24 de junho de 1987

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Querido Diário,

Já é muito tarde e nem me importei em me registrar ou avisar alguém de onde estou ou se estou a salvo. Nem estou ligando para isso. Não quero saber mais nada sobre mim mesma, por ninguém... muitas mentiras entraram em mim, como projéteis que entraram em mim, como atrás eu teria percebido.

Começo a sentir a fraqueza. Cair no mundo das drogas. O mundo do sexo pelo espetáculo e pelo poder. Pela força que pensei que quisesse, procurei as pessoas erradas.

A parte de mim com autonomia para decidir se uma coisa é certa ou errada desapareceu.

Uma decisão dura um único momento, antes que eu duvide delas e me amaldiçoe por sempre achar que fosse capaz de escolher o certo em vez do errado... eu devia ter aprendido há anos como me lembrar de você. Talvez tivesse me salvado em momentos muito tristes, em sonhos muito maus, em várias centenas de tentativas desesperadas de retornar um eu melhor.

Aquele que recebeu você tão bem. Aquele a quem você deve uma vida inteira.

Certamente espero que você consiga o que deseja.

Não posso ter boas coisas, não agora. Não conheço o caminho da responsabilidade, não sei como utilizá-lo. Tão simples, é só sair andando...

Mandei Troy embora. Libertei-o com várias chicotadas no lombo (um método que me fez correr por um bom tempo, você se lembra, BOB?). Ele se foi. Eu não o mereci, e nem ele merece uma vida que começa e termina todo dia num pequeno quadrado. Uma lembrança constante, se preferir, de que ele não é livre mas que pertence a alguém.

Deixei o pônei ir. Uma das minhas últimas esperanças, antes de anular tudo por você... merda. Já não importa mais nada.

Espero que Troy entenda por que fiz ele me deixar.

Tenho tanto medo que qualquer coisa que eu toque corra o risco de estabelecer contato com BOB. Estarei investigando a morte... não se preocupe. Posso sentir você decidindo quando e onde. Seu cretino.

Laura

O diário secreto de Laura PalmerOnde histórias criam vida. Descubra agora