IX

36 1 0
                                    

Rosas

As folhas que pendiam das suas árvores corpulentas, nessa tarde pareciam-se mais com pequenos pergaminhos com mapas que acessavam a um lugar paradisíaco. Marie nos primeiros minutos da viagem estava tímida por se recostar na janela e sentir a brisa que batia contra sua pele macia, no entanto quando Alexandre destrancou o ser harmônico contido no interior da moça, sua voz, involutariarmente alinhou juntamente com os acordes, ora afinados, ora não, de Kurt Cobain.

Ela esperava sinfonias e trechos líricos como gênero musical preferido, afinal com toda aquela boa educação que tinha ele, podia apostar que se incomodaria só de escutar a primeira nota da rouquidão das vozes expressando emoções de sentimentos sinceros que emanavam dos corpos que se rendiam ao Rock.

– Nunca escutei os Guns N' Roses e não sei ao exacto porquê. – comentou ele, com o olhar distraído pela estrada.

– Incrível...

– O que? Achas incrível ter nunca escutado uma das bandas lendárias do Rock?! – sobressaltou-se sua voz com um entusiasmo interrogativo.

– Não. Acho incrível a tua imprevisão. – com os olhos vidrados nele, Marie constatou que se apaixonaria por ele em menos tempo do que calculara. Se a personalidade do rapaz a impressionasse a cada posicionamento seu em demais e diversos assuntos, quer no Rock, quer na reflexão da tradição moçambicana.

Como resposta, endereçou-lhe uma piscadela deslumbrante e firmou-se atentamente à estrada e na sua condução nem cautelosa e nem radical.

Era um ser impressionante e vulgo, que na fusão de suas caracteristícas e preferências, Marie concordou que obteria um resultado questionável e de seu maior apreço embora estando já a se convencer que do nível de admiração transgrediu meticulosamente para o de paixão.

A conversa, porém, desviou-se para assuntos familiares... e, sinceramente, Marie sentiu um ligeiro desconforto ao se denotar com o rumo que estava levando. Família, para si, havia se tornado num conceito tão complicado envolto de balbúrdia, que nem por isso sua aura manteu-se irreversível, pelo contrário, Alexandre após a introdução do assunto, ouviu se estender um silêncio amargo em sua viatura até que então desgrudou o olhar do asfalto para o rosto airoso de Marie.

– Pais separados – apressou-se em justificar ela.

– E que mal tem isso? Eu também não tenho a família fantástica.

– Eu sei, – disse entre um suspiro – só que os meus têm lá uma estranheza um para com o outro.

– Desculpe-me, Ryie, mas tu ainda não mencionaste nada sinistro entre pais separados, se não o mais comumente.

Paciente, Marie hesitou algum segundo antes.

– Eles parecem passivos uma hora e noutra estão, simplesmente, metidos em discussões idiotas.

– Tens mesmo certeza que não estás sendo egoísta por achar que isso acontece somente contigo?

– Só te fazendo estar diante deles com as engrenagens em ebulição, p'ra compreenderes... – disse num suspiro exausto.

Alexandre nesse momento viu-se um bocado confuso com a situação, mas logo pensou em consolar sua parceira de pesquisa, relatando-a os eventos que a sua intrigante família estava passando, em virtude da reciprocidade daquela conversa.

– Meus pais são um tanto religiosos, que acredito que o único pecado de ambos é por terem quebrado a promessa: Até que a morte nos separe... – travou o carro, encarando o sinal vermelho ao ponto dos pneus darem seu canto e desencanto.

Ok, se calhar ele não era o perfeito condutor, embora ser injusto ter que julgá-lo por um único erro; porque afinal estavam todos sujeitos a um primeiro erro. Marie limpou a garganta fingindo não ter sofrido o impacto daquela brusca paragem.

O sinal tornou a ficar verde e o carro rumou pelo asfalto, já não muito longe de seu destino.

– Contiunando... – disse com a voz abandonando o ofego, posteriormente limpando a garganta – Eles se divorciaram, já vai lá algum tempo. Mas ainda assim, não é algo com me devo escandalizar.

– Estou a ver. – falou um pouco desinteressada, preferia já não falar mais no assunto mas não tinha como se sobressair estrategicamente.

Depois de minutos de silêncio, avistou, finalmente a entrada do Centro Cultural, que precedia a uma escadaria e a sua direita um corredor que levava a uma área social a céu aberto. Instintivamente, Alexandre, pousou a palma de sua mão bem na base das costas ossudas da moça de um modo não perverrtido mas a se deixar muito por desejar.

Ela engoliu em seco, optando por fingir que não havia se dado conta. Exploraram mais o local, encontrando gente jovem e contemporânea, contemplando a voz da vocalista negra que se fazia acompanhar de uma banda, composta por um baterista, guitarrista e alguns outros artistas cujas designações ela desconhecia que no entanto desempenhavam uma ótima actuação.

E olhando mais a sua volta, percebeu que exalava tabaco para todo o lado, se elevando ao céu que já escurecia, deixando ternamente o luar espreitar e zelar por aquela noite. Pareceu-lhe não conhecer ninguém naquele local até chegarem-se aos dois, os amigos de Alexandre os quais conhecera na tarde passada.

Litumes ostentava uma garrafa de cerveja excessivamente espumante envolta na sua mão, escorrendo algumas gotas frias que respingavam na sua camisete cinza.

– Marie! – cumprimentou-lhe um tanto animado, beijando-a ambas faces – Lennon – dirigiu-se ao amigo que dispunha de um esqueiro e maço oferecendo um cigarro à Marie, que aceitou agradecida, uma vez que tenha evitado o máximo possível satisfazer aquele vício quando se encontrava em casa, para se poupar de lamentações e ou críticas do pai.

A primeira lufada ao se dissipar de seu campo de visão, viu os demasiados corpos balançarem-se espontaneamente enquanto a voz feminina embarcava em notas mais baixas e sensuais, emitindo palavras enrroladas a dialeto

– Sabia que ias adorar cá estar. – disse-lhe, ao pé da orelha.

A rapariga somente deu-se entre risos e sorrisos enquanto aquela sensação um tanto familiar de a nicotina estar se posicionando em locais perfeitos do seu corpo. Ainda que sua visão se tornasse um bocadinho borrada, seu corpo tornava-se tão leve quanto a pluma de uma garsa, seus movimentos eram inconscientes, seu coração batia conforme as notas da guitarra, e seus pulmões libertavam ar consoante o simples expelir melodioso da vocalista.

Era nesse mesmo estado que Marie adorava expressar boas pinceladas à cada monótona tela branca, enquanto desejava veemente uns rouxinóis ao arco de sua janela ou o mero cantar destes.

Se sentia completa naquele exacto instante, até uma avalanche de arrepios tomar seu corpo encostado a uma das paredes de concreto enquanto, involutariamente, suas mãos tomaram caminhos desconhecidos excitantes do corpo de Alexandre assassinando beijos vorazes e dinâmicos, degustando do nada especial mas delicioso mesclar de ambas salivas para cada investida e remate da sua língua serpenteante.

Quando o frio atingia-lhe as costas, Alexandre dedicou-se a protegê-la sem nem sequer desfazer-se daquela maravilhosa união.

O corpo dela havia se tornado num alvo do seu que já pulsava de excitação devido a incapacidade de conter mais prazer latejante que predominava em si e terminavam bem na concentração da sua braguilha.

Parecia inconveniente e não muito correcto estar cometendo um atentado ao pudor naquele patrimônio cultural. Mas então a que se traduzia cultura se não fosse aquilo que estava a fazer? Inconveniente e erradíssimo seria se continuasse em mente se debatendo com isso enquanto estava perante um acto que respondia ou questionava a vários dilemas que se enfrentavam nos dias presentes.


As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora