O frio chegava a alfinetar minhas pernas descobertas enquanto caminhava sentindo a neve abaixo dos meus pés. A rua estava escura e eu ainda podia sentir os lábios de Daniel pressionados nos meus. Estar agora em frente a casa de Hanna me fazia sentir nostalgica e triste. Ainda sentia um misto de raiva ao lembrar de toda a situação que estragou nossa amizade. Ela acreditar que eu havia espalhado suas fotos seminua era tão ireal pra mim. Mesmo com essa raiva dentro de mim bati na sua porta esperando que alguém abrisse logo porque eu estava congelando.
"Boa noite senhora Montez." Ver a mãe de Hanna acabada era algo muito raro por isso me assustei um pouco com a mulher que a abriu a porta.
"Boa noite querida." Seu abraço era sempre acolhedor, eu sentia falta de uma figura materna. As namoradas troféu do meu pai sempre tentavam mas nunca iriam suprir aquele buraco dentro de mim. Perder minha mãe é algo que eu sinto mas não tenho nenhuma memória sobre, nenhum momento com ela. As vezes chego a duvidar da sua morte mas logo a minha parte racional desperta.
"Hanna está no quarto." Ela disse indo pra cozinha. Com certeza aquele clima pesado era por causa das fotos. A família Montez era muito conservadora e ter uma filha como Hanna era simplesmente um inferno pra eles. Assim que abri a porta do quarto não vi ninguém.
"Estou aqui." Ouvi sua voz distante vindo do banheiro. Minha amiga estava sentada no chã, pálida e chorando.
"O que aconteceu?"
"Estou passando mal e não posso falar nada pra eles, você também não pode. Por favor, não conte." Ela chorava desesperada.
"Hanna, vem cá." A levantei com dificuldade e sentei na cama com ela.
"Tem certeza que não quer comer nada? Eu só peço algo pra mim e venho trazer pra cá."
"Não, estou enjoada demais pra comer." Ela disse encostando na parede do quarto e fechando os olhos. " Você tem que me ajudar, Di."
"Eu estou tentando mas você tem que se abrir comigo." Disse me aproximando e sentando ao seu lado.
" Eu contei a ele hoje que estou grávida."
"Ao Bryan?" Hanna negou me surpreendendo. Ela realmente estava encurralada. Bryan mesmo que com muita raiva era louco por ela, ele acreditaria nas suas palavras caso fosse dele.
"O cara que eu traí ele. Vou ter que abortar, não vou suportar sozinha." Segurei sua mão sentindo vontade de chorar junto com ela.
"O que o cara disse?"
"Ele terminou comigo e disse pra eu resolver o problema logo. É assim que ele considera o nosso bebê, um problema." Mas de fato, naquele momento, o bebê era um problema. Um problema dos grandes. Mas eu não diria aquilo, não lhe influenciaria a abortar. Esse tipo de decisão deve partir inteiramente da consciência dela.
"Hanna faça o que você está preparada para enfrentar, o que o seu coração manda e sua mente se tranquiliza. É o tipo de decisão que só se toma uma vez e não se pode voltar atrás." Ela assentiu encostando a cabeça em meu ombro.
"Era óbvio que você não poderia ter espalhado as fotos, não sei como acreditei naquilo."
"Você disse que tinha uma carta não foi?" Perguntei chegando exatamente no meu objetivo.
"Sim, ela está na gaveta de baixo." Levantei e fui até lá. Peguei o papel bem dobrado e voltei a me sentar do seu lado. A letra era de uma menina e extremamente parecida com a minha. Quem fez aquilo, fez muito bem.
Sempre amei estar a seu lado Hanna. Comendo pipoca assistindo aos filmes de faroeste do seu pai, dançando ao seu lado nas nossas festas do pijama e dividindo segredos. Mas agora acho que já chega.
Meu coração passou a acelerar a partir desse momento.
Cansei de ser sua sombra, de estar sempre ao seu lado em segundo plano. Acho que você sempre mereceu mesmo a atenção de todos e amanhã com certeza sua majestade vai brilhar como nunca. Enquanto isso eu estarei lá mas não mais como seu braço direito. Cansei de ser sempre a princesa em comparação a rainha.
É minha vez de dar o cheque mate.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto mas não de tristeza, eu sentia raiva. Ódio de tudo aquilo. Eles me envolveram diretamente numa briga que não era minha. Minha mente voltou para cada toque, cada beijo e palavra sussurrada de Daniel. Eu queria me livrar daquilo. Ele fazia parte daquilo e estava entrando dentro da minha cabeça, tocando em meu corpo e mexendo com meu coração.
"Di, eu sei que é horrível mas eles fizeram isso pra me atingir. Você não tem nada a ver, não se envolva."
"Eu já estou envolvida." Não podia lhe contar do meu primeiro beijo, nem do que eu sabia. Era perigoso pra nós duas. Eu precisava pensar melhor porque ainda tinha muitas dúvidas e precisava de certezas.
" Hanna, você realmente sabe quem é o líder?"
"Eu sei quem domina todo o esquema na escola mas não sei como todo o sistema acontece."
"Você não pode me contar?"
"Eles fizeram isso comigo." Ela levantou os braços mostrando as marcas vermelhas deixadas em seus braços. Abri a boca chocada, revoltada com aquela crueldade.
"Quanto você precisa pra se livrar deles?"
"Eu nem sei mais, a cada semana a dívida aumenta e a coisa está ficando mais pessoal."
"Como assim?"
"O que tirou minhas fotos, acho que ele achou que teríamos algo, que eu estava querendo alguma coisa com ele. Mas a verdade é que eu não quero. É por outro idiota que eu sou apaixonada."
"Então o cara que tirou as fotos está com raiva de você?"
"Possívelmente, não gostou de ser rejeitado e quer que eu pague sofrendo."
"Isso é ridículo." A minha raiva não tinha limites naquele momento
"Isso é real, Diana. E você precisa ficar longe."
Nós duas descemos as escadas abraçadas estavamos nos despedindo na varanda da sua casa.
"Você vai mesmo sozinha pra casa?" Ela olhou a rua escura abraçando o próprio corpo.
"Meu pai não sabe que eu saí, você conhece ele."
"Eu posso te levar de carro e te deixar uma rua antes." Ela sugeriu e atrás dela vi sua mãe já com as chaves na mão.
"Vão logo antes que seu pai chegue Hanna. Você sabe que está de castigo e ele morre de ciúme desse carro."
Durante o caminho ficamos em silêncio só ouvindo o som no rádio.
"O que aconteceu com a sua mãe?"
"Ela está arrasada com o lance das fotos e também com o meu pai. Ele surtou com nós duas depois disso." Assenti sem querer entrar mais em detalhes, podia ver o quanto aquilo tudo estava machucando ela e perguntas são o que menos queremos ouvir nesse momentos.
"Eu estou aqui, pro que precisar." Segurei sua mão com delicadeza recebendo um olhar agradecido dela.
A visão que tivemos ao voltar nosso olhar para rua fez com que Hanna colocasse o pé rapidamente no freio e nossos corpos foram jogados pra frente. Duas pessoas de costas no meio da rua impedindo nossa passagem. Duas pessoas com capuzes pretos, idênticos aos que estavam no Pop's. Nossas mãos antes unidas com leveza se apertaram com força, tentando emanar coragem de uma pra outra.
A visão dos corpos vindo em nossa direção era assustadora. Cada passo deles fazia meu coração acelerar mais rápido e o desespero aumentar. Cada um veio para um lado, e os rosto que se revelaram pro baixo dos casacos pretos fizeram com que nós duas reagissemos surpresas."Boa noite meninas."
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Lovesick
Teen FictionDiana não quer um novo amor, nem problemas nesse novo ano. Ela já tem tudo o que precisa: seu cachorro Bambi, suas amigas e seus livros favoritos. Mas então num sábado ela se encontra no lugar errado, na hora errada e acaba se encrencando. A prime...