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Rosas

Olá! –– abriu um enorme sorriso do qual se envergonhou dois segundos após. Às vezes sentia-se uma parva.

Os três olharam-na e aquele rapaz fazia-se no meio dos outros dois.

–– Marie! –– os olhos de Alexandre hiperbolicamente arregalaram-se –– Feliz consigo mesma?

A jovem deu de ombros com um torto sorriso.

–– Mais ou menos? –– respondeu hesitante.

–– Oh sim! Alfredo, Pascoal, esta é Marie... –– virou-se para ela uma outra vez –– qual teu último nome?

–– Fonseca.

–– Marie Fonseca. Marie, estes cavalheiros desprovidos de beleza e sabedoria são íntimos meus. Senhores Litumes e Gramiã, respectivamente.

A jovem imediatamente estendeu sua delicada mão aos recentes conhecidos, alegando com o costume cortês do quão era prazeroso conhecê-los.

–– Olha, eu não quero mesmo atrapalhar, mas sabem... –– coçou a nuca –– não tenho ainda o par, e bom, quero saber se um de vocês ainda está disponível.

Alfredo com o porte exageradamente alto e magro com serenidade revelou-lhe um sorriso aristocrata:

–– Seria reciprocamente prazeroso, porém recusar-lhe por indisponibilidade dói-me tanto o coração. Mas ouve, ainda acho que Shakespeare podia ter feito menos drama.

Aparentemente, Alfredo tinha um senso de humor extraordinário. Os quatro entoaram desajeitadas gargalhadas.

–– Eu mesmo tenho já um par. –– desculpou-se Pascoal.

–– Namoros levados muito a sério –– sussurou Alexandre ao ouvido da rapariga, a fazendo rir.

–– Alexandre, me pareces o único com disponibilidade, meu caro. –– rematou Alfredo com certa ironia.

–– Sabes que trabalhos colectivos têm me custado a integridade moral e cívica. –– se justificou o rapaz mediano, da camisa cinza. –– No entanto, não nego que me maravilharia com seu companheirismo, Marie. Tens algum segundo nome?

–– Todo mundo tem um, Lennon. –– observou, provocante o comprometido.

–– Lennon? –– inquiriu, algum bocado confusa Marie. –– Ryie serve?

–– Isso é um diminutivo, criativo tenho de dizer, mas não um sobrenome, caríssima.

A moça tomou consciência que estava diante de rapazes com senso de humor inestimável e incontestável.

–– Lisete.

–– Encantado, Lisete ! –– beijou-lhe a palma da mão carinhosamente.

Para além da sensação gostosa que percorreu seu corpo, perambulou no mesmo, inocente, a vergonha. Quem ainda tinha estes costumes? Questionou-se em seu íntimo.

Pascoal pigarreou discretamente lançando de relance os olhos ao relógio de pulso.

–– Eu vou já andando. Desculpem-me meus senhores. Minha dama. –– mesurou uma leve vénia –– Compromissos aguardam-me. –– anunciou o caneco.

–– Com a mais toda a boa educação, meu jovem, ouso em lhe dizer que estás engarrafado. –– brincou Alfredo.

–– Não me irei alongar para responder as suas provocações, Litumes. Com licença. –– mesurou mais alguma ética renascentista, abandonando o pequeno aglomerado, com o semblante sereno.

As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora