeu a paciência - se é que em algum momento teve - e avançou para cima de Nicole, mas fui mais rápido e fiquei entre ele e sua filha. Recebi um olhar mortal dele.
  - Saia da minha frente! - gritou ele.
  - Me obrigue.
  Ele partiria para cima de mim, mas o delegado se levantou e bateu as palmas de suas mãos na mesa fortemente fazendo todos olharem para ele.
  - Não quero confusão em minha sala. - disse ele - Então é melhor acalmarem os ânimos.
  O pai de Nicole, que estava com o rosto vermelho que nem tomate, bufou e se afastou.
  - Desculpe delegado. - pediu ele - É que minha filha me tira do sério.
  A mãe dela se aproximou.
  - Nicole, por favor, venha conosco.
  - Não creio que tenha mais nada para falarmos. Eu não vou me casar com o Eric, espero que esteja bem claro.
  - Por favor, filha, por favor. - a mãe dela tinha nos olhos súplicas.
  Nicole olhou para mim.
  - Irei se você for. - disse ela.
  - Estarei com você.
  Ela lançou um meio sorriso.
  Nicole suspirou.
  - Tá. Eu vou com Pietro.
  - É assunto de família. - praticamente rosnou seu pai.
  - Eric estará lá. E ele não faz parte da família. Se Pietro não for, eu não irei.
  - Leve quem quiser. - disse o sr. Carvalho a ponto de estrangular qualquer ser.
  Olhei para o delegado.
  - Estou liberado?
  - Tá.
  Acho que o delegado faria de tudo para aquilo chegar ao fim.
  Heitor levantou e deteve-me pelo braço antes que eu seguisse Nicole.
  - Não se meta em novas confusões.
  - Me esforçarei para isso.
  Nicole me esperava lá fora.
  Heitor saiu logo atrás, se despediu de nós e foi embora. Entramos no carro do pai dela.
  O caminho inteiro foi dominado por um silêncio maravilhoso. Era como se todos temessem que uma palavra acionasse uma bomba prestes à explodir.
  Nicole pareceu pensativa todo o caminho, até quando descemos do carro e nos dirigimos bem atrás dos pais dela para dentro da mansão.
  O mesmo local onde ocorreria o casamento a alguns dias atrás.
  Mal entramos e avistei o ex-noivo de Nicole sentado em um sofá preto. Seu calcanhar direito estava apoiado em seu joelho esquerdo. Ele nos encarou.
  - Nicole. - disse ele.
  - Eric. - falou ela. - Então, o que ainda resta para falarmos?
  Ela acionou a bomba.
  - Você não pode cometer erros e achar que está tudo bem. - falou o pai de Nicole.
  - Não cometi erro algum. - retrucou ela. - Mas cometeria.
  - Você fugiu...Nicole, você deixou o Eric no altar, na frente de todos os amigos de nossas famílias! - jogou a mãe.
  - Eu estava desesperada. - disse Nicole - E fugir foi a melhor escolha. Eu não queria nada daquilo para mim.
  - Poderia ter falado comigo. - entrou Eric na conversa - Aquela cena foi humilhante.
  - É melhor ficar calado, Eric Vicents, afinal, você teve grande peso em minha decisão. - disse Nicole dirigindo-se ao ex-noivo. - Eu vi você e sua amante.
  Eric pareceu se engasgar com a  confissão.
  - Você prejudicou seus pais. - disse Eric após recompor-se da surpresa.
  - Sabe que toda nossa fortuna um dia será sua. - disse sra.Carvalho.
  - Eu não quero. Não me culpem por serem cegamentes ambiciosos, eu não quero o dinheiro de vocês.
  Sr.Carvalho lançou para a filha um olhar furioso.
  - Sabe o que mais, - continuou Nicole - eu não quero me tornar alguém como vocês.
  A bomba explodiu ali, em silêncio, todos fomos atingidos, o silêncio perdurou dois minutos.
  - Esqueça que é minha filha. - disse o pai dela como se explodisse outra bomba, mas essa só atingiu Nicole, o impacto daquelas palavras ficaram expressas no rosto dela...E nas lágrimas que desceram de seu rosto.
  Como ele era capaz de dizer isso a sua única filha?
  Nicole deu as costas e começou a caminhar em direção à porta.
  - O senhor se arrependerá de dizer isso a sua filha. - disse eu.
  - Por acaso está me ameaçando? Achou pouco os hematomas que ganhou?
  - Não estou lhe ameaçando sr.Carvalho, só lhe informando.
  Alcancei Nicole já perto do portão.
  - Nicole...
  Ela virou e me deu um abraço, enterrou seu rosto em meu peito e sentiu meu coração pulsar aceleradamente. Retribui o abraço.
  - Ele falou aquilo porque estava irritado. - disse eu.
  - Não. Ele não falou. - sua voz era abafada pela minha camisa.
  Ela se afastou e segurou em minha mão.
  - Vamos embora.
  - Vamos.
  Fomos embora...
                              ...De mãos dadas

 

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