A NOITE FOI LONGA. Quando Mina deixou o quarto de Barbara e tudo o que restou foi o afago da escuridão, a moça abraçou os seus joelhos e observou as sombras que lhe cercavam, inclusive o espectro de Tristan. Não conseguiu pregar os olhos uma vez sequer, esperando algo imergir das trevas nos cantos escuros de seu quarto. As vozes voltavam a sussurrar em sua mente em um tom metálico e diabólico, mas depois sumiam. Voltavam novamente, alternando em momentos breves e utópicos de paz e instantes infernais.
Com o passar das horas, quando o cansaço começou a abater o corpo franzino de Barbara, os seus distúrbios a oprimiam cada vez mais. Chegou ao ponto de a menina se encolher na cama, sem sequer cogitar a possibilidade de levantar e ligar a luz, com medo de que as criaturas da noite pudessem emergir do pequeno espaço que há debaixo de sua cama e puxá-la pelo calcanhar para o submundo. Ela escolhera contrair-se debaixo das cobertas até a luz do sol iluminar o seu quarto e se sentir segura o bastante para levantar e iniciar mais um dia miserável.
Com o despontar de um sol ligeiramente opaco, Barbara caminhou entre os corredores com a finalidade de encontrar as escadas, mas deparou-se com Dexter, arrumando as malas e fechando a porta do quarto.
— Bom dia – Tentou soar gentil e amistosa.
— Bom dia, minha menina – Dexter sorriu e algo em seu coração a fez sentir-se em casa.
— Já vai viajar? Pensei que iria no meio da semana.
— Sim, não posso esperar mais que isso. Há assuntos que preciso resolver com urgência, não posso deixar as coisas acumularem.
— Não irá esperar os meninos? – Aquela pergunta trouxe uma carga de torpor ao homem. Ele deixou as suas malas no chão e seu olhar demonstrou angústia.
— Eu queria muito, mas o meu voo não irá esperar por mim, muito menos por eles – Ele ficou pensativo por alguns instantes e se aproximou de Barbara. – Sabe, é bom saber que, embora meus filhos tenham esquecido de seu velho pai e foram se divertir com outras pessoas, eu ainda tenho você aqui. Faz me sentir um pai melhor do que eu realmente sou.
— Não diga bobagens. A culpa não é sua se os meninos não agem como você gostaria. Fez tudo o que estava ao seu alcance.
— Eu te amo tanto, minha menina! – arfou, abrindo um lindo sorriso. Em seguida, Dexter olhou em seu relógio e pegou as suas malas. – Já está na minha hora, você me ajuda com isso?
Barbara meneou um sim com a cabeça e pegou duas malas pequenas e um envelope. Ambos desceram as escadas com cautela e deixaram tudo ao lado da porta. Vindo da direção da sala, Clarisse aproximou-se da menina e de seu marido, dando-lhe um beijo como despedida. A mulher fez algumas perguntas, algo relacionado com a possibilidade de o voo não ser seguro e se este caso que ele cuidaria seria arriscado. Barbara ajudou o pai a levar as malas para o táxi e Clarisse os acompanhou.
— Diga aos meninos que eu os amo e que estarei de volta em breve – disse a Clarisse e em seguida abaixou-se, olhando Barbara nos olhos. – E quanto a você, quero que seja a guardiã da casa. Sei que tem Clarisse e os meninos, mas quero que você faça esse trabalho e arque com essa responsabilidade. Você é uma menina muito inteligente e sei que se sairá bem – Despediu-se com um beijo na testa de ambas e adentrou o táxi. Barbara correu até a beira da calçada e avistou o carro sumir em uma curva e voltou para dentro de casa.
Algumas horas mais tarde, após Barbara tirar um cochilo para compensar a noite de sono perdida e o tédio tomar posse da casa, a campainha tocou. Clarisse pediu para Barbara abrir a porta e a menina assim o fez. Em sua frente ergueu-se uma mulher loira e bonita, alguns anos mais jovem que Clarisse, mas que tinha muitos traços da mulher.
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Daily Trail
Mystery / Thriller"Esta obra foi intitulada como uma das 'Favoritas do mês de Janeiro' do 'Projeto Jóias', vencedora da medalha de bronze na categoria 'Mistério/Suspense' do projeto 'Uma Dose a Mais e do 'Projeto Remember' na categoria 'Divulgação'!" "Há algo errad...