Querido Diário,
Tenho me esforçado muito para não sentir medo.
Tenho saído com um cara de quem já lhe falei antes. Eu não gostava dele, mas acho que agora é perfeito para mim. Ele me lembra muito aquele cara do retrato na parede do Book House. Veste-se do mesmo jeito, mas não tem moto. Fiz catorze anos. Não deixei que ninguém celebrasse o meu aniversário. Fiz mamãe prometer que não planejaria nada. Disse a ela, um dia antes, na mesa do cozinha, que tinha muito que pensar sobre o que fazer da minha vida. Queria passar o aniversário sozinha. Queria caminhar sozinha, talvez saísse com Troy para um passeio: deixei claro que não pretendia magoá-la, mas que tinha necessidade de passar algum tempo sozinha. Ela reclamou um pouco e ficou perguntando por que eu não fazia isso no dia seguinte. Por fim eu disse que estava meio confusa e só queria voltar para casa à noite com tudo resolvido. Eu não iria muito longe, prometi. Só queria sair. Prometi que no ano que vem e no outro, nos meus esperados dezesseis anos, faríamos uma festa como ela quisesse.
Assim, passei meu aniversário sozinha. Fui para onde costumo ir com BOB. Fui andando, como que num sonho horrível, até ver um pedaço de corda caído atrás do tronco de sua árvore preferida. Senti um arrepio, mas fui em frente. Procurei olhar atentamente para a árvore, tentando descobrir alguma coisa que explicasse por que ele escolhera esse lugar, essa árvore. Não havia nada. Certifiquei-me de que não havia mesmo ninguém por perto antes de fazer o que tinha planejado.
Olhei bem, e quando tive certeza de que estava sozinha, tirei do bolso um baseado. Bobby conseguiu um para mim. Ele queria fumar comigo, mas eu disse que não podia.
Fumaríamos depois, talvez. Fumei bem devagar e comecei a pensar em sexo. Em homens, em todo tipo de homem, dentro de mim.
Procurei pensar nas coisas que BOB gostava. Tirei uma calcinha do bolso e comecei a esfregá-la na árvore. Eu a estava usando antes de sair de casa, por isso sabia que o cheiro ainda era forte... Não tenho mais medo de cheirar mal. Sei que não cheiro. Meu cheiro é igual ao de todas as garotas.
Quando pus a calcinha no nariz e cheirei, imaginei uma garota na minha frente, e onde um homem gostaria de tocá-la. Chego perto. BOB diz que se chama boceta. Eu quero tocar nela, está ouvindo, BOB! Eu a cheiro e digo a mim mesma que não tenho medo. Repeti isso muitas vezes, enquanto fumava e pensava em todos os jeitos que eu poderia pegar em Bobby... Em coisas que eu queria que ele fizesse. Pensei em todas as maneiras de fazer com que BOB viesse. Acho que ele estava lá, mas escondido.
Então fiquei completamente chapada, sozinha, e me joguei no chão, rolando sobre as folhas e as agulhas de pinheiros, e olhei lá em cima a grande árvore. Queria que a árvore me visse, memorizasse o rosto da nova garotinha que estava ali deitada. A antiga não estava mais. Tinha ido embora. Eu só usava a voz dela, às vezes; é tão mais fácil conseguir o que quero quando falo docemente, como uma menininha. Tirei a roupa e comecei a tocar meus seios, lamber os dedos e esfregar os bicos com eles molhados. Circulava- os como os garotos fazem com a língua. Soltava sons quando era gostoso. Gritei quando os belisquei com força e deixei-os vermelhos. O vento começou a soprar, e eu o sentia sobre meus seios nus; lembro-me de ter dito: "Oh, seja o que isso for, eu gosto... Sim... Gosto muito..." Comecei a sentir uma pequena umidade dentro da calcinha... então me despi completamente e gritei bem alto para BOB enquanto esfregava meu botãozinho secreto. "BOB... Bobby... Laura tem um docinho gostoso aqui para você... Gostoso, limpo e... mmmmmmm... Acho que o gosto dele também é bom... Vem, BOB... sai daí e vem brincar..." O vento aumentou, mas BOB não apareceu. Tive um orgasmo como nunca me acontecera antes. Meu corpo não parava, e eu me agarrava à árvore, arrancava pedaços da casca, agarrava outra vez, raspava com as unhas... e então foi parando. A maconha e meu espetáculo para as árvores me fizeram tão bem que quase peguei no sono ali, nua. Mas eu não podia fazer isso. Eu tinha vencido esta. Ele não tinha aparecido. Dia ou noite, não conta. Mostrei a ele que não tenho medo. Me masturbei sob a árvore dele. Eu o chamei e o fiz de bobo. Vou passar nesse teste... você vai ver. Se BOB quer sujeira, tudo que preciso é de um pouco de tempo. Posso ser a garota má que ele tanto quer.
Saindo da floresta, quase morri de susto quando uma coruja passou voando na minha frente, vinda não sei de onde. Pude sentir o poder de suas asas batendo perto de mim. Pensei na Senhora do Cepo. Em algo que ela dissera: "Muitas coisas não são o que parecem".
Em geral tudo isto me assustava. Este lugar, o mais leve pensamento de me masturbar, e me excitar, tudo me assustava. Não assusta mais. Não, esse lugar onde estive não é o que parecia. Sei agora que é um lugar de trevas, mas eu gosto dele. Seja bem-vindo! Não vou mais resistir, mesmo quando ele escorrega para dentro de mim e me machuca. Encontrei luz e prazer dentro desse horror. Meu plano ainda não se completou. Voltarei, BOB. Voltarei para me abrir e fechar como você jamais pensou que eu faria. Voltarei.
Laura
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O diário secreto de Laura Palmer
Mistero / ThrillerJovem, linda, amada e brutalmente assassinada. Quem matou Laura Palmer? A pergunta que assombrou os fãs de twin Peaks nos anos 1990 pode já ter sido respondida, porém a face obscura de Laura Palmer e sua cidade natal jamais abandonou o imaginário de...