Capítulo XVII

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[...]
Eu morri todos os dias esperando você,
Querida, não tenha medo,
Eu te amei por mil anos,
Eu te amarei por mais mil [...]
- A Thousand Years - Christina Perri

*Sugiro que nesta parte leia ouvindo a música A Thousand Years - na versão de Boyce Avenue.

Começou a tocar "A Thousand Years"*, Nicole sorriu entre o beijo, levantou do sofá e estendeu a mão para mim.
- Dança comigo. - pediu ela.
- Não sei dançar.
Ela ergueu uma sobrancelha.
- Não sabe, ou não quer?
- Gostaria se soubesse.
- Então não há problema, levante, eu te ensino. Prometo não rir.
- Você vai se arrepender.
- Vamos ver.
Levantei e segurei a mão dela.
Nicole foi até o som e voltou a música ao início.
Então ela pousou a mão direita em meu ombro esquerdo, eu pousei minha mão esquerda em sua cintura. Demos nossas mãos livres, sua mão se encaixava perfeitamente a minha.
Isso me fez lembrar filmes de época.
- É apenas, um passo para cá...E um para lá, seguindo o ritmo.
Um para cá...Um para lá...
- Entendi.
Um para cá...Um para lá...
- Siga a música. - disse ela suavemente.
Um para cá...Um para lá...
- Isso, está indo bem! - disse ela contente.
- Sei...
- Estou falando sério!
Um passo para cá...
E um para lá...
- Pelo menos não pisei no seu pé...Ainda.
Ela sorriu.
- Pietro? - meu nome saiu quase em um sussurro da voz dela.
- Hum?
Um para cá...Um para lá...
Nicole encostou seu rosto em meu peito. Ela podia ouvir meu coração, ele gritava seu nome, ele pulava em meu peito para que ela o ouvisse claramente.
- Não consigo pensar direito perto de você. - disse ela.
- Eu te entendo. - falei bem pertinho de seu ouvido - Quando se trata de você minha razão me abandona.
Ela olhou em meus olhos, os meus já esperavam pelos dela.
Girei ela, e quando eu a tinha nos braços novamente nos beijamos.
Seu coração entrou em sincronia com o meu.
Um passo para cá...Outro para cá, não para lá...
Pisei no pé dela.
Nossos lábios se afastaram em meio a risadas.
- Desculpe, - pedi - Eu avisei.
- É, você avisou.
- E você prometeu não rir de mim.
- Não estou rindo de você, só estou feliz...- ela olhou para mim e seu olhar foi tomado por tristeza - apesar da discussão com meus pais...Não vou deixá-los estragar este momento, não mesmo.
Eu lhe puxei para um abraço.
  - Eu te amo, Nicole.
  - Por mais estranho que ainda seja para mim dizer em voz alta, eu vou falar, eu te amo, Pietro, inexplicavelmente eu te amo.
  Eu não tinha palavras para explicar o quanto eu estava feliz, então eu beijei Nicole, e beijei de novo, e de novo...

" Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas para um dia dá certo."
- Caio Fernando Abreu

- Então, como foi com a Elise? - perguntei ao Heitor.
Já passava das onze da noite, a mais ou menos uma hora atrás me despedi de Nicole em frente ao hotel em que ela estava hospedada.
Ele bebeu um bom gole de café e então disse:
- Ela disse sim.
Abri um largo sorriso.
- Só você para achar que ela pensaria em dizer não, ela te ama e cara, para te aguentar, só te amando muito.
Ele fez uma careta.
- Engraçadinho...- ele pousou a xícara de café na bancada e me lançou um olhar de advogado (aquele olhar que me interrogaria) - Sabe, irmãozinho, notei que está bem feliz, sorrindo por nada, e sabe o que mais? - eu sorri - Sei o motivo dessa felicidade, está escrito em seus olhos.
  - E o que está escrito?
  - Nicole.
  Eu sorri novamente.
  - Ela disse que me ama.
  - E você não vai mais tirar esse sorriso do rosto?
  - Não, vou dormir com esse sorriso.
  Heitor deu uma gargalhada.
  - Você não, existe.
  - Vou dormir, porque amanhã eu tenho aulas.
  - Boa noite, maninho.
  - Boa noite, Heitor.

                      ..........
 
  O professor passou uma atividade extra, tirar fotos da cidade, para entregar amanhã.
  Então bati na porta do quarto 23 do hotel em que Nicole estava hospedada.
  Ela abriu a porta e me recebeu com um grande sorriso.
  Eu lhe dei um beijo.
  Tinha falado com ela uma hora antes.
  - Tá pronta?
  - Só estava esperando você.
  Entrelacei meus dedos aos dela e foi assim que saímos do hotel.
  - Então do que exatamente vai tirar fotos? - ela perguntou.
  - Trânsito, pessoas, prédios, acho que isso define cidade.
  - Concordo.
  Tirei cerca de doze fotos, revelei elas e guardei na mochila que trazia nas costas.
  Neste momento, eu e Nicole estávamos passeando pela orla da praia, de mãos dadas.
  - O que pretende fazer após se formar? - ela perguntou.
  - Viajar. Desde que comecei a faculdade, quero viajar para alguns lugares, fotografar culturas diversificadas, paisagens espetaculares, pessoas com muita história para contar. - ela sorriu - Então, faz um bom tempo que estou juntando dinheiro, com alguns trabalhos tirando fotos, ou na oficina do meu tio, faz quatro anos que junto.
  - E para que lugares quer viajar?
  - Paris é o primeiro da lista, Amsterdã, Londres e Roma. Mas, se eu consegui viajar pelo menos para Paris e Amsterdã, já ficarei satisfeito.
  - Gostei das escolhas.
  - Seria muito bom se...
  - Se...
  - Se fosse comigo. Seria fantástico. Podemos ir planejando...Eu adio por mais uns meses e...
  - Pietro, eu adoraria ir contigo, mas...
  - Mas...
  - Não acho justo atrapalhar seus sonhos.
  - Te encontrar era meu maior sonho, e acredito que os melhores momentos de minha vida passarei com você, eu sei que meu objetivo não estará completo se não for comigo.
  Ela parou em minha frente, passou os braços ao redor de meu pescoço e me beijou, puxei-a pela cintura para mais perto.
  Ela se afastou de mim e sorriu para uma mulher que passava no momento perto de nós.
  - Se importaria de tirar uma foto nossa? - Nicole perguntou.
  - Não, claro que não.
  Tirei minha câmera de meu pescoço e entreguei a mulher.
  Passei o braço ao redor do ombro de Nicole e dei um beijo em sua têmpora. A mulher tirou a foto nesse momento.
  Até que levava jeito.
  - Querem que eu tire outra? - perguntou a mulher de expressão simpática.
  - Se não for atrapalhá-la.
  Nicole ficou novamente em minha frente, passou novamente seus braços por meu pescoço, ficou nas pontas dos pés, apesar de eu ter me inclinado para ir ao seu encontro e nos beijamos. Um beijo rápido, apenas para a foto.
  - Obrigada. - agradeceu Nicole após a mulher ter lhe entregado a câmera. - As fotos ficaram ótimas. - disse ela a mulher que foi embora com um sorriso satisfeito.
  - Posso vê-las? - perguntei.
  - Não agora, antes quero tirar fotos suas.
  - Minhas?
  Ela sorriu. Aquele sorriso disparava meu coração.
  - É, suas. Por que esta cara? O fotógrafo não gosta de sair em fotos? Quanta ironia.
  Foi minha vez de sorrir.
  - Não sou muito fotogênico, principalmente quando sairei em uma foto sozinho.
  - Apenas três fotos - pediu ela, como se negociasse - Duas!
  - Uma.
  - Duas. Apenas duas.
  - Tá, duas.
  Ela esboçou um sorriso de vitória.
  - Faça uma pose. - mandou ela.
  - Não sei o que fazer, sempre sou o que tiro fotos e não o que faz as poses.
  - Sem desculpas, Pietro!
  Eu sorri. Um largo sorriso. E olhei intensamente para ela.
  Ela tirou uma foto.
  Para a outra me aproximei bem da beira mar, onde o que sobrava das ondas apagavam nomes na areia, esperando uma delas vim. Olhei para o vasto mar, sentindo a água bater nos pés.
  - Amei suas fotos. - ela disse.
  - Posso ver agora?
  Ela balançou a cabeça.
  - Por quê?
  - Só para ficar curioso, como eu fiquei quando não deixou eu ver minhas fotos.
  - Usando de meu próprio veneno.
  - Se chama vingança.
  Ganhei um beijo.
  - Terá volta.
  Andamos mais um pouco, até chegarmos a umas rochas, subimos nelas e nos sentamos.
  Nicole encostou sua cabeça em meu ombro, eu encostei minha cabeça na dela. Assistimos o pôr-do-sol, o fim daquele tarde que deu passagem para uma noite estrelada.
  Como eu a amava.

 
 

A Garota da FotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora