II

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Rosas

Uma amante eternamente fiel à Shakespeare, todavia, se deu por desiludida para com tal identidade, com o, pesaroso para com seus sentimentos jamais imutáveis, facto óbvio, somente para atentos (o que não aplicava-se à si), que Romeu E Julieta fora absurdamente baseado à criativa imaginação dos gregos.

Não havia decepção maior para a jovem. Foram quatro anos longuíssimos, crendo e louvando a magnânima do amante literário, que abrangia do mesmo modo, todo o resto global terrestre.

E para a certeza da atmosfera, mais uma lufada do tabaco e seus componentes, provenientes do cigarro que pendia em seus lábios pálidos e amáveis, Marie, sentiu seus neurônios em devidas localizações, a medida que expulsava o fumo, que no seu entender, a natureza dele necessitava, assim como o seu organismo.

Ergueu novamente o pincel, e rabiscou por cima dos traços violentos e negros, semi-círculos desorientados, perplexos a compreensão exacta e racional. Formando com ambas metades, uma única lua reluzente, seus realces destacantes.

Não se tratava de alguma técnica, nem um método pleonástico qualquer; Era o alegado dos sentimentos que lhe afloravam nos últimos dias, porém ainda sem uma designação. Talvez seu conceito nunca fosse definido.

Desde tempos primordiais da humanidade, deitar os olhos cegos em cores vibrantes ou não, profanar, de pupilas dilatadas e balbucios glorificantes, o amor dedicado em tal obra, seria para estes, a valorização e reconhecimento de tal feito.

Então foram mais uns traços atrevidos, dessa vez, sobre a lua formada, esta que sobrepunha a tonalidade mais negra da tela, e mais descargas ocorreram no processo de sua deliciosa insânia.

As revelações do estado de seu espírito, eram efectuadas debaixo da iluminação de fraco consumo, a sua volta paredes; que cercavam bastante entulho, nalguns cantos esquecidos com o andar do tempo; moradia das aranhas inofensivas, soalho já renitente. E mais acima uma janela, que permitia a entrada de filetes perfurantes do sol, anunciantes do dia lindo que se fazia lá fora.

Ouviu o ranger da porta e cessou os braços bem em cima da cabeça pingando o excesso da tinta acrílica exalando o cheiro caracteristíco.

–– Oh, Ryie! Sabes que não gosto desse teu negócio. –– reclamou com uma careta desgostosa, o seu progenitor.

–– Faz-se ainda o dia, pai, e sinto-me inspirada. –– proclamou aparentemente satisfeita, a pintora – Os rouxinóis é que me fariam a manhã completa. –– acrescentou, com o rosto hiperbolicamente radiante.

–– Não me refiro às Belas Artes tuas, minha filha, –– prontificou-se o fã dos Pink Floyd –– é o cigarro.

Viu-se alastrar um rubor em suas faces delicadas, e um riso hilariante possuindo-a. Ela o sabia. Cristóvão não era adepto do tabaco e quaisquer outras substâncias com o poder de manipulação da lucidez. De tal maneira que não o fazia opôr-se.

–– Vais acabar que nem a Amy! –– afirmou o homem com ligeiro desdém.

Ainda com as risadas doentias, a menina, revirou os olhos.

–– Mas não foi para objecções que vim cá ter. Já estás apta para amanhã?

–– Quando saturado, o céu deita prantos, poças de suas lágrimas formam-se, e delas temos o reflexo vibratório e ondulatório de nossa figura. Foi simples, após basear-me nesse princípio.

Cristóvão não pôde deixar de sorrir perante tais palavras. Concluiu então, que todo seu verdadeiro investimento apostado nela, tardiamente, mostrar-se-ia deveras próspero. E nos seus olhos encheu-se um tanto orgulho paternal.

As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora