Capítulo 7

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Lisboa, 29 de abril 1998

Meu Hans,
Depois de 30 anos de vida continuo sem saber outra coisa que me faça tão feliz quanto as tuas cartas, quanto as tuas palavras, quanto tu.

Poderia te dizer tanta coisa para te agradecer mas não sei que mais elogios de dar para descrever o quanto significas para mim e o quanto a minha vida tem mais sentido contigo no papel principal.

É me tão reconfortante ver que sempre te lembras-te de fazer chegar até mim o livro com o qual me deste a change de te olhar fundo. Foi deveras um dos melhores presentes que alguma vez recebi.

Sendo assim, parece que quem continua com promessas por cumprir sou eu. Infelizmente, a minha promessa parece ser ligeiramente Mais complicada de resolver visto que não te posso enviar Belém pelo correio. Seria extraordinário se tal fosse possível, no entanto espero conseguir fazer-te sentir lá, não só em Belém, como em 1986, em cada um dos dias que passámos juntos, a sentir o cheiro fresco do rio e a olhar para os olhos um do outro iluminados pelas cores quentes de cada pôr do sol.

Sou uma flor, aquecida pela luz vibrante que o Sol emana e pela energia viva e reluzente que ferve em cada canto de Lisboa, a cidade que construiu cada célula desta mente de liberdade.

Confesso-te Hans, é estranho dizer para todos que tenho 30 anos. Eu, Júlia Severo tenho a partir de agora 30 anos. Três décadas, e isso ninguém pode mudar.
Mesmo depois de tanto tempo passado continuo a achar que vivo num corpo de uma jovem, sinto-me ainda como a criança ingénua que corria pelos passeios embasados de Lisboa e que se deleitava com cada dia de verão, do sol que lhe enchia a alma e fazia o seu coração acelerar-se. Que sentia em cada canto da pele a sensação prazerosa que era comer um pouco de gelado de framboesas, até hoje o meu preferido, enquanto passeava pela baixa, a ouvir os talentos escondidos pelas sombras dos edifícios históricos, cansados, que esperavam o flash dos curiosos.

Continuo a ser a mesma pessoa, com algumas estacas do caminho que não faz bem a ninguém relembrar. Continuo a viver da maneira simples e livre com que sempre vivi e a olhar o mundo com os mesmos olhos verdes, agora mais cansados.

No dia exato do meu aniversário foi-me feita uma surpresa que me deixou de coração cheio e me fez lembrar tanto de ti. Oh meu Hans...

Nunca pensaria em algum dia destes últimos 8 anos que seria presenteada no dia do meu 30° aniversário pelos meus alunos, que se lembraram de mim.

Talvez todos os factos que deleitei sobe eles em papel cavalinho, em alguma das cartas, tenham sido em vão. Talvez as pessoas não sejam sempre a continuação triste de uma sequência de estereótipos colocados sobre cada um.

Eles lembraram-se e abraçaram-me, cantaram-me os parabéns e ofereceram-me um livro, entre risos, como presente de aniversário. Um livro que eu nunca pensei receber de alunos cansados e esgotados que se mostravam em cada manhã do ano como pequenos objetos banalizados de uma sociedade em crescente despersonalização humana.

Uns retraíram-se, deixaram-se de lado, cobertos pela solidão do isolamento, como se fosse uma vergonha presentear uma jovem professora que se mostrava persistente no acompanhento dos seus percursos de vida. Mas eu sabia que esses não achavam errado aquilo tudo ou não se sentiam felizes por ver um sorriso verdadeiro no rosto pálido de um dos seus pilares académicos, muito por o contrário. Esses retraíam-se porque demonstrar gestos de solidariedade para um superior é visto como fraqueza no mundo em que vivemos, por mais triste que seja. Para mim chegou poder ouvir as suas vozes roucas quando gritaram aos mais altos berros cada letra do "Parabéns a você" e ver as suas assinaturas no cartão de aniversário colocado no interior do livro: "As Flores do Mal"

Esperei muitos anos para conseguir entender que as memórias não vêem com as conquistas mas sim com a experiência que nos faz ver a aprendizam depois de casa derrota.

Voltei a sentir cada m³ da minha pele a arrepiar-se pela vida, a pensar em tudo o que gira em redor de mim e que eu desejo ver a acontecer.

Tenho algo demasiado excitante par te contar por carta. Preciso urgentemente de tentar que ouças cada estrio de alegria que soua na minha voz, mas nem sei mais se o teu número continua o mesmo.

O meu segue escrito nas costas do papel da carta como sempre fazemos com os assuntos importantes Hans.

Muito obrigada por teres estado ao meu lado em grande parte da minha vida e teres feito com que ela ganhasse mais cor até chegar aqui.

Agora sim, voltei a sentir tudo o que me havia fugido. Não sei de sensação mais gratificante do que esta, meu Hans.

Da tua eterna sonhadora,

Júlia Severo.

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Para todas as boas novas que tenho para te contar, e para qualquer outro caso futuro em que as belas cartas não sejam o suficiente: 21*******

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