INVERNO
"Nem pense em fazer isso novamente." Assenti esperando que ele terminasse de discursar sobre como eu deveria me esforçar pra apagar minha mais nova imagem.
"Você não é essa garota que estão dizendo por aí, prove que eles estão errados." Assenti mais uma vez cansada daquela conversa.
"Diana, você está me ouvindo?"
"Estou, pai." Ele me deu um beijo na bochecha e me olhou do seu modo único.
"Eu sei que não foi você que fez aquilo." Sorri e estendi meus braços para lhe abraçar.
"Estão cometendo uma injustiça com você minha filha, mas quem quer que seja vai pagar." Ele já havia falado aquela frases umas mil vezes e todas elas meu corpo se arrepiava. Eu sentia medo do meu pai as vezes, ele era um homem muito influente e faria de tudo pra me proteger. Era bom saber que eu tinha segurança e apoio mas as vezes o excesso disso me sufocava.
"Ligue quando terminar." Assenti me despedindo e entrando no colégio.
Ver as paredes do colégio num sábado já era punição suficiente. O silêncio e os corredores vazios só somavam o ambiente depressivo que aquele colégio se tornava no final de semana. Nunca pensei que estaria passando por essa situação, respirei fundo tentando não focar muito no fato de eu estar de detenção. Detenção. Só o nome me dava nos nervos. Diziam que coisas horríveis aconteciam com quem pegava detenção, era como uma praga que sempre lhe persegue. A cada passo que eu dava tentava pensar menos nisso mas era impossível eu estava caminhando em direção ao meu pior pesadelo. Minha mãe estava indignada com o fato de eu perder meu sábado na escola, meu pai estava furioso com todos os envolvidos desconhecidos no motivo de eu estar aqui. Já eu, bem...eu estou ainda em transe. Abri a porta de cabeça baixa e fui até a primeira banca assim. Percebi que tinham mais três pessoas sentada nas poucas cadeiras presente na sala mas fiz questão de não manter contato visual. Assim que sentei o reitor me olhou de cima a baixo com sua típica cara de decepção.
"Vou começar a contar o tempo, aqui estão as atividades que vocês devem terminar até o final do dia." Disse distribuindo um montante de papeis com diversas atividades. Arregalei os olhos com o exagero de questões que deveríamos fazer.
"A cada meia hora vou passar aqui para ver como estão. Quem não estiver na sala, ou estiver vagabundando por aí vai passar mais dois lindos sábados na detenção. Não sejam mais retardados do que já são e obedeçam as regras." Me endireitei na cadeira assustada com o tom de voz usado pelo reitor que até um tempo atrás era um amor de pessoa pra mim.
"Podem começar e já sabem o resto não sabem?" Perguntou olhando pros outros três que assentiram todos com um sorriso debochado no rosto.
"Sem conversa, sem bagunça e sem corpo mole." Os três disseram em conjunto fazendo o reitor exibir o mesmo sorriso debochado.
O reitor veio em minha direção já sem o sorriso no rosto e disse baixinho:
"Se precisar de algo vá em minha sala, não hesite." Assenti sorrindo em agradecimento e recebi o mesmo sorriso dele. Parece que apesar de tudo eu ainda era sua queridinha e isso me confortou.
Seus passos em direção a porta eram firmes e o barulho da porta fechando atrás de si foi forte o suficiente pra me assustar. Demorei alguns minutos pra finalmente reagir a tudo que acontecia. Encarei a pilha de exercícios na minha mesa e decidida a terminar tudo antes do previsto abri meu estojo.
"Você vai mesmo fazer isso?" Olhei pra trás passando a finalmente observar as outras pessoas que estavam de detenção. A que fez a pergunta era uma ruiva bem bonita que eu já tinha visto fumando algumas vezes no gramado do colégio.
"É claro que a princesa vai fazer tudo e ser uma boa menina não é mesmo?" A loira sentada ao meu lado falou com uma voz dengosa como se estivesse falando com um bebê.
A ruiva riu baixo enquanto pegava algo em seu jeans. Quando tirou um maço de cigarros não pude deixar de arregalar os olhos.
"O que foi? Nunca viu um desses?" Tirou um cigarro pra mim e eu neguei rapidamente com a cabeça.
"Eu não fumo." Disse tentando evitar aproximação com elas.
"Ah, mas é claro! Como eu pude achar que uma garota como você faria uma coisa feia dessas." Foi a vez da ruiva debochar da minha cara e provocar gargalhas da loira.
"Mas se foi você mesmo que fez aquilo deveria ser um pouco mais liberal não?"
"Eu não fiz aquilo!" Disse irritada me virando na direção da loira.
"Ei, calma aí branquela! Está precisando de algo pra se acalmar?" Disse me estendendo uma garrafa de vodca.
"Como vocês trouxeram isso pra cá?" As duas se entreolharam sorrindo.
"E isso importa? Vai, dá um gole logo." Ela insistiu balançando a garrafa na minha frente
"Eu não bebo."
"Meu deus Trish! Como não avinhamos isso antes?" A ruiva deu um tapa na testa e fez uma expressão de falsa chateação. Elas eram boas atrizes.
Me endireitei na cadeira e foquei no cabeçario dos exercícios tentando ignorar as duas ao meu lado. Mas foi impossível me concentrar com elas conversando sem parar e eu cheguei ao limite quando o barulho do isqueiro veio até mim.
"Vocês não podem fumar aqui."
"Não estou vendo nenhuma placa ou aviso por aqui Mak, você está?" A loira passou a observar a biblioteca mais cínica impossível.
"Não vi nadinha Trish." As duas me encaram sorrindo enquanto acendiam o cigarro.
A fumaça veio em minha direção e eu prendi a respiração tentando procurar alguma paciência escondida no meu ser. Sabia que seria difícil, todas as pessoas que passaram pela detenção diziam que era um inferno. mas eu não sabia que seria tão ruim como estava sendo. Eu era uma menina calma, educada e não iria me rebaixar a ignorância daquelas duas por isso fiz questão de dar meu melhor sorriso falso e direcionar minha atenção ao que de fato importava. Enquanto tentava fazer alguns exercícios podia sentir um olhar sobe mim, não direcionado pelas malucas ao meu lado mas sim por uma pessoa bem atrás de mim. Me forcei a não olhar pra trás, eu precisava urgentemente me concentrar e mais uma distração seria o fim. Eu resolvi alguns exercícios de química que estavam muito fáceis e tentava fazer algo de álgebra mas a curiosidade ainda martelava na minha cabeça e eu não resistir a dar pelo menos uma olhada pra trás.
Meus olhos foram na direção de Daniel Kurt. Eu sabia da sua reputação mas não imaginava que era justamente ele que estava na ultima banca na sala. Sua concentração estava nos exercícios mas eu duvidava muito que ele estava de fato resolvendo, cheguei a conclusão que ele desenhava pela forma como seus braços se moviam na mesa. Seu cabelo estava como sempre meio bagunçado e jaqueta de sempre estava em seu corpo. Ele era o bad boy do colégio, com certeza o garoto que eu deveria manter distância. Já escutei coisas horríveis ao seu respeito mas nunca nem sequer olhei bem pra ele e nem sequer imagino como deve ser o seu tom de voz.
"Ei branquela, to com uma duvida aqui." A tal de Trish me chamou quase num grito me fazendo desviar o olhar rapidamente.
"Você não fuma..." Quando vi que não era nada relacionada a atividade já virei meu rosto irritada.
"Nem bebe... você transa pelo menos?" Arregalei meus olhos olhando incrédula pras duas garotas ao meu lado.
"Deixem ela em paz." Nós três viramos na direção da voz forte de Daniel que até então não havia falado uma palavra sequer. Ele olhava diretamente pra as duas malucas ao meu lado e só depois de alguns segundos desviu seu olhar na minha direção. E quando nossos olhares finalmente se cruzaram algo em mim revirou por dentro e me fez querer que ele nunca mais tirasse os olhos de mim.
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Lovesick
Teen FictionDiana não quer um novo amor, nem problemas nesse novo ano. Ela já tem tudo o que precisa: seu cachorro Bambi, suas amigas e seus livros favoritos. Mas então num sábado ela se encontra no lugar errado, na hora errada e acaba se encrencando. A prime...