» Capítulo cinco «

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Um mês depois...

  ELA DESCARTAVA suas múltiplas personalidades na imensa lata de lixo do aeroporto da Dinamarca. As lançava a lixeira abaixo, se despedindo das várias versões de uma única mulher, Barbara Skrlová.

  Primeiramente Marin Anne, uma adolescente carismática em busca de uma simples diversão foi engolida pelos restos alimentícios. Logo depois, chegou a vez de Skylar Gilbert, uma garota isolada do mundo, dona de uma personalidade forte. E por fim, Mila Goldin, uma jovem simples, se aventurando no intercâmbio da Dinamarca.

  Em todo esse período de tempo que partira de Paris, Barbara se passava por uma adolescente normal. Obviamente ela não partiria de Paris, especificamente do lar dos Skrlová sem levar uma boa vantagem em dinheiro e alguns ítens vantajosos em sua situação. Após fugir da França, a ruiva passou pela Bélgica, da Bélgica, foi para a Alemanha, e vendo que, ainda estava muito próxima do lar dos Skrlová, já que a polícia francesa quase lhe alcançara, Barbara fugiu para a Dinamarca, mas seus planos foram novamente frustados, e agora, estava prestes a pisar em solo norueguês.

  Após se desprender de suas antigas identidades falsas, Barbara se refez do zero, a partir daquele instante seria uma pessoa totalmente diferente de suas outras versões, aquela garota teria mais da própria Barbara do que qualquer outra.

  A ruiva sentia com as pontas de seus dedos, a textura em relevo de sua nova personalidade. Esther Coleman. Uma garota que perdera os pais recentemente, e que havia escapado de um velho orfanato localizado na Polônia, pelos maus tratos que sofria pela diretora da instituição. Se sustentava com o dinheiro que havia furtado do orfanato, e levava a vida de país em país, em busca de um lugar que realmente pudesse chamar de lar. Com toda certeza, era uma história tocante, porém havia um pouco de verdade nela. Tudo o que a ruiva desejava era finalmente poder viver em paz, longe de tudo o que lhe fazia lembrar de sua velha família, viver como uma pessoa normal, ir até a mercearia da esquina, poder fazer compras no shopping, ou até mesmo, encontrar alguém que a fizesse feliz, mas a realidade é muito mais fria e inoportuna do que Barbara imaginava. Ela tinha uma personalidade forte, tinha distúrbios psicológicos e alimentava cada vez mais a sua esquizofrenia, e estes foram os fatores pelos quais influenciaram os fatos que se seguiram após aquela viagem.

  Ela nunca poderia ser alguém normal novamente, voltar atrás era impensável, embora não esteja com uma gota sequer de arrependimento, mas Barbara não era mais a mesma.

  Ela se senta em uma velha poltrona no imenso saguão do aeroporto, enquanto um fluxo imenso de pessoas se dissipavam entre tantos e tantos vôos, ela era a única "adolescente" que estava desacompanhada, não sabia se poderia realmente embarcar sem a autorização de um responsável, já que, nas outras ocasiões, somente viajara de trem. Barbara abraça seus joelhos e relembra do quanto foi feliz a alguns anos atrás, quando era apenas uma garotinha e tinha o apoio de Wilder, seu falecido pai, do quanto ele a fazia sorrir todos os dias, mas quando aquilo tudo se findou, ela tinha outra visão do mundo, uma outra perspectiva e objetivo, agora ela vivia em prol da vingança, ela só estava viva porque ainda alimentava aquele sentimento em seu peito. Suas lágrimas caem pelo seu rosto, demonstrando seus sentimentos mais profundos em público ao se lembrar de seu passado, do quanto sofrera nas mãos de sua família, e do quanto estava só naquele momento.

  A ruiva sente uma presença singela ao seu lado. Era a primeira que havia lhe dado atenção entre tantas e tantas pessoas que corriam por aquele saguão. Barbara direciona seu olhar para a pessoa ao seu lado, que lhe demonstrava compaixão.

  Seus cabelos dourados desciam pelos seus ombros como uma cascata reluzente, seus olhos de uma coloração aveludada, lhe sorriam, transmitiam a sensação de aconchego, e seus lábios finos e vermelhos esboçavam um pequeno sinal de alegria. Era uma mulher de aproximadamente uns trinta e dois anos, era jovem e muito bonita, tinha um corpo magro e sublime. Ela estava realmente tocada com a situação de nossa protagonista, embora Barbara ainda se fechava diante a ela.

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