Parte dois:
Foi fácil convencer meus pais de que eu dormiria na casa de Hanna. Minha mãe estava preocupada demais com o baile da primavera e meu pai nunca deu maior importância a mim do que ao trabalho. Não o culpo, ser prefeito ocupava muito do seu tempo e ainda mais quando era ano de eleições. A vantagem era não ter suas vigilâncias sempre recaindo sobre mim. Enquanto eu escondesse as coisas dele e fosse na frente da sociedade sua princesinha tudo ficaria bem.
Todo o meu dilema sobre o que vestir para a festa de Trish se resolveu com um vestido preto. O presente também não foi nada complicado, roubei um dos whiskeys do meu pai e coloquei na bolsa. O grande problema era em como em chegar a festa, tinha dispensado o motorista dizendo que iria andando até a rua de Hanna, o que não era bem mentira. Eu realmente estava na rua da casa dela mas não pretendia fazer uma visita. Eu estava esperando Daniel que como sempre tinha a capacidade de me surpreender assim que chegou montado numa moto no meio daquela noite fria.
"Diana." Ele disse assim me acomodei atrás dele ainda ajustando o capacete que acabará de me dar.
"Daniel." Disse colocando meus braços em volta do seu corpo esperando que ele acelerasse. Não sabia como mas podia saber que ele estava sorrindo por trás do capacete.
"Não precisa me segurar tão forte, princesa." Eu que sorri, mas de nervosismo. Acabei relaxando mas ainda estava apreensiva, afinal, nunca havia andado de moto.
"Você confia em mim?" Aquela era uma ótima pergunta e por mais que tudo apontasse para o não eu respondi que sim. E era sincero. Entre muitas das minhas intenções de me aproximar dele aquela era uma verdade. Era loucura, eu sabia. Não fazia ideia do que sentia por Daniel, não podia definir aquilo podia? Mas era forte demais pra simplesmente negar.
Assim que chegamos num grande casarão somente iluminado por alguns holofotes meu corpo travou. Aquele lugar era sinistro. Daniel estava tranquilo, claro, ele estava acostumado com aquele tipo de ambiente e aquele tipo de pessoa. Eu tinha me tentar me encaixar mas ainda haviam barreiras em mim. Fui criada dentro de uma bolha, convivendo e vendo o mundo por uma película delicada. Mas essa película quebrou e agora eu enxergava uma outra realidade. Ainda era chocante pra mim. Todas aquelas pessoas se drogando sem motivo algum, o rock pesado tocando em cada canto e o escuro quase completado cercando todos nós. Senti os dedos de Daniel entrelaçarem nos meus. Ao olha-lo soube que ele havia me captado. Meus olhos não podiam mentir tão bem quanto eu gostaria.
"Você quer mesmo ficar, podemos ir pra outro lugar?" Ele praticamente gritou segurando minha cintura enquanto pessoas desconhecidas dançavam enlouquecidamente a nossa volta.
"Não, eu to legal." Tentei parecer tranquila observando o local. Eu precisava de mais.
"Os pombinhos chegaram!" Trish chegou nos abraçando por trás e ao olha-la de perto mesmo com pouca luminosidade pude perceber que ela não estava no seu estado normal.
"Você já tá bêbada?" Daniel podia ser bem grosseiro quando queria e isso fez Trish sorrir.
"É meu aniversário, eu posso ficar como eu quiser." A ruiva disse segurando o rosto de Daniel de uma forma engraçada.
"Seu presente." Estendi a garrafa de whiskey sobe olhares de recriminação de Daniel.
"Aí, que amorzinho. Agora sim! Achei que Dani nunca acharia uma decente." Trish me abraçou de lado abrindo a garrafa.
"Até me sinto mal por esconder nosso segredo de você, já que é uma de nós agora." Colocou o gargalo da bebida na boca dando longos goles.
"Que segredo?"
"Vai com calma aí, Trish." Daniel nos olhava receoso.
"Ele é um chato né." Ela disse no meu ouvido me fazendo rir.
"Você queria me contar qual o chefe de vocês?" Eu perguntei no seu ouvido a fazendo rir.
"Mas isso você já sabe não? Você conhece ele bobinha."
"Conheço?" Era o diretor, eu estava certa.
"Todos conhecem!" Ela disse me dando a garrafa. "Sua vez branquela!"
Eu segurei a garrafa olhando nos olhos verdes da aniversariante da noite. Eu tinha que me encaixar, não só isso. Eu queria me encaixar. Tomando um longo gole da bebida amarga ouvi gritos de muita gente. Senti as mãos de Daniel sobre mim segundo depois do gole, dizendo coisas confusas demais. Eu só queria beber mais e comemorar que eu finalmente estava perto, muito perto.
Não sabia porque aquilo havia se tornado tão importante. Enquanto bebia mais um shot de whiskey me perguntei se minha vida era tão vazia que eu estava em busca de um mistério fora do alcance. Eu era só uma patricinha, filha do prefeito tentando parecer tão desajustada quanto todos aquelas jovens a minha volta. Eu percebi que estava sofrendo algo que nem sabia quando pedi pra ficar sozinha com Daniel.
Entramos num quarto iluminado apenas pela lua e eu me sentia meio tonta. Assim que senti os braços dele me envolverem puxei seus lábios de encontro ao meu. Seu gosto era tão familiar pra mim. Era doce e perigoso e todas as vezes eu podia sentir meu corpo arder. Puxei ainda mais corpo contra o meu e sentir suas mãos percorrerem minhas coxas quando minhas costas bateram na parede. Rapidamente minhas pernas cruzaram sua cintura e eu senti ainda mais toda a sua excitação e ele a minha. Eu parecia explodir, não sei se pela bebida ou por toda aquela atmosfera incomum mas eu estava com vontade de simplesmente esquecer tudo e todos.
"Não fala nada." Eu disse assim que desci o zíper do meu vestido vendo-o cair no chão e revelar meu corpo. Seu olhar parecia queimar meu corpo e eu não sabia o que sentir. Eu só voltei a beija-lo enquanto sentia suas mãos me tocarem delicadamente. Acabamos parando no chão daquele quarto vazio e escuro.
"Se as coisas avançarem, vai ser difícil me fazer parar, Di." Ouvir ele dizer meu apelido, de uma forma tão delicada me desarmou. Não estava nos meus planos para aquele ano me apaixonar, nem me envolver em toda aquela confusão. Só queria mais um ano tranquilo com Bambi e minhas amigas. Mas então tudo mudou tão rápido a partir do momento em que deixei Daniel entrar. Eu tentei negar mas estava apaixonada e era tarde mais.
"Me diga o que quer e eu te dou." Eu queria a verdade, queria que ele me revelasse todo o mistério. Tirasse aquela paranoia da minha cabeça. Me fazendo enxergar que eu não tinha nada a ver com aquele mundo. Queria que ele dissesse que seriamos só nós dois e que eu não precisava me preocupar.
"Continua." Foi o que eu respondi e também era o que eu queria.
Seu corpo no meu sobe a luz do luar, sentindo cada beijo na minha pele. O som de rock não me incomodava mais, eu até gostei daquela vibração enquanto sentia Daniel me envolver. Foi diferente de tudo que eu já senti. Doeu como o inferno e cheguei a me perguntar porque as pessoas gostavam daquilo, mas Daniel fez melhorar. Ele soube me tocar delicadamente, me beijar nos momentos certos e no fim eu estava relaxada aproveitando meu corpo reagir de uma forma insana os movimentos que ele impulsionava.
Assim que descemos a festa parecia ainda mais fervente e agora eu queria participar daquilo. Peguei um drink desconhecido sobe os avisos insistentes de Daniel de que eu deveria ir devagar. Estava sentindo um tipo de felicidade diferente e queria me derramar naquilo. Dançando um tipo de música que nem me familiarizava, eu estava tão anestesiada que quase não percebi. Passaria despercebido para qualquer um. A luz não estava boa, todos se movimentavam muito e ninguém tinha o objetivo de prestar atenção em algo. Nem mesmo eu que vim com um objetivo traçado para aquela noite esperava encontrar aquilo.
Ajustei melhor minha visão para ter certeza de que se tratava mesmo daquilo. Em um dos barris de cerveja estava o adesivo. Eu conhecia bem aquelas cores, aquele nome e tudo o que significava. O nome Laurence estampava o adesivo que parecia brilhar na minha direção. Era o meu sobrenome, no adesivo da campanha eleitoral do meu pai.
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Lovesick
Teen FictionDiana não quer um novo amor, nem problemas nesse novo ano. Ela já tem tudo o que precisa: seu cachorro Bambi, suas amigas e seus livros favoritos. Mas então num sábado ela se encontra no lugar errado, na hora errada e acaba se encrencando. A prime...