Trinta e dois: Não piore as coisas

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Eu estava extremamente quieta durante a aula de Matemática. Estava obrigando meus olhos a se limitarem olhar somente para a frente, porque hora ou outra eles voavam em direção ao João Felipe.

Ele estava tão quieto quanto eu. Sentado bem distante de mim e até distante da Andressa e da irmãzinha dela.

Meu celular tremeu em notificação. Desbloqueie a tela sorrateiramente.

Era uma mensagem do Rafael. Uma mensagem nada boa do Rafael.

Rafa_01: Como assim você beijou o Gustavo, Júlia?

Suspirei e bloquiei a tela novamente. Logo você, Rafa? Terminei as anotações de matemática e logo o sinal tocou para toda glória!

Juntei os materias apressadamente e fui praticamente a primeira a sair da sala. Eu precisava ir embora. Chega desse lugar por hoje. Não aguentava mais dar explicações.

- Júlia? Onde você vai? - ouvi Pedro me chamar. Sua voz estava chegando perto indicando que corria até mim.

- Indo embora - fui categórica.

- Pensei que tínhamos combinado de fazer o trabalho de Literatura - ele parou a minha frente - Falamos no grupo do Whatsapp. Até o João concordou.

- Desculpa, Pê - eu pedi realmente me sentindo uma idiota por ignorar o que eles tinham falado - Eu estou meio aérea esses dias. Pode me mandar minha parte por mensagem? Prometo que trago amanhã. Eu só preciso ir para a casa.

Ele me encarou preocupado e acentiu sorrindo derrotado.

- Tudo bem e fique bem.

Eu não fiquei nada bem. Nada mesmo. E eu só estava piorando as coisas pro meu lado. Não havia respondido a mensagem de Rafael e não ia até saber o que falar sobre isso.

Troquei de roupa e deixei um bilhete para a vovó em cima da mesa. Eu tinha que visitar alguém.

~~~

- Como assim você beijou um menino que te traiu ano passado?

Tá. Ela quase gritou de tão chocada. Até que eu entendi ela. E Rafael. E Bruna. E Letícia. E todo mundo que ficou abismado com minha idiotice.

- Mãe, você tá em uma casa de reabilitação. Se controla - pedi abrindo a porta para ver se um enfermeiro vinha ver o que era. Não tava a fim de explicar mais nada.

- Desculpa, mas... É bem idiota né, Júlia Senna? - ela cruzou os braços na altura do peito.

- É, bem idiota - eu murchei os ombros - E eu fiz isso na frente do cara que supostamente gosta de mim.

Eu nunca vi a mamãe tão vermelha. Não entendi se de raiva, decepção ou vergonha. Comecei à achar que ela estava passando mal, mas então falou:

- Você por um acaso parou pra pensar que o que você fez com ele é o que seu pai fez comigo?

Páh. Uma faca daquelas bem afiadas atravessou o meu peito e fechei a boca. Minha mente não conseguia raciocinar.

- A diferença é que estávamos casados e que eu não tive que ver, ainda bem. Se eu tivesse visto seria bem mais doloroso - ela disse quase estendendo as mãos para o céu - E imagino que você ainda não conversou com ele sobre isso, né?

- Não - falei baixinho.

- E o Gustavo? - ela perguntou.

- Ele... Ele me pediu desculpa e saiu atrás da Lívia. Porque, bom, eles pareciam estar se gostando, mas... Ela havia guardado isso pra ela, nem mesmo Letícia sabia. Eu não tinha como adivinhar.

- Era só não ter feito - ela disse bebendo um copo de água.

- Mas eu fiz. E agora? Como eu concerto, mãe?

- Dê tempo ao tempo - ela disse.

- E eu tenho tempo para dar tempo ao tempo? - perguntei incrédula.

Clarisse suspirou e se virou para a janela. Desculpa se você tem uma filha adolescente dramática com problemas no ensino médio.

- Já falou com o seu pai? - ela mudou de assunto drasticamente.

Fiz uma careta e cruzei os braços. Eu tinha me esquecido, com essa confusão toda do João Felipe e Gustavo. Até mesmo quando coloquei os olhos em mamãe, eu não me lembrei dele. Ela estava bem melhor do que depois de ter me contado o verdadeiro motivo para sua depressão.

- Nem cogitei a hipótese - continuei com os braços cruzados, mas olhei para ela.

- Você tem que entender que a culpa não é totalmente dele - Clarisse se virou para mim e também cruzou os braços apoiando seu tronco na janela -  Eu continuei carregando esse relacionamento, eu escolhi não te contar, eu... Ajudei.

Abri a boca em um O. Ela não havia ajudado em nada. Ela foi vítima. Como eu.

- Mamãe, - engoli em seco evitando chorar, já tinha liberado água demais do meu corpo -, você não tem culpa de nada. E eu não quero falar com ele ainda. Não estou preparada. E, além do mais, ele nem me procurou depois que soube que eu sabia da história toda.

- Ele soube?

- Otávio contou a ele.

- Ah.

Esse "ah" foi suficiente para eu saber que ela sentia falta de papai. Sentia muita falta dele. E também pode ser uma indireta para que eu cedesse e fosse vê-lo. O que não vai acontecer, ainda.

- Então, eu andei conversando com os médicos daqui - falei pegando minha mochila e arrumando-a nas costas - E eles meio que deixaram você ir ao shopping comigo. Sabe... Fazer umas compras, comer um lanche.

Os olhos dela brilharam e eu agradeci à Deus pela brilhante ideia de Dona Esmeralda, que, por sinal, estava nos esperando na porta da clínica com seu óculos de sol poderosos dentro da sua Range Rover igualmente poderosa.

É aquela coisa... Se você não deve piorar as coisas, faça-as melhorar. E comece melhorando a vida de quem está do seu lado, mesmo que a sua esteja uma verdadeira bosta.

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Olá, meus queridos leitoreees!

Esses últimos capítulos que tenho postado tem  um espaço enorme no meu coração, pois é através deles que venho a evolução da minha escrita através desse livro - ainda que não esteja exatamente do jeito que eu queria que estivesse. Enfim, o livro está quase chegando ao fim e queria agradecer pelo apoio que tive até aqui.

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Beijos, gente!

Câmbio, desligo!

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