Capítulo 8

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Gotemburgo, 7 de maio 1998

Minha amada Júlia,

Espero que a nossa conversa ao telefone tenha sido tão intensa e especial para ti como para mim. Esquecera-me o quão boa conversadora eras e a falta que eu sentia de ouvir essa voz suave e angelical.

Como é bom mantermos um contacto tão direto mesmo depois de tanto tempo. É engraçado como as coisas vão evoluindo. Primeiramente, limitavamos-nos às cartas, às encomendas, aos postais e tudo o resto. Actualmente já vivemos num mundo onde é mais normal um contacto direto, como os telefones e internet, que eu confesso não ter sido um grande adepto no início, quando o hospital implantou os novos sistemas de registos e funcionamento onde tudo girava à volta de plataformas online e emails.

Como te disse pela chamada, as pessoas tendem a criar formas de acelerar tudo: a maneira como as coisas são feitas, a maneira como as pessoas se relacionam. Todos querem apreçar tudo porque já ninguém tem paciência para esperar. Esperar tornou-se uma maneira de morrer mais rápido, assim pensam eles.

Hoje em dia, à quem ache que apenas estaremos felizes se estivermos em mudança, todos se cansam de esperar e porquê? Sentem o mundo a girar mais depressa? Não, ele não gira. Para quê continuarem com tanta obsessão por terem tudo nas mãos sem esperar pelo momento certo? Por mais que tentem ter o poder e o controle de tudo o que está em nosso redor nas palmas das suas mãos, por mais que tentem serem senhores e donos do mundo, ele continuará a girar a mesma velocidade. Há tempo para tudo acontecer e se mesmo o universo tem calma quem somos nós para andar sempre com pressa?

A pressa é inimiga da perfeição como tu um dia disses-te. E quando esta desajeitada prima da ambição está presente, atrapalha em muitas outras coisas importantes, como tirar um segundo para olhar a nossa vida, para sorrirmos a um estranho e melhorar o seu dia. Perdemos a oportunidade de dizer 'amo-te' a quem está do nosso lado, e no final da toda a pressa o tempo não volta atrás.

É verdade Júlia! Apesar disso tens razão, as nossas cartas existem para podermos escrevermos nos a nós, contudo existem certas coisas em que o papel e a caneta não são suficientes, como neste caso, onde eu entendi o porquê de tanta aflição para me contactares a dares aa grandes novidades.

Nem eu consigo conter tamanha alegria dentro de mim, não imagino tu então.

VAIS SER TIA JÚLIA! Os meus mais sinceros parabéns. Fico tão contente por saber disso e tenho 100% de certezas que irás ser uma excelente tia e que ensinarás todas as coisas que a vida tem de melhor para dar ao teu futuro sobrinho/a.

Nunca cheguei a conhecer a tua irmã,  naquela altura ela ainda era muito jovem, 13 anos não era? Mas pela maneira dócil e amorosa como a descrevidas, sempre tive em conta que a vossa relação era extremamente próxima e verdadeira.

Espero que felicites a Alice e lhe dês os meus mais sinceros parabéns. Felicita-a por tão fantástico acontecimento e abraça-a por mim.

Quem me dera poder estar a teu lado, abraçar-te e beijar esses teus lábios rosados e finos, estar perto de ti nesse momento importante que será o dia de segurares pela primeira vez o  novo membro na família nos teus braços.


Sou ateu, desde à muitos anos que me assumi assim como tu sabes, e por essa mesma razão nunca gostei de invocar o nome de algo em que não sou crente, só para me expressar em horas de desabafos.

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