» Capítulo dezessete «

105 6 0
                                    

  O CARTÃO de visitas tremeluzia diante dos riscos da luz amarelada que traspassava a janela do carro. Uma pequena frase em relevo dourado refletiu nos olhos de Barbara:

  Beaumont Advocacia.

  Aquele era o motivo do orgulho da moça. Saber que nem todas as pessoas que adentraram em sua vida, tiveram um destino cruel e trágico, isto deixava Barbara longe de seus demônios e distúrbios psicológicos. Saber que nem tudo estava perdido. Saber que um pequeno vestígio de seu passado ainda estava intacto, e o desejo de Barbara era priorizar Aaron em sua vida, não afastá-lo como fez com todas as pessoas que amavam-na. Afinal, por muito tempo, quando a esquizofrenia se deitava com ela em leitos gelados e sombrios, em boas lembranças ela se agarrava, e Aaron fazia parte das mesmas. Ele era uma luz no fim do túnel, na qual Barbara cuidava com minúcia para nunca se apagar.

  Abaixo de um título de sucesso de um grande advogado, lá estava o número para contato de Aaron, foi o primeiro registrado no celular de Barbara, — um presente de seu pai — o caminho para casa foi silencioso, meramente gélido e pensativo. Ao adentrar o quintal deslumbrante dos Werner, Barbara saiu saltitante, tirou uma combinação de números do bolso e conectou seu celular à internet da família Werner. A garota baixou imediatamente o Spotfy e abriu a sua playlist favorita de quando ainda era uma legítima Skrlová. Aquilo lhe trazia muitas lembranças, a maioria ruins, porém, muitas eram tão boas que eram similares a uma miragem em pleno deserto.

  — Esther. — Dexter chamou com um semblante fechado.

  — Sim, papai? — o homem segurou as mãos delicadas de Barbara, conduzindo-a para a porta dos fundos de sua residência.

  — Venha, quero te mostrar algo.

  Barbara nada disse, somente seguiu o pai com uma certa curiosidade. Eles adentraram em um corredor escuro e nunca visto pela garota. Seu corpo começou a dar sinais de ansiedade e tensão. Algumas portas estavam entreabertas e uma escuridão intensa fazia uma corrente elétrica transpassar o corpo de Barbara. Medo. Ela nunca havia visto nenhum daqueles quartos, muito menos aquele corredor horripilante. Sabe-se lá quais segredos cada um daqueles cômodos guardavam, de certa forma aquilo atiçou o senso de curiosidade da menina.

  Após alguns quartos, havia um estreito corredor vertical que abrigava uma escadaria em espiral. Dexter direcionou Barbara para o lance de escadas. E Barbara tinha que admitir:

  Seguir Dexter naquele ponto de vista era satisfatório.

  Após subir cada degrau até sentir sua respiração ofegante, eles chegaram em um corredor curto e estreito, as luzes pareciam estar queimadas há muito tempo, a decoração era um pouco ultrapassada, contando com o papel de parede desgastado e teto revelando algumas infiltrações. Uma delas engolia uma parte do teto, e o ambiente escuro deu uma tonalidade negra à infiltração e um flashback aterrorizante devastou Barbara. Seus pés fincaram no carpete vermelho sangue límpido, seus olhos não conseguiam se desviar daquela mancha, e mesmo que imperceptivelmente, Barbara jurava que havia visto a mancha negra sair do plano para lhe envolver. Aquela assombração remetia a um ruído dos pingos de água que se desmanchavam de uma certa obstrução do teto até uma pequena poça de água acumulada. O esconderijo de Finnick.

  Ver aquela mancha transportou a garota para aquele dia terrível, em que Barbara foi entregue nas mãos de seu tio, quando ela dormiu naquela maca gelada, quando sentiu os elásticos que a prendiam, machucarem seus braços e pernas. Ela desejava esquecer aquele episódio terrível de sua vida, queria deixar tudo aquilo para trás, mas ela sentia que aquele seria um dia nostálgico. E ela odiava nostalgia.

  — Filha? — a voz intensa de Dexter despertou Barbara de seus devaneios.

  — Ãn? — Ela olhou por uma última vez a mancha e seus olhos se fixaram em Dexter.

Daily TrailOnde histórias criam vida. Descubra agora