» Capítulo oito «

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  SEUS PEQUENINOS PÉS tamborilavam a face pálida do piso de porcelanato. Seus dedos das mãos faziam uma breve caminhada até uma simples mochila amarela, amaciavam o vestido púrpura e o tule cor-de-rosa, enquanto seus olhos alcançaram a papelada em seu criado-mudo.

  As linhas negras foram violadas pela caligrafia em um azul intenso e sufocante.

  "Bom dia, querida. Espero que tenha dormido bem.
  Alguns assuntos urgentes roubaram por completo a minha atenção, e por esse motivo, vou estar em meu escritório no centro da cidade para o resto da manhã. E por esta mesma razão, seu pai irá te levar a uma tuor nas escolinhas de natação e ballet. O café da manhã já está na mesa e, Holga, a diarista da casa irá limpar a sala de jantar pela manhã inteira, então não a estranhe e seja uma boa menina.
  Ass. Clarisse."

  Barbara revirou seus olhos e bufou, pulando para fora de sua cama. Por algum motivo, a ruiva odiava com todas as suas forças, a pobre Clary. Ela odiava como a mulher era tão formal e conservadora, detestava até mesmo seu jeito de falar, e o simples fato de respirar. Sua mente fantasiava inúmeras vezes a mulher sendo morta de variados jeitos, e gostaria de levar aquilo tudo para a sua realidade. Mas, como um velho e clichê ditado diz, tudo tem o seu tempo.

  Seu dedo indicador traçou uma linha reta na pia de mármore do banheiro, enquanto seus olhos examinavam seu rosto cansado e envelhecido. Em seus vinte e oito anos de vida, as marcas de idade já podiam ser vistas claramente, se não fosse por quilos e quilos de maquiagem roubadas do palácio dos Skrlová, seria difícil ser considerada uma filha para Clarisse e sua família.

  O pequeno jato de água preenche o formato de concha feito pelas mãos pequeninas de Barbara, que eleva em direção ao seu rosto, enquanto algumas gotas de água se infiltravam em seu seios médios. Este era outro fato que poderia ser prejudicial para a moça. Ela tinha as características corporais de uma mulher, mas a mente astuta de Barbara não deixou passar um problema como esse.

  Constance, sua mãe, guardava em uma gaveta de seu closet, uma coleção de corpetes de variados tipos, com tecidos em elástico super resistente. Em uma de suas viagens de trem pela França, em um hotel em ruínas, uma tesoura e a coleção de sua falecida mãe lhe acompanhou em uma noite qualquer. A moça recortou algumas faixas largas dos corpetes e com linha e agulha, costurou várias faixas umas nas outras, formando assim, uma cinta ultra resistente, pela qual, contribuiria para a diminuição considerável do tamanho de seus seios. E desde então, a moça vem tomado a aparência de uma adolescente comum.

  E agora que, na residência dos Werner ela teria que se passar por uma ingênua garota de treze anos, sua atuação deveria ser esplêndida. Sem falar que ela terá que conviver com crianças de sua suposta idade, precisava agir como tal. E em meio a tanto tempo atuando como uma garotinha, Barbara pegava-se agindo realmente como uma criança. Mas com sentimentos e súplicas sexuais de uma adulta.

  Este seria outro problema. A nossa jovem Barbara, em seus vinte e oito anos, ainda não havia conhecido o chamado "prazeres da vida". E por sua doença glandular, seus hormônios ficavam cada vez mais a flor da pele com o passar dos anos. Por muito tempo, ela tentou se conformar com a masturbação, só que, aquilo não era mais o suficiente para os seus desejos carnais. E, ao ver Dexter, no mesmo instante já se interessou por ele, e ela havia posto na cabeça que, ele seria dela por bem, ou por mal.

  Aquilo já havia se passado de simples desejos carnais, Barbara começou a alimentar uma intensa obsessão por Dexter, por um homem que jamais poderia ser dela, mas tudo aquilo seria inaceitável e um não poderia ser fatal.

  Com a sua pele de pêssego no lugar novamente, Barbara volta para o seu quarto, enfaixa novamente os seus seios, e se veste de um vestido azul turquesa leve, curto e singelo, um par de sapatilhas da cor bege e, por fim, prende as mechas da frente de seu cabelo ruivo com uma presilha cintilante. Barbara fica de frente ao enorme espelho de seu quarto, segurando as duas pontas de seu vestido, gira em seu calcanhares, analisando se aquele vestido realçava as suas curvas. Ela não poderia ter escolhido uma peça melhor.

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