Capítulo 3

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Lisboa, 15 março 1998

Querido Hans,
Realmente tens razão! Ambos nos transformamos nos monstros que nos assombravam em jovens. Tu não... és médico Hans! Alcanças-te o teu grande objetivo.

O meu grande erro foi, de ao contrário de ti, ter idealizado sonhos, criado expectativas e não objetivos, níveis a alcançar.

De uma certa maneira sinto-me como tu: presa, mas não parada. Sinto-me presa na vida e a afundar-me nas minhas escolhas.
Eu sinto muito que não te sintas valorizado, logo tu, sempre tão seguro de si mesmo. Não compreendo como uma pessoa com tanto valor, dedicação, persistência à tua semelhança, chega aos 30 anos tão pouco satisfeito consigo mesmo. Oh Hans... mas quem sou eu para falar, fazer juízos de valor ou até mesmo questionar seja o que for. Logo eu, Júlia Severo, a miúda conhecida por ser uma "sonhadora", uma eterna criança, inocente, doce e ingénua, que se transformou numa mulher de quase 30 anos que pouco ou nada faz pela sua vida e que deixou a viagem trazê-la até ao mais triste destino.

Não consegui realizar o meu sonho de ser hospedeira, inclusive o mais longe que já viajei foi até ao fundo da minha própria existência, onde à muitos anos me perdi e onde até hoje me encontro presa e sem saber como voltar.

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