XIV

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Assim que a porta bateu atrás de si, descalçou as botas sufocantes e se livrou das roupas quentes para se dispor em sua banheira e sentir seu corpo e a água quente nela contida a estabelecerem a temperatura de equilíbrio.

Queria deixar todos pensamentos que tinha por executar para algum momento menos inoportuno, pois, na verdade, ainda não se sentia confortável em fazê-lo mediante tanta confusão em seu interior, afinal, não se decide uma orientação sexual da noite para o dia. Tomava lá o seu tempo.

O rapaz, nem percebeu a súbita presença de seu companheiro no quarto de banho. Este simplesmente arreou as calças e se juntou a seu namorado na banheira quente, começando por lhe dedicar breves massagens nos pés escalando-os acima, lentamente, até sentir o tronco de Alexandre dotado por músculos salientes na região do abdómen. Subira mais calmamente até aos mamilos e executou movimentos que o fizessem sentir a respiração desenfreada de seu namorado.

Estava vulnerável. Parecia perplexo mas estava sensível ao mínimo e inocente toque seu. Ambos pénis estavam erectos. Era a este dilema que Alexandre guardava para mais tarde. Não conseguiria se decidir entre maçãs e bananas. Era evidente que ambos, causavam-lhe calafrios. Não podia simplesmente abdicar de sua necessidade biológica por uma convenção social ou um mandamento bíblico escrito por sabe-se lá quem o seguir.

Jerónimo com tal calma, explorou o pescoço de Alexandre com beijos mais intensos, envolvendo toques em pontos críticos do corpo de seu namorado. Pois então, ouviam-se já gemidos que se continham na boca de Lennon.

- Tive saudades tuas, anjo! – disse Jerónimo ao pé do ouvido de seu namorado incluindo a isso uma pegada inesperada no membro longo e volumoso dele. – Sinto falta disto – agora era a vez dos testículos - ... e disto, - por fim passando o indicador esquerdo na entrada da abertura do ânus.

Alexandre não mais podia conter seus gemidos de excitação. Deixou seus gritos de prazer ecoarem pelas paredes revestidas por azulejos de fabrico colonial português do quarto de banho. Podia sentir que todos os comandos de seu sistema nervoso, correspondiam à cada estímulo de Jerónimo.

Foi a vez de Alexandre puxar o namorado pela nuca e enfiar a língua afiada por entre os lábios dele e deixar ambas salivas mesclarem-se, fundirem-se a um único sabor. Num solavanco, Alexandre tomou as rédeas da situação colocando seu parceiro por debaixo de seu corpo atlético o que fez com que este ficasse com a cabeça submersa na água da banheira.

- Vejo que preciso cuidar de ti, querido. – se retirou da banheira saindo em direcção ao quarto exibindo seus glúteos perfeitos que dançavam ao andar; o que só causou mais tesão em Jerónimo que estava louco por tê-lo.

Em baixo de sua cama, havia lá uma caixa de madeira, de onde retirou o lubrificante à base de água e dois preservativos e voltou directamente para onde estava o seu amante.

Não podendo mais esperar abriu o pacote e deixou o líquido pingar em seu pénis e Jerónimo percebeu que era a sua vez logo que Alexandre terminou o processo. Houveram mais beijos nisso e começou toda a selvajaria típica homossexual.

Exactamente no chão gelado do compartimento, o pénis de Alexandre preenchia Jerónimo com delicadeza até ouvir o gemido descuidado de Jerónimo percebendo que tinha todo o seu membro dentro do namorado.

A noite se exibia com lua cheia, alguns filetes daquela iluminação banhava ambos corpos. Alexandre tirava grunhidos, Jerónimo gemia descaradamente, o sexo estava bom, e foda-se a homofobia. Se tratavam de necessidades biológicas diferentes. Somente isso.

XXX

Os amantes estavam deitados na cama depois de duas horas fazendo jus ao tempo em que andavam destreinados. Pelo menos, Jerónimo, pois Alexandre tinha tido um encontro sexual que não poupou-lhe esforços até atingir seu prazer; o mesmo prazer que estava agora se deleitando no abdómen liso de Jerónimo que subia e descia procurando resgatar o fôlego.

- Nada mau, senhor Lennon! Nada mau... - dizia ele com um sorriso brincando nos lábios finos que estavam no momento inchados; resultado dos beijos animalescos e carinhos jeitosos que tivera de fazer para reanimar os 7,5 centímetros do namorado à cada round terminado. Alexandre manteve-se calado, sentindo seu sangue retornar às devidas cavidades e alojamentos de seu corpo.

Tinham em mirra os dois, o teto branco com algumas rachas e a tinta a descascar-se.

- Te falei que irei viajar ao final do mês? – perguntou Jerónimo, querendo voltar a colocar um pouco de casualidade ao encontro.

Alexandre virou o rosto para o namorado, arregalando os olhos, surpreso. Merda, pensou.

- Penso que sim. – respondeu com a voz embargada – Nampula, certo? – colocou o braço direito atrás da cabeça e voltou a encarar o teto branco.

- É! – respondeu. – eu estava a pensar... como o semestre terminará daqui a três semanas, tu podias ir comigo. – virou o corpo para o lado querendo ver a primeira expressão de Alexandre que não foi tão entusiasmante como estava à espera. Na verdade, Alexandre parecia um bocado distante com o olhar profundamente sério. – Hey, não te parece boa ideia?

- É uma óptima ideia, meu anjo. – como se o seu espírito tivesse abandonado seu corpo, seu rosto iluminou-se. Acariciou a bochecha do namorado, apreciando cada contorno do rosto esguio do mesmo. – só que eu preciso resolver alguns assuntos cá. E sabes que meus pais vêm sempre ter comigo depois de findado o semestre. E bom, meio que eles ainda pagam os custos das minhas mordomias.

Jerónimo entristeceu um bocadinho, mas estava anestesiado pelo toque sereno de Alexandre. Estava a começar a ficar excitado...

- Hmm, eu gostaria tanto de ir a uma daquelas praias paradisíacas contigo, e claro, fazer-te gozar como nunca dentro de águas cristalinas. É, digamos que para já essa é minha fantasia, querido! – Jerónimo voltou a fitar o teto enquanto imaginava aquele cenário. Podia sentir a erecção a voltar-lhe.

A verdade é que não era conveniente deixar Maputo, tendo um pendente com Marie. Mas caso ele o resolvesse, estaria automaticamente colocando em cordas bambas a sua duradoura relação homossexual. Embora ter que a esconder do mundo e principalmente de seus entes mais queridos, Alexandre gostava do sigilo, aliás, tornou-se adepto, assim que Jerónimo pensou em tal coisa quando ambos assumiram seus sentimentos um para o outro tentando encontrar soluções desejassem amadurecer tal vínculo que passados bons dois anos estava em uma óptima situação.

Alexandre a partir daí conseguiu enquadrar às palavras: respeito, lealdade e fidelidade os respectivos e verdadeiros significados.

Olhou para o rosto belo e másculo do parceiro e suspirou levando à sua bochecha um cálido beijo.

- Jerónimo, eu gostaria imenso de ir ter contigo, meu anjo, mas infelizmente o mundo se calhar nunca estará preparado para nós. Digo, não somente tu e eu, mas sim todos os não heterossexuais. Eu queria tanto poder colocar à nossa volta uma cúpula de aço, fazer com que quaisquer que fossem os impedimentos tivessem teor nulo assim que atingissem as paredes de nosso amor... - suspirou antes de continuar – Mas não posso. Não posso mesmo. Às vezes me pergunto se não me estou iludindo...

A cara de Jerónimo se trancou e logo repreendeu o discurso do namorado:

- Não, Lennon, não irei deixar que faças isto comigo, connosco. Nem tu, nem teus progenitores, nem quem quer que seja, percebes-me? Não vou deixar isso acontecer... - encheu o peito de ar e logo o libertou deixando a nuca cair sobre a almofada – Eu te entendo, por vezes a invasão do medo de um dia não mais poder acreditar naquilo que és destrói-te, mas isto é uma batalha interminável. Todos os dias constituirão luta para nós.

- Eu acho que sou bissexual, Jerónimo. – rematou Alexandre, sem pudor e nem pensar mais.

As Rosas de VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora