20 de outubro de 1985

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Querido Diário,

Pouco mais de uma semana e tenho mais novidades. Desculpa por não ter escrito, mas realmente parece que tudo enlouqueceu por aqui... bem, pelo menos aqui dentro de mim. Em casa está tudo na mesma. Em geral muito irritante. Meu Deus, sinto-me às vezes tão amarrada, como se tivesse que manter esse sorriso constante no rosto ou todos iriam cair em cima de mim.

Será que a dor, não a do tipo que acontece quando seu gato é assassinado, ou quando a sua tia morre, mas daquele tipo que você tem que conviver... será que ela pode ser boa? A dor como uma sombra ou companhia. Será que é possível...

Seja como for, a novidade é estranha. Estou um pouco nervosa pelo tanto que gostei de correr todo aquele perigo, mas vou lhe contar tudo, e do fundo do meu coração. Talvez seja como meus sonhos, menos difícil de entender se a gente puder ver no papel.

Vamos lá.

Na quinta-feira passada, anteontem, Donna e eu voltamos ao Book House, mais ou menos às quatro horas da tarde. Acho que fomos esperando encontrar Josh, Tim e o outro amigo deles, e talvez enlouquecer com outro cigarro daqueles. Nós nos vestimos especialmente para isso, nada muito exagerado ou louco, porque conhecemos praticamente todas as pessoas da cidade e não queremos que nossos pais fiquem sabendo. Mas estávamos com saia bem curta e um pouco mais apertada do que as pessoas aprovariam, menos os rapazes, é claro, e usamos um pouco de maquiagem que a mãe de Donna, a sra. Hayward, deu a ela na Páscoa porque Donna insistia em usar as dela e a mãe queria que ela tivesse as suas próprias.

Bom, vamos lá! Chegamos ao Book House e não havia ninguém além de Big Jake Morrissey, que é quem cuida do lugar. Vou falar um pouco sobre esse lugar que é pra você saber onde eu estava. É um bar, em geral para rapazes - permitem-se mulheres -, mas é mais como um "clube do Bolinha". Há livros espalhados pelas mesas e em prateleiras, que cobrem três de suas paredes, até o fundo.

Cheira a cigarro, sabão de barba e café. Há sempre café pronto. E dessa vez notei uma foto do homem perfeito para as minhas fantasias! Não disse nada, é claro, mas ele era perfeito.

Ele era rude e forte, mas tinha olhos doces e pele macia.

A foto mostra ele de jeans e jaqueta de couro, segurando um livro e sentado em uma moto, lendo. Estou apaixonada! Como não tinha mais ninguém ali além de nós, Jake nos deu um café e disse que as pessoas começariam a chegar logo, e seria bom que saíssemos logo, principalmente vestidas daquele jeito.

Ele falava meio sério, meio de brincadeira, quando nos perguntou: "Será que vocês estão a fim de programa?"

Donna ficou toda vermelha, e eu só disse a ele o que diria aos meus pais se eles ficassem sabendo. "Só estamos brincado e curtindo. É só uma brincadeira e você não tem nada a ver com isso." Ele entendeu, melhor que isso, "engoliu", e depois de beber o café nós saímos.

Na saída, eu disse a Jake que há mais ou menos uma semana três rapazes canadenses super legais tinham ido lá e nos ajudado a consertar os pneus das bicicletas que tinham murchado, depois que passamos sobre cacos de garrafas de cerveja quebradas que sempre havia na frente da Casa da Estrada. Pedi a ele que, se os visse, dissesse que queríamos agradecê-los, oferecendo uma xícara de café ou qualquer outra coisa. Disse também que estaríamos lá atrás conversando, caso eles quisessem aparecer. Jake prometeu que daria o recado se os visse.

Adivinhe! Eles apareceram. Jake deu o recado, porque eles saíram rindo, sem nos dar tempo de inventar outra mentira. Donna foi rápida e esperta em dizer que "nós queríamos ter certeza de que vocês eram legais antes de dizer quem nós somos".

Todos eles disseram que estávamos muito bonitas; descobri que o nome do terceiro era Rick e todos tinham vinte e dois anos! Dissemos que a nossa idade não importava e não nos impediria de nos divertirmos, desde que chegássemos em casa antes das dez horas. Se tivéssemos que nos atrasar, deveríamos telefonar. Josh disse que tinha alguma coisa para bebermos, e se tivesse algum lugar que conhecêssemos para acender um pequeno fogo na floresta, poderíamos ir e fazer uma festinha. A essas alturas eram mais ou menos cinco e meia da tarde.

O diário secreto de Laura PalmerOnde histórias criam vida. Descubra agora