» Capítulo vinte e dois «

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  BARBARA ANALISOU-A de cima à baixo, deixando o ódio transparecer em seus olhos verde-oliva. A pobre garota sob o batente da porta vestia uma calça Mom jeans, camiseta vermelha com a estampa similar ao rótulo da Coca-Cola, só que ao invés da marca, estava escrito “Não rotule!”

  “Fragmento de alguma manifestação feminista? Provavelmente.” Barbara refletiu.

  A menina loira e alta, dos cabelos curtos e ondulados, – que aparentava ter uns dezessete anos de idade – carregava um sorriso terno e uma carga de ansiedade, afinal, seus pés – abrigados em um par de All-star escarlate – não paravam sossegados enquanto Clarisse despejava sobre a menina as regras da casa e algumas coisas que ela julgava como necessário.

  Barbara revirava os olhos para cada palavra dita por Clarisse, sem falar das expressões de asco e desdém. Com toda certeza, Barbara estava plenamente determinada a jogar sujo e a virar o mundo de todos de ponta-cabeça. A garota olhou as horas e agradeceu aos deuses por ser 18h30, um horário estratégico para Barbara colocar seu plano em ação.

  Com todas as suas artilharias de prontidão, Barbara estava somente à espera do momento certo para dar início ao pandemônio.

  — Caso algo aconteça é só me ligar – disse Clarisse a babá.

  — Já chega, Clary. A menina já entendeu – Katherine apressou, impaciente.

  — Espere, Kat! Preciso ter certeza de que tudo está certo – refutou. Seus olhos perambularam por todo o cômodo, indagando a si mesma se não esqueceu de algo. – Ah! E Esther, pode me ligar a qualquer momento caso precise de algo.

  — Claro, Clarisse – meneou a cabeça e abriu o sorriso mais falso que havia disponível.

  — Bem... Eu acho que é só.

  — Ah, graças a Deus, vamos Clarisse! – pegou a irmã pelo braço, arrastando-a. – Tchau meninas e até mais tarde.

  — Tchau, meu amor! – acenou para Barbara, que retribuiu com o esboço de um sorriso e um aceno preguiçoso.

  Barbara sustentou o sorriso até a porta a sua frente se fechar, dando lugar a sua carranca habitual quando não era mais possível ver Clarisse, e cruzou os braços. A menina diante da ruiva fechou a porta e ficou de frente a Barbara. Analisou a garota com seus olhos castanho-escuros e abriu um sorriso social.

  — Esther, meu nome é Florence e eu prometo ser legal se você cooperar. Tudo bem pra você? – A garota indagou, pegando o celular de dentro de sua bolsa.

  — Claro. Eu só espero que você não queira que eu aja como anjo. Digamos que eu tenho um gênio forte... – disse em meio a um sorriso maléfico, seguindo a menina até a cozinha.

  — Desde que você não faça nada que pode me prejudicar, pra mim tudo bem – Florence sentou-se em uma das cadeiras da mesa de jantar, conversando com alguém via mensagem, escancarando um sorriso bobo.

  — Eu não faria nada para te prejudicar, não machucaria uma mosca sequer! – Barbara sentou-se de frente a menina, que aparentemente não ouviu as últimas palavras proferidas pela ruiva. – Está conversando com alguém especial? – sorriu, e a loira observou Barbara de relance.

  — Não é da sua conta, pirralha – hostilizou e voltou sua atenção para o smartphone.

  Barbara sentiu algo efervescer dentro de si. Imaginou-se dilacerando a garganta da garota a sua frente. Porém, tentou manter a postura e focar no alvo da noite.

  — Certamente – deu-se por vencida. – Mas para uma pirralha até que posso lhe servir de ajuda. – Florence destoou seus olhos para Barbara e gracejou diante de suas tentativas de convencimento, ignorando-a logo em seguida. – Isso se você estiver disposta a me compensar com a liberdade.

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