IV

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Rosas

–– Me parece uma distorção da história original, dos Capuleto e Montéqueio. – observou um tipo de feições redondas.

Um outro jovem, manifestou-se concordando com o parecer do anterior.

–– Todos partilham da mesma opinião? –– indagou Marie, que embora ninguém se manifestasse, o silêncio ditava por eles –– Estando no vosso lugar, eu acharia o mesmo.

–– Mas ouve, se é um remake, se posso assim dizer, porquê sair do cenário original, e adoptar um outro ainda mais antigo? –– perguntara, sensivelmente entretanto audicioso, um rapaz comum, para variar, num dos cantos da sala.

Burburinhos de comentários censurados, preencheram a sala, criando uma insegurança para Marie, que quase pôs-se a arrancar o crespo cabelo pela raíz. Mas respirou fundo e sentiu seus músculos relaxarem.

–– Ainda bem que repisa o aspecto do tempo, pois é aí onde têm a resposta para a vossa pergunta.

Marie ainda encarava as expressões atónitas de cada rosto em seu fixado.

–– Tudo bem! –– seus lábios curvaram-se, acompanhando o movimento da cabeça –– William Shakespeare. Ao mencionar este nome, nos vem a cabeça, O Dramaturgo De Todos Os Tempos, mesmo que não tenhamos lido uma de suas obras. A indústria cinematográfica, poupa-nos esse trabalho. –– novamente risos surgiram na sala –– Temos estado tão preocupados e ou entretidos com a magnânima da história, que escapa-nos o facto de a Mitologia Grega anteceder as obras do Romancista Mortal.

–– Então a que nos referimos se não trata-se de uma distorção, ou adaptação do Shakespeare? Um conto mitológico? –– indagou amistosamente uma rapariga de ar mais civilizado.

De seus lábios escarlates, Marie, soltou uma generosa quantidade de alívio.

–– Veêm? Refiro-me ao romance impossível Tisbe e Píramo. E não à Romeu e Julieta, feliz ou infelizmente! –– concluiu, notando o alastramento perceptível de seu dizer, por todos os demais racionais cérebros da sala.

–– Mas espera! –– sentenciou o rapaz dos cabelos arrepiantes, que na passada semana se mostrou arrogante com suas reflexões em torno da evoulução mundial. –– Shakespeare, então apenas olhou para a essência do conto e deu-se somente o trabalho de criar cenários e situações que se adequassem com o alvo da lição?!

Marie, chegara na mesma questão, no entanto que sua devoção ao ídolo, fizera-lhe encontrar respostas que não desqualificasse o drama dos Capuleto e Montéqueio, portanto liberou um leve riso inaudível.

–– Nos livros da Mitologia Grega, contos não se exibem com devida complexidade. Possível razão essa, para Shakespeare fundamentar mais o drama adicionando mais divergências, personagens, e por aí em diante.

–– Então porque o idolatramos assim tanto? Que passa até de ficção? Sem ofensa, mas, sinceramente, o mundo não só literário tem seguido esse modelo de romance, e isto faz-me crer que estamos copiando de uma cópia se até o caríssimo William, reaproveita alguns contos mal contados. –– insistiu uma rapariga alta de olhos que não condiziam com o pequeno tamanho do rosto delicado. Mas a expressão que tinha em suas feições propunham um desafio aos argumentos da jovem, que temia Marie não estarem mais concisos ou convencíveis.

–– Antes de pôr todos os ouvidos atentos a seu discurso, devia certificar-se de que o ouve também. Mas em resposta, afirmo que de todas as maneiras, somente teríamos olhado para este drama como apenas mais um e nada mais, se é que me entende. –– repisou Marie convicta –– O enredo torna-se deveras interessante, por Romeu apaixonar-se pela donzela, filha de seu maior inimigo, daí, nasce o amor invés do ódio, o que pode ser conveniente em nossos actuais dias. Ante isso, ambos pretendem consumar o matrimônio, trocam-se declarações, cometem loucuras em prol do amor que lhes consome por inteiro levando-os a colocarem-se na tangente de um extremo perigo, que só o amor pode lhes tirar a consciência disso.

"Cegos e inconscientes, são tomados pela doce morte, única que podia separar estes jovens de seus sentimentos. No entanto que esta desgraça que assola as duas famílias inimigas, proclama paz e rendição, travando assim uma desavência."

Um belo rapaz no meio do outro pessoal, ergueu seu braço com um semblante mais desafiador que Marie já encarara.

–– Marie! –– disse ele com um sorriso educado –– Estou impressionado que tenha olhado assim um tanto artiscamente para o romance. Porém creio que se o objectivo da morte de Romeu e Julieta, era o aperto de mão de ambas famílias, é um propósito que não pode encobrir essa enorme causa.

Seus traços moviam-se com tal gesticulação calculada e gentil, a articulação de sua linguagem era delicada, e convicta sem ser petulante; o que possivelmente encantou a jovem que grudava o olhar distante em seu rosto, tornando restantes vozes da sala abafadas a burburinhos.

–– O que quer dizer? –– indagou a jovem, perplexa.

Ele sorriu levemente antes de prosseguir com sua observação que não lhe era relevante nessa altura.

–– Sei lá, não sou bom nisto, no entanto que podiam haver mais causas envolvidas, a não ser que tenham e não as percebi.

–– Desculpe-me perguntar, o seu nome? –– Marie não sabia os nomes todos mas guardava os rostos, e aquele era surpreendentemente novo para si.

–– Alexandre.

–– Ah! – assentiu apenas –– Alguém com mais alguma outra ideia?

XXX

A sessão levantou variados pontos de vista, o que se podia afirmar algum sucesso, mas dessa vez fora-lhe mais uma derrota, pois percebeu que não tinha como defender-se para cada visão inteligente que se sobressaltava ali.

A citação de Queirós, em voz alta foi lida por uma das raparigas que despertavam muito interesse dos hormônios masculinos.

–– Parabéns Pâmela! –– congratulou Britney ao retirar o reduzido pedaço de papel da pequena urna.

Bateram-se as palmas, mas todos pareciam já impacientes para mais delongas.

–– Bom, inicialmente havia dito que deixaria uma tarefa deveras interessante. –– proferiu Britney, causando transparecidamente mais decepções mal educadas dos jovens. –– Acalmem-se, acho que vão gostar.

–– Estiveste medíocre em dadas partes, refiro-me às explicações, mas o resto, vou concluir que és mesmo apaixonada por estas coisas. –– sentenciou Roberta, aos risinhos enquanto via o traseiro da amiga ceder a cadeira, pesarosamente.

–– Formem-se em duplas, de preferência de sexos diferentes, façam uma pesquisa do Renascimento, as artes e lifestyle, e depois elaboram pequenas reflexões acerca.

Roberta se virou para Marie com um olhar de desilusão.

–– Qual é? Arranja um par isso sim. –– rematou risonha Ryie.

A Pocahontas bufou depois de um exagerado revirar de olhos:

–– Diz-me que estes gajos são mesmo nerds! Não quero ter de fazer o trabalho todo sozinha.

–– Não te posso garantir nada, minha querida. Apressa-te, aquela malta –– apontou para as raparigas que riam histericamente ao dialogarem com outros tipos –– é muito eficiente. E olha, vou ao restaurante do meu pai fazer um extra, por isso não lhe solicitarei a boleia.

–– Já que o dizes, vou procurar um par. Vemo-nos por aí –– a imagem Robertina afastou-se de seu campo de visão, e armou a pilha dos livros que trazia, enfiando entre as páginas de um deles, anotações que se esforçou em fazer durante aquela semana, que agora pareciam terem sido em vão.

Tinha de procurar por seu par, ou então ter-de-ia fazê-lo sozinha, o que nunca lhe parecia uma má ideia.

Fizera uma breve avaliação dos candidatos a disposição que permaneciam na sala, mas sempre que seu contacto visual seleccionava, estes encontravam os seus ditos pares, mas não desanimou, que então três rapazes que conversavam vorazmente ao pé da porta de saída lhe perpassou dos olhos. Não hesitou e correu até eles.

As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora