Achei que não dormiria rapidamente, achei que meus pensamentos não permitiriam que o sono me tomasse. Foi só quando acordei com a luz do sol atravessando as cortinas brancas da sala que me dei conta que não demorei nada para cair no sono. Nem ao menos vi meu irmão chegar.
Durante todo o período em que preparávamos o café da manhã Heitor não mencionou nada sobre o jantar de ontem. Era melhor assim.
- Não vai para faculdade? - ele perguntou enquanto tomava sua dose de cafeína, quente e meio amargo.
- Hoje não tenho aula. - respondi.
- Você contou a ela?
Apoiei minhas mãos no balcão da cozinha.
- Não. Para quê? Heitor, ela vai embora, talvez eu não volte a vê-la, e dizer em voz alta a ela só me trará mais dor. É melhor como está.
Ele tomou mais um gole de seu café.
- A escolha é sua.
Eu iria dizer mais alguma coisa, mas vi a porta do meu quarto se abrir e ela surgir, de camisa de manga curta e branca, com a frase "I believe of the love". E um short jeans, seu cabelo estava preso em um rabo-de-cavalo. Eu iria responder ao meu irmão, mas simplesmente a frase se embaralhou em minha mente quando a vi.
- Bom dia. - disse Nicole.
- Bom dia. - respondemos eu e Heitor em uníssono.
- Durmiu bem? - perguntei.
- Sim.
- Irá tomar café conosco? - Heitor perguntou - Não se preocupe, nossa mãe só nos deixou sair de casa após ter certeza que sabíamos cozinhar.
Nicole riu.
- Gostei da mãe de vocês.
Ela se aproximou da cozinha.
- Não tive a oportunidade de agradecer a você Heitor, por ter concordado com o Pietro a me deixar passar a noite aqui.
- Não tem de quê.
Nós três nos sentamos a mesa para tomar o café da manhã. Heitor terminou primeiro, se despediu de nós e foi trabalhar.
Lavei os pratos e Nicole enxugou-os.
- Para dois homens, vivendo sozinhos, a casa é extremamente organizada. - disse Nicole, agora estava sentada na poltrona do meu quarto enquanto eu escolhia uma roupa no guarda-roupa.
- Minha família materna tem um hábito peculiar, ou se preferir obsessão, relacionado a limpeza, herdamos isso. E o Heitor é irritantemente organizado, acabei me habituando a organização.
Tirei do guarda-roupa uma camisa preta de manga curta e uma bermuda.
- Vocês se parecem bastante.
- Todos dizem isso, exceto meu pai. Vai mesmo embora hoje?
- Sim. Meu lugar não é aqui.
Não queria que ela fosse, mas eu não podia interferir.
- Ah, claro. E de horas pretende ir?
- Agora.
O quê? Não, não, não! Agora?
- Agora?
- Uhum. Meu pai já deve ter colocado alguém para me procurar. Eu preciso ir o quanto antes.
Ela levantou e caminhou até mim.
- Eu mal te conheço Pietro, mas você fez mais por mim do que muitas pessoas que conheço durante toda a vida. E sou muito grata por isso.
Ela me abraçou. Eu retribui. Seu abraço era tão bom, se eu pudesse não a soltaria. Mas eu não podia.
- Faça uma boa viagem e encontre um caminho que te traga felicidade.
- Obrigada.
Ela colocou sua mochila nas costas e saiu do quarto.
Joguei a roupa que tinha escolhido na cama e fui atrás dela.
- Espero que algum dia nos esbarremos por aí. - disse ela.
- Eu também.
- Deixei meu número em um papel, em cima de sua cômoda.
- Tá certo.
- Tchau Pietro.
- Tchau.
Ela passou pela porta, e eu fiquei lá vendo a garota que sou apaixonado ir embora, entrar no elevador. Por que amar não podia ser mais simples e menos doloroso?
Fechei a porta e comecei a caminhar em direção ao meu quarto. Mas o toque de meu celular me fez dá meia volta e caminhar até o sofá onde ele estava.
Era o Heitor.
Senti uma pontada no estômago, ele nunca ligava do trabalho, a menos que fosse urgente.
- O que aconteceu? - perguntei ao atender.
- Me diz que a Nicole ainda está aí.
- Não está, ela acabou de sair.
- Corra atrás dela, faça ela voltar e depois ligue a TV.
- Heitor, o que aconteceu?
- Vá logo!
Desliguei e sai feito louco do apartamento. Fui até o elevador, mas estava ocupado, no 4°. Não perdi tempo, desci correndo a escadaria que parecia não ter fim e quando finalmente cheguei no térreo, Nicole estava quase saindo pela entrada principal.
- Nicole! - gritei.
Ela virou-se e ao me vê veio até mim.
- Esqueci algo? - perguntou ela.
- Precisa voltar comigo para o apartamento.
Ela cruzou os braços.
- Por quê?
- Não sei exatamente, mas meu irmão ligou e acredite, ele não liga para mim do trabalho se não for algo urgente, ele pediu para que voltasse e para eu ligar a TV.
- Tá. Eu volto.
De volta ao apartamento liguei a TV. Heitor tinha mandado uma mensagem com o canal que eu devia colocar.
O que passava me fez cair sentado no sofá, Nicole também sentou ao meu lado. Sua expressão era indecifrável.
Éramos nós dois, filmagens de quando corríamos pelas ruas fugindo. Claro que quem se destacava era ela com o vestido de noiva e descabelada, mas eu não passava despercebido. E o momento que a filmagem pegou foi justamente quando eu puxava Nicole pela mão, para quem não estivesse por dentro da história dava para subentender que eu estava forçando-a a ir comigo, mas na verdade ela pediu para lhe dá uma mãozinha, ela estava bem cansada nesse momento.
Aumentei o volume e ficamos em silêncio, encarando a tela e ouvindo a notícia:
" Há algumas suspeitas sobre o desaparecimento da noiva Nicole Carvalho, de vinte e dois anos, uma é que ela poderia ter tido um surto de pânico pré-casamento - disse a repórter."
- Ótimo, agora sou vista como uma louca fugitiva.
" Mas também, há suspeita de que Nicole tenha sido levada pelo desconhecido que aparece nas filmagem, a família não o conhece."
- E eu como sequestrador de noivas. Isso é ridículo!
A reportagem cortou da filmagem para uma garota que se parecia bastante com Nicole.
- Essa é minha prima. - disse Nicole apontando para garota na TV. - Mia. Nós não nos damos tão bem.
- Não consigo entender, - disse Mia - Nicole parecia feliz com o casamento.
- Feliz?! - indagou Nicole.
"Caso alguém tenha informações sobre Nicole ou sobre o homem que aparece na filmagem entre em contato com a família Carvalho."
Desliguei a TV.
Ficamos em silêncio por alguns instantes, encarando a TV desligada, até Nicole levantar e começar a andar de um lado para o outro e começar a falar:
- Surto de pânico?! - ela riu secamente - Pré-casamento? Quem será que inventou isso? E a câmera me flagrou em um péssimo ângulo! Fiquei parecendo uma louca fugindo de um manicômio!
Ela continuava naquele vaivém me deixando meio tonto.
Eu queria dizer que na verdade, ela realmente parecia ontem uma louca fugindo do hospício, uma louca linda. Mas me contive. Também contive uma risada ao ela parar bruscamente, sentar no sofá e me olhar com uma cara frustrada. Como ela conseguia ficar linda mesmo irritada? Suas bochechas estavam vermelhas.
- Meu Deus! Eu nunca mostrei está feliz ao lado do Eric! - exclamou ela.
Ela enterrou o rosto nas mãos e por breves segundos pensei que estivesse chorando, mas não, ela sorria.
- Meu pai acha que colocar na televisão minha fuga e meu rosto vai me fazer voltar e quem sabe casar com o Eric. Ah, não vou mesmo. Ainda darei um jeito de sair da cidade.
- Ele está preocupado com você.
- Não, ele não está. Ele sabe que fugi porquê quis. Eu o conheço muito bem. Se eu aparecer ele me fará casar, nem que seja arrastada.
- Ele não faria isso.
- Faria sim. Você não o conhece.
Ela suspirou.
- Sabe Nicole, - eu precisava pelo menos tentar - Se você for hoje, a probabilidade de te encontrarem é de quase cem por cento.
- E o que sugere?
- Que fique mais uns dias. Assim as pessoas esquecem seu rosto, você cria um plano mais elaborado de fuga, e aqui estará segura de seu pai.
- Heitor deixaria?
- Claro que sim!
- Mais uns dias. Parece ser a melhor opção.
- A única opção positiva.
- Você tem razão.
Meu coração parecia que explodiria de alegria.
- Sim, eu tenho.
- Obrigada. Ainda não sei o que ganha me ajudando já que se recusa a aceitar dinheiro. Mas obrigada.
- Por nada.
Se ela soubesse...
- Temos que fazer algo para passar o tempo. - eu disse - Afinal não é aconselhável eu sai também.
- Me desculpe.
- Não se desculpe. Entrei nessa por livre e espontânea vontade.
- Então, o que sugere?
- Não sei. Ia te perguntar a mesma coisa.
- Tive uma ideia.
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A Garota da Fotografia
RomantikSe apaixonar é algo normal, exceto quando alguém se apaixona por outra apenas por vê-la em uma foto... É exatamente isso que aconteceu a Pietro, se apaixonou por uma garota ao vê-la em uma fotografia...Uma garota que ele nunca havia visto na vida. T...