» Prelúdio «

631 98 158
                                    

  NOS PRIMÓRDIOS de seu despertar, a garota podia ouvir o tilintar dos instrumentos cirúrgicos, postos sobre a mesa, em seu lado esquerdo. Em pequenos vultos, ou até mesmo, alucinações, ela se depara em uma situação sem volta. Seus braços estavam com hematomas irreversíveis, feitos pelas faixas que a prendiam na maca gelada e brutal.

  O recinto exalava a hospital, as paredes eram engolidas milimetricamente pelo mofo, era visível entre os ladrilhos amarronzados; o vitral da pequenina janela, já estava opaco pela camada espessa de sujeira, no teto, um esboço assombrava a moça. Em sua situação, seus olhos viam uma grande mancha assombrosa, que saia do segundo plano e flutuava diante de seus olhos esverdeados, mas tudo não se passava de uma grande mancha negra de infiltração. A poucos metros dali, era possível ouvir o tilintar que despertou a garota, uma parte do teto estava obstruído por uma rachadura, e dela, pequenos pingos de água vinda do encanamento se desprendia da fenda e se desmanchava na pequena poça acumulada no chão de um verde musgo, feito de concreto.

  A cada queda de uma só gota, contribuía para a perda miserável de uma certa porcentagem da sanidade da garota presa a maca de ferro corroído. Voltando de seu estado alucinógeno, a garota cerrou bem os olhos, e os abriu, tentando se ajustar a penumbra daquele lugar conturbador, sentiu seus braços latejarem devido a pressão do elástico super resistente, e como um mísero reflexo, tentou se desprender daquela humilhação, ela havia perdido qualquer sinônimo de força em seu corpo, mas lutava frequentemente para sair dali, até o rangido da porta a interromper.

  O retumbo dos sapatos sociais entrando em conflito com o piso de pura massa de cimento despertou os sentidos da moça, que ficou inerte na tentativa de se passar por morta, talvez eles poderiam jogar-me em qualquer canto se o meu corpo não correspondesse a qualquer estímulo, pensou a moça. Mas eles não eram tão desdobráveis quanto ela pensara.

  — Já sei que está com vida, senhorita Skrlová. Se passar por morta não será uma opção plausível em seu caso. — A voz mórbida do cirurgião clandestino faz a moça bufar.

  — O quê querem comigo? Eu não me passo de uma mulher estúpida presa em um corpo de um adolescente, qual é o seu interesse em mim, diga-me! — Ela o ordena.

  — Não fale uma coisa dessas, você é um ser muito... Interessante. — Ele sorriu com escárnio. — Você é bem mais do que pensa, Barbara. Graças a sua deficiência, suas habilidades foram expandidas, você é mais inteligente, mais astuta, mais... Manipuladora. — Seus olhos se iluminaram. — E você será a minha cobaia perfeita!

  — Não mesmo! Vocês já sabem que o nome disso é sequestro e cárcere privado, não é?! Se a polícia descobrir...

  — Nada irá acontecer. — Ele a interrompe, massageando a sua barba rala. — Estamos literalmente debaixo da terra, e você não tem amigos, não tem ninguém, acha mesmo que vão suspeitar o seu sumiço?! A polícia nem deve saber da sua existência!

  — Seu canalha! — Ela cerrou os punhos e seu maxilar, tentando conter o ódio, e o guardando para si mesma.

  — Se acalme... Talvez, quando eu não precisar mais de você, posso descartar o seu corpo em qualquer vala por aí.

  — Eu tenho nojo de você, Finnick. Nojo de tê-lo como tio, nojo da minha família por me abandonar, nojo por permitirem que eu fique presa aqui, em suas garras, mas eles irão pagar, e você também! — Barbara cuspiu no rosto do tio, deixando transparecer o seu desprezo.

  — É o que veremos! — Ele tira o travesseiro, que estava sob a cabeça da sobrinha, e tranca o sistema respiratório da garota, até os seus reflexos e seus músculos relaxarem, e nada mais sobrar além do mero tilintar dos pingos de água.

[...]

  N/A.: Não se esqueçam de dar o play no Book Trailer de Daily Trail, que está na multimídia acima! E deixe seu voto e comentário também! Alguns segundos de seu tempo comentando e votando valem muito para uma autora continuar com seu trabalho. THANKS GUYS! SEE YOU LATER =)

Daily TrailOnde histórias criam vida. Descubra agora