Capítulo 21: Lidando com a indiferença

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A indiferença é a maneira mais polida de desprezar alguém. - Mario Quintana

Lauren quem dirigia aquela noite, seguindo até um dos únicos bairros da capital que poderia ser considerado nobre sem ser destinado aos turistas. Chamava-se Vedado, com uma localização privilegiada na costa do litoral onde os respingos do mar pareciam salpicar a porta do carro.

Era uma paisagem exuberante que custava caro. Razão pela qual, basicamente só conseguia bancar uma vida ali quem, ou trabalhava nos altos cargos do governo de Raúl Castro, ou estava próximo o suficiente do comando dos negócios de Lemon Bishop. Camila não sabia qual deles repudiava mais.

Ali os muros eram enormes, talvez para tentar esconder que casas maiores ainda, com seus jardins bem cuidados, estavam instaladas apenas alguns quilômetros de um centro urbano, onde dezenas dormiam nas ruas. Parecia que a desigualdade era proporcional à hipocrisia.

– Se importa? – perguntou Camila ao puxar um maço de cigarros junto à um isqueiro do bolso do casaco, contudo Lauren não lhe deu uma resposta. Ela apenas colocou uma parte do cabelo atrás da orelha esquerda e baixou os vidros. O vento fresco da noite as atingiu.

Particularmente, Camila gostava do cabelo dela daquela forma. Gostava do seu aspecto mais selvagem quando estava todo solto, com a franja para trás e parte de uma mecha atrás da orelha, para não atrapalhar sua visão dirigindo. A gargantilha no seu pescoço combinava com seu batom e a afirmação de que aquela jaqueta de couro a deixava gostosa parecia redundante.

Lauren Jauregui estava uma droga de tão linda aquela noite, embora não tivesse trocado mais que algumas frases soltas por todo o dia. Mas, Camila já tinha uma teoria a respeito.

Seu isqueiro chiou antes de voltar à sua bolsa, substituindo o ar fresco que entrava no carro pela fumaça de sua primeira tragada. Fumar era um péssimo hábito, ela sabia bem, mas era o tipo de relaxamento instantâneo que funcionava quando era necessário manter as coisas em sua cabeça em ordem. Funcionava como uma âncora.

E antes que pudesse retornar o cigarro aos lábios, o carro fez uma curva que as levou até a entrada de uma propriedade particular. Havia um segurança no portão automático que perguntou seus nomes, o que Camila achou que faria Lauren acabar com aquela droga de silêncio incomodo, mas se enganou. Sua parceira se limitou a mostrar o convite e um par de minutos depois já buscavam onde estacionar entre as vagas livres na frente do jardim.

– Finalmente uma festa onde posso usar sandálias. – confessa Camila antes de descer do carro para o jardim de Shawn Mendes, mesmo sabendo que Lauren não responderia.

E ela não respondeu. De novo. Tão pouco veio ao seu encontro para darem as mãos, como já era comum entre Karla e Michele, na entrada de algum evento. Ao invés disso, a agente do FBI se manteve distante, como durante todo o percurso, seguindo em silêncio até a porta traseira e tirando de lá sua bolsa.

Na verdade, silêncio havia sido a única coisa frequente a acontecer entre elas naqueles dois dias.

Após o momento onde Lauren havia lhe mostrado o convite para aquela festa, com toda a coisa das flores brancas e tudo mais, suas interações se restringiram as coisas ligadas a missão. O que era chato demais, na opinião de Camila, além de ser suspeito.

Sem todas as brigas, farpas trocadas e piadinhas sexuais, suas interações se resumiam as notificações de novos documentos e transcrições relacionadas ao caso, ou, às vezes, nem aquilo. Não quando a leite talhado sumia de forma estranha por duas tardes seguidas, sem grandes explicações sobre seu paradeiro, o que fazia Camila questionar se ela não estava escondendo coisas e realizando parte daquela investigação sozinha.

Agente Cabello ♔  camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora