Querido Diário,
Terminei a jaqueta de Donna, e são 4h20 da manhã. Não estou conseguindo dormir e acho que vou até a casa de Leo ou de Jacques atrás de um pó, ou quem sabe daquele Valium que Jacques me deu há algumas semanas. Foi ótimo. Talvez eu telefone antes. Não gosto de andar à noite pela floresta sem ter um bom motivo. Voltarei em um minuto,
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Aqui de novo, e muito contente por não ter saído sem antes telefonar. Não sei se já contei sobre a noite em que me perdi na floresta. Quase morri de medo da escuridão e fiquei ali chorando até o céu começar a clarear e eu conseguir encontrar o caminho de volta.
Ofereceram-me uma carona para casa, mas como eu tinha medo que papai chegasse em casa tarde, eu chegaria com Jacques ou Leo um pouco antes. Papai prefere sua filhinha como ela sempre foi... talvez ainda seja... Não.
Bem, falei primeiro com Leo, e ele disse que estava com saudades. Shelley tinha voltado do enterro da tia, e a herança que eles esperavam não veio. Ela teria que voltar na semana seguinte porque tinha alguma coisa para receber. Perguntou se eu tinha trabalhado na minha fantasia. Contei a ele que trabalhara um pouco, mas precisava ficar menos louca para isso. Ele riu e disse que Jacques queria me dizer uma coisa. Jacques pegou o telefone e eu me desculpei por ter ligado tão tarde. Ele disse que só se incomodaria se eu não tivesse ligado, depois me chamou de "amorzinho" e eu sorri, mas não disse nada. Disse que Leo contara a ele por que eu tinha ligado, e que já tinha se preparado para isso. Disse que no sutiã que eu estava usando outra noite, o de renda branca, ele tinha escondido o meu presente de Natal. Pedi que ele esperasse um pouco até eu encontrar, mas ele disse que Leo precisava usar o telefone. Shelley estava esperando que ele ligasse de algum posto, fora do Estado.
Aposto que, por hora, ele não quer estar com ela. Eu desliguei e fui procurar o sutiã na gaveta. O sutiã de renda branca é um dos preferidos de Jacques. Tem um suporte de arame que faz meus seios ficarem muito bonitos. Encontrei-o... graças a Deus eu não tinha tido tempo de lavá-lo!
Dentro do forro do bojo havia um pacotinho, do tamanho de um maço de cigarros só que mais fino. Que sorte mamãe não ter encontrado! Quando abri, percebi que o invólucro era uma página arrancada da Fleshworld, mostrando um cara com o corpo parecido com o de Jacques, ajoelhado na frente de uma loira muito bonita. Acho que era a mulher mais bonita que eu já vira nessa revista. Na foto, ela estava quase nua com um papagaio no ombro, e o cara beijava os pés dela como se a adorasse. No pé da página Jacques escrevera: "Lembrei de você, garota fantasia".
Dentro havia quatro Valiums, dois baseados, um quarto de grama de coca e um bastonete prateado, novinho em folha. Fiquei tão excitada que quase me esqueci da hora, e ouvi mamãe me chamar para saber se estava tudo bem. Voei para apagar todas as luzes, menos uma, enfiei o pacotinho de volta no sutiã e joguei tudo embaixo da cama. Pus a jaqueta de Donna no colo e fingi que tinha adormecido.
Pouco depois mamãe entrou no quarto, acordou-me delicadamente e me disse para deitar na cama. Fui brilhante no papel da inocente filha adormecida. Beijei-a, murmurei alguma coisa, e depois que ela saiu esperei uns quarenta minutos para me levantar. Peguei todos os presentes, espalhei tudo sobre a colcha e fiquei brincando no escuro, até poder enfiar uma toalha embaixo da porta e acender novamente a luz. Acendi apenas a do criado-mudo porque era mais sexy que a grande no teto.
Entrei numa fantasia profunda, drogada, feliz, séria, obscena e ainda assim inocente. Mais tarde eu conto... agora estou tão sonhadora... tomei dois Valiums, cheirei outra carreira de coca e fumei meio baseado. Um exagero, mas quero me foder se não me sentir absolutamente bem.
Acho que vou dar uma espiada nas Fleshworld antes que me escape. Ou eu conto a fantasia que acabei de ter, uma outra idéia que tive ao folhear as revistas.
Noite, noite. L
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O diário secreto de Laura Palmer
Mystery / ThrillerJovem, linda, amada e brutalmente assassinada. Quem matou Laura Palmer? A pergunta que assombrou os fãs de twin Peaks nos anos 1990 pode já ter sido respondida, porém a face obscura de Laura Palmer e sua cidade natal jamais abandonou o imaginário de...