Capítulo 23

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Como ficou combinado, Stiles passaria o dia na biblioteca da escola a tentar encontrar alguma informação que os ajudasse a chegar ao esconderijo de Garret. Bom, no início ele estava a fazê-lo. Até estava bastante concentrado. Mas, a meio da tarde, sentou-se a ler um livro que tinha encontrado e tinha esperanças que, pelo menos esse revelasse alguma pista. Passado meia hora começou a perder as esperanças e sentiu o cansaço a apoderar-se dele. Dormiu durante umas horas e acordou com uma mensagem no telemóvel:


16:34

Oi, então está tudo bem? Por aqui não se faz nada... e estou mesmo tentado a comer o donut que está na montra daquela pastelaria.


Reparou que tinha também várias mensagens de Scott.


17:27

Alguma pista?


20:35

Está tudo bem?


22:49

STILES O QUE SE PASSA?


Ups, ele dormira mais do que devia e deixara Scott bastante preocupado. Estava prestes a responder quando ouviu um barulho. Pousou o telemóvel e foi ter ao corredor. À frente dos cacifos, podia ver-se uma enorme poça de sangue que cobria mais de metade do chão.

Apanhou um grande susto. Não estava mesmo à espera, e ainda pior, tinha acabado de acordar. Andou mais um pouco, dando sempre passos cautelosos. Parou à porta de uma sala. Respirou fundo, para ganhar coragem e entrou. As imagens que lhe assaltavam a cabeça deixaram-no num estado de choque. Tentava, com calma, assimilar tudo o que estava a ver. Em cima da mesa estava um professor, que reconheceu sendo o professor de Biologia, que tivera no ano passado, morto. Tinha a cabeça dilacerada e havia sangue por todo o lado.

Stiles deu um passo para trás, bastante assustado e nervoso. Mal o transe passou, olhou para todos os lados, mas não estava lá ninguém. Não podia estar mais enganado. Passado uma décima de segundo foi arrastado para o chão por alguém que saltou dos cacifos para as suas costas. Começaram a lutar. Stiles segura-o pelo peito, tentando afastá-lo enquanto o adversário dá umas mordidas, falhando sempre no alvo. Stiles ergue a perna e, concentra, numa questão de milésimas de segundo, todas as suas forças nela e dá-lhe um pontapé, que lhe acerta em cheio no estômago. Vitorioso, afasta-se, cambaleando para trás até recuperar o equilíbrio. Quando o consegue, começa logo a correr. O rapaz corre atrás dele, quase o apanhando. Stiles refugia-se nos balneários, que foi o primeiro sítio que conseguiu encontrar. Fechou, instantaneamente, a porta e olhou ao seu redor. Decidiu pegar nos cacifos que lá estavam e colocá-los à frente da passagem, bloqueando-a. Ainda ofegante, afasta-se o máximo possível.

Começou a ouvi-lo a tentar arrombar a porta. Estava a conseguir. As suas desconfianças de que tinha poderes sobrenaturais confirmaram-se. Tinha que ter super-força para conseguir arrombar uma porta trancada com cacifos à sua frente. Como conseguiria vencê-lo? Parou um momento, para pensar e reparou que ele tinha parado de a tentar arrombar. Se calhar não era tão forte como pensava. Olhou em volta e reparou numa pequena janela na parte de cima de uma parede. Apesar de ser pequena, tinha algumas hipóteses de conseguir passar. Finalmente a sua estrutura magra iria beneficiá-lo.

Subiu para um banco e, aplicando toda a sua força, conseguiu alcançar a janela. Depois de passar metade do seu corpo, passou uma perna seguida da outra. Caiu ao lado de uns arbustos, perto do parque de estacionamento. Baixou-se para observar melhor sem fazer barulho, pois o som da sua queda já tinha sido suficiente. Caminhou agachado, durante um tempo, mas, como não ouvia ninguém, pensou que ele tinha desistido. Olhou e reparou que o carro apenas se encontrava a uns metros de distância. Se corresse, conseguia lá chegar em menos de um minuto.

Estava já a meio do percurso quando ele aparece à sua frente, ainda ensanguentado da sua última vítima. Uma sensação de desespero invadiu Stiles. O que iria ele fazer? Não tinha para onde fugir. O assassino começou a correr na sua direção, depois de lhe ter lançado um sorriso malicioso, de quem acabou de encontrar a sua próxima vítima. O medo bloqueara todos os membros de Stiles, então, ficou simplesmente parado. Quando voltou à realidade, já era tarde de mais, o adversário já estava em cima dele, com a sua boca muito próxima do seu pescoço. Stiles deu-lhe um soco no queixo, mas ele pouco sofreu. Abanou a cabeça e deu-lhe um murro potente na cara dele. Stiles sentiu a sua cabeça a bater no chão. Sentiu o cheiro de sangue, apesar de não ter a certeza de quem pertencia. Reparou num cartão de estudante, da escola, que tinha lá escrito "Axel". Tudo estava muito lento e, ao mesmo tempo, muito rápido. Estava a ser esmurrado e arranhado e, enquanto tentava lutar contra o adversário, o medo continuava lá, a bloqueá-lo. Até que aceitou o medo, deixou-o entrar.

Foi como se ele próprio já não estivesse lá. O medo tinha dominado cada parte do seu corpo e toda a raiva suprimida submergiu. Encolheu as pernas e, num movimento rápido, atirou-o para o chão, libertando-se. Agora estavam os dois levantados, frente a frente. A expressão de Stiles tinha mudado, já não era o rapaz indefeso, aparentava, até, ter alguma crueldade no seu olhar. Axel correu, mais uma vez para ele, mas desta vez, Stiles empurrou-o para o chão e saltou para cima dele. Começou a esmurrá-lo na cara, sem parar. Quem os visse diria que ele até estava a gostar. Axel estava a sangrar, mas continuava a arranhá-lo e a dar-lhe socos no estômago. Mas não pareciam afetá-lo muito.

Passado um bocado, Axel estava com a cara, antes atrativa, toda destruída. Tentou levantar-se, empurrando Stiles, mas não estava a conseguir. Stiles voltou à realidade quando ouviu um grito ao longe:

 - PÁRA STILES!

Axel já estava inconsciente, a sangrar no chão. Stiles parecia confuso, como se não tivesse estado lá. Olhou para as suas mãos e ficou assustado com o que tinha acabado de fazer, mas ao mesmo tempo, aliviado. Afastou-se de Axel, ainda perturbado e reparou que também estava cheio de sangue e arranhões. Levantou-se e sacudiu-se, como se estivesse a tentar sacudir aquele sentimento da sua mente. Estava com um olhar perturbado. Já não era o mesmo. Olhou para a direita e apercebeu-se de que a pessoa que tinha estado a gritar era Skye, a rapariga com que tinha falado no outro dia. Sentiu um alívio dentro de si, se fosse Scott seria muito pior. Mas, por outro lado, esta rapariga nunca entenderia aquela situação e iria contar a toda a cidade o que tinha acontecido.

Ela parecia assustada, mas ao mesmo tempo, não muito surpreendida. Ficou algum tempo a olhar para aquela situação até reagir. Correu até Axel e verificou se ele ainda estava vivo. Ainda sentiu um leve pulso. Essa informação não reconfortou totalmente Stiles. Por um lado estava contente, porque assim não tinha matado alguém. Mas dentro de si, desejava que ele tivesse morrido, não queria nenhuma lembrança viva daquela pessoa que demonstrou ser.


É ConfidencialWhere stories live. Discover now