XII

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Rosas

Em uma noite de constelação vigorosa sobre corpos beirados a um solo onde possivelmente fora determinado para habitat de outros seres, e logo depois do declínio da planície os sons de uma corrente límpida de água vindo desde seus pés abafando a cada sussuro vaidoso de versos provenientes das suas extensas horas dedicadas à vastidão da literatura em que vezes a outra podiam desatar mais com sua tão preciosa atenção, as suas tranças brincavam no poder de seus dedos.

Sim, era uma ridicularidade e tanto pensar num cenário destes. Mas que havia de dizer? Ou mesmo fazer?

Entre sua lista de possibilidades para se livrar desses seus recentes deslizes, o prazer solitário; nocivo à saúde (segundo seu dicionário) com certeza já estava riscado. Muito pelo contrário, era tão frustrante ter que se tornar dependente do acto cujo A Sagrada Bíblia – pregada e rogada pelos responsáveis da mesada que cobria metade de seus caprichos mundanos – condenava sem meio-termos em questões indulgentes, mas, claramente, isso mal passava de uma superstição para alojar dentro de sua consciência jovem pagã embora baptizada – uma descoberta revolucionária de sua conduta diante de seus segmentos religiosos.

Parando para reflectir melhor, se envergonhava do quão nojento sua masculinidade era, e podia acrescentar a isso um orgulho tolo, o qual os outros preferiam chamar dignidade de um verdadeiro homem. No entanto, não era por esse parâmetro que as coisas deviam ser encaradas.

Todo esse julgamento não estaria a acontecer caso ela fizesse a escolha menos insensata, em uma lógica generalizada, de manter-se no seu canto com o pensamento efémero de que lhe ligaria mais cedo ou tarde, ou então que o tempo tomaria conta da situação embaraçosa em que se sentia com a cabeça mergulhada.

In Utero. Rabiscou na sua agenda enquanto tentava absorver a informação da aula aparentemente impenetrável em sua base de dados. Aliás, tudo o que lhe rodeava veio a tornar-se escandalizadamente monótono.

Alexandre sentia-se fodidamente perdido por conta de seu desejo absurdo. É óbvio que a menção de todo este melodrama que parece vivenciar não se aplica ao modo literal das coisas porém não fazia parte de exagero nenhum ou talvez somente um bocadinho.

Entre a agitação citadina decidiu finalmente atender o celular porque, possivelmente, daria respostas menos ponderadas.

– Marie. Olá! – elevou a voz para transparecer nada nervoso e, convenhamos, no meio de um barulho estrondoso de trânsito, não era indelicado.

Finalmente atendeste! Estou óptima obrigada, mas se poupe dessas gentilezas. – ... então ela sabia, pensou e isso deixava-lhe mais folgado – Olha, temos que acertar os pontos da nossa pesquisa, o que na verdade não são pontos, pois desde domingo não entramos em sequer uma discussão, isso para dizer que estamos muitíssimo atrasados. Então pensei em fazermos isso o quanto antes porque amanhã é sexta-feira e o restaurante do meu pai estará lotado e já podes imaginar... podemos nos encontrar num lugar qualquer em meia hora.

– Melhor um local que nos dará o máximo de privacidade, preciso de concentração para essas cenas. – rematou.

Oh!... então, na tua casa?!

– Ah, não. Está uma porquice aquilo, dá vergonha! Doutra vez falaste-me que usas a cave para pintar e tal, se calhar seja um lugar apropriado, e circundados de arte penso que me ajudará.

Era mentira, claro. Ele mal habitava aquele cubículo. A única coisa que conseguia se lembrar era de não ter feito a cama antes de ter saído. Acontece que ele era homem demais para resistir à tentação do corpo feminino da jovem Ryie preenchendo o enorme vazio da sua cama com as pernas cruzadas em forma de borboleta e com o rosto todo corado ao perceber que lhe penetrava a alma através do olhar dedicado que ele teria nela.

O diálogo terminou imediatamente após ouvir sua voz tão cuidada deixar um até logo, então e escorregar o celular pelo bolso interno das calças.

As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora