3 de agosto de 1986

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Querido Diário,

Só para completar, passei o resto do dia com Troy nos estábulos. Estar com ele me relaxa, e voltei para casa nessa tarde sentindo-me forte, completamente nova por dentro. Não me perturbei pensando que fui má, ou errada, por ter feito o que fiz. Eu tinha decidido parar de ser machucada e judiada por aquele homem. Um homem do qual eu só sei o primeiro nome. Não sei onde mora, de onde vem. Mas vou fazê-lo voltar. Não há prazer num jogo de tortura se a vítima pára de sofrer.

Isso foi há mais ou menos duas semanas... não, talvez uma. Me concentrei muito depois disso. É bom sair com Bobby Briggs. Ele sempre está onde eu quero que esteja, com qualquer coisa que eu quero que ele traga. Ontem resolvi que ele esperara muito tempo para ficar comigo do jeito que ele quer. Eu, também, já me cansei de só ficar no malho e voltar para casa com a sensação de que tem uma rolha enfiada dentro de mim, impedindo o que eu tanto quero que aconteça.

Mas eu quero que ele me veja como a garotinha de catorze anos que acha que sou...

Papai e mamãe saíram a tarde toda, e eu avisei que também estaria fora, mas que queria ajudar no jantar, por isso estaria em casa por volta das seis e meia. O rosto de mamãe brilhou ao ouvir isso. Eu tinha que manter meus pais felizes. Tinha que continuar gostando deles, como esperavam que sua garotinha gostasse. Tinha que suportar o que não escolhera, mas que simplesmente me fora dado. Duas vidas. Duas vidas muito diferentes. A sapeca da Laura tinha um encontro com Bobby Briggs em Low Town. Ele disse que conhecia um celeiro abandonado onde ninguém nos encontraria. Gostei da idéia de poder tê-lo só para mim em um lugar onde eu pudesse deixá-lo louco. Fiquei nervosa, um pouco, porque saquei que ele não era o BOB que eu tanto odiava, mas o Bobby que paquerara a risonha Laura Palmer e perguntava se ela queria ser dele. Não importa, eu faria o que ele precisasse. Eu sabia que ele estava ciente de que eu nunca transara com outro cara... sabia que seria diferente com alguém que tivesse cuidado... sabia que ele me faria voltar aos meus treze anos, quando aprendi a gostar da mão de um homem, à noite em um rio, e chorei porque ele se fora tão depressa. Não podia me deixar levar por isso. Sabia que tinha que ser forte. Podia fazer com que BOB me observasse agora... a qualquer momento. Não podia me apaixonar... certamente não de um modo declarado. Bobby era bonito, e eu diria que ele estava nervoso porque não conseguia pronunciar bem as palavras, e o cobertor que ele trouxera na garupa da bicicleta insistentemente não ficava estendido do jeito que ele queria.

Isso o deixou nervoso, porque eu equilibrava uma garrafa de vodca, uma pequena para os dois, e um baseado (já fumado) entre os dedos, e já não estava tão firme quanto gostaria, e acabei caindo de joelhos para evitar que algo se quebrasse.

Ele ficou muito mal, mas dei um jeito de ele se sentir mais um herói do que um estúpido. Ele não era nem um nem outro, mas deixei-o erguer-me do chão e me apoiar em seu braço. A única coisa que eu pensava era em tomar um drinque e fumar um pouco para poder relaxar. As coisas ficam muito mais fáceis quando me sinto solta e confiante.

Uma das razões de eu gostar de Bobby é que ele consegue maconha sempre que eu peço... tem um amigo que nos compra álcool, sempre que eu quero. Eu gosto disso, dessa espécie de devoção. Gosto do jeito como ele se move, em minúsculas ondas, quando me debruço sobre ele e digo: "Estou a fim, mas vamos com calma". De seu sorriso imediato e de sua prontidão quando assumo o comando.

Afinal, pela primeira vez eu estava começando uma experiência sexual com interesse e afeição. Um pouco de controle sobre mim mesma. Sabia que ele tomaria as iniciativas quando eu deixasse. Mas, por ora, se era para ele continuar a me oferecer pequenos prazeres, queria que sentisse que era algo muito valioso... que ele não escolhera um peixe morto, como prometi jamais ser.

Uma hora depois, após me divertir com os lábios dele, e ele vez em quando alimentá-lo com maconha, ou vodca, eu estava pronta, e disse a ele para se deitar e imaginar o que quisesse. Disse-lhe para construir um sonho em sua cabeça e deixar a imaginação me seguir. Era só para ele, nós dois sabíamos disso. Eu o pus, rígido, em minha boca, e tinha na cabeça a imagem das mãos de BOB fazendo nele mesmo... quando ele me fez segurá-lo com a mão... e então estava de volta ao celeiro. Diminuí a velocidade, encontrei o ritmo que ele gostava, e, mantendo a língua sempre em movimento, eu subia e descia a boca em volta dele, seguindo os barulhos que ele fazia,os gemidos... ouvindo com delicadeza, certificando-me de que o mantinha onde ele queria estar. Dessa vez não se tratava de atiçá-lo para ter ou não prazer. Ele gozou do jeito que imagino que os homens gozam... subitamente, depois de uma longa escalada interior, e sentou-se ereto com um olhar de assombro e admiração... de gratificação. Um sorriso.

O diário secreto de Laura PalmerOnde histórias criam vida. Descubra agora