III

30 2 0
                                    

Rosas

"We only said goodbye with words, I died a hundred times, You go back to her, And I go back to..." Assim começava a manhã nublada, na casa. Enquanto a voz de Winehouse era expulsa da aparelhagem de som, Marie rebolava o quadril ao mirrar-se no espelho do aparador da modesta sala de estar, acompanhando a voz rouca e grave, simultaneamente terna, e sentimentalista, em cada verso entoado.

O aroma proveniente da cozinha –– divisão adjacente a sala –– indiciou, ricas omeletes sendo preparadas para o pequeno-almoço, que de acordo com seus cálculos, estava atrasado que ao horário habitual.

Nem a si mesma conseguiria explicar, se tentasse, a euforia que tomava conta de seus actos, desde que pusera os pés fora da cama, o que lhe foi uma tarefa canja nessa matina. Considerou-se definitivamente muito mais que bem-disposta.

O progenitor, a bramou. Em seu relógio de pulso, encarou o tempo real.

–– Dezanove minutos, pai. –– anunciou ela, o primeiro recorde do mês, adentrando na divisão da cozinha.

O homem vestia uma camisa simples, com tais dizeres engraçados, diante do calor proveniente do fogão eléctrico, reparou então sua filha, que estava empenhado em sua tarefa culinária.

–– Nem vou perguntar porque tão cedo te fizeste de pé. –– declarou seu progenitor.

Marie dispôs-se à bancada centralizada do cômodo, saqueando do cesto de palha, um pãezinho fresco.

–– Pois, pois. Hoje passarei mais tarde pelo teu restaurante, para fazer horas extras.

Cristóvão, aparentemente espantado com o comentário, dinamicamente girou em seus calcanhares, e fitou sua filha, franzindo o sobrolho.

–– É sábado, não precisas lá ir ter! Temos pessoal suficiente hoje.

Seguidamente, a jovem o sobressaltou, com uma adversidade:

–– No entanto, faço questão das minhas utilidades. –– argumentou –– Tanto mais que depois da sessão no clube, estou desocupada, aliás, nestas férias é no que realmente se resumem os meus dias; desocupação. Mais uma ajuda, não prejudicará, pelo contrário, vem mesmo a compensar.

Deparando-se sem mais desculpas, Cristóvão encolheu os ombros. Entretanto, o orgulho que tinha por ela, uma outra vez, ganhava um acréscimo.

–– Tinhas que ser persistente mesmo! –– observou o adulto, com um riso –– OK, então fico à tua espera.

–– Roberta ligou-me ontem. –– rematou, com o ar despreocupado.

–– Ai sim? –– questionou o homem de meia-idade –– Já não a via, faz muito tempo. Pensei que não se falavam mais.

–– E não nos falávamos. Apenas atendi a chamada e, ela disse que iríamos juntas ao clube hoje.

O pai, não muito convencido com a pouca afirmação da moça, corroborou seus pensamentos em torno dos possíveis motivos que surpreendentemente fez com que as duas raparigas simplesmente não mantivessem mais contacto então. Além do mais, acreditava que Roberta, fora uma das melhores amigas que Marie pôde alguma vez ter. Contudo, não estava no direito de indicar as relações duma mocinha quase já adulta.

–– Tudo bem. Até acho uma óptima ideia irem juntas. –– aprovou, convictamente, Cristóvão.

XXX

–– OK, OK, podem ocupar os respectivos lugares, que logo a seguir daremos início. –– anunciou a jovem baixa, com o cabelo cortado.

–– Esta quem é? Parece-me faminta. –– sussurou no seu ouvido, Roberta, mais que suficiente para que somente Marie ouvisse, o aspecto magro da moça, em seu julgamento.

As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora