CAPÍTULO VINTE

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Amadurecer dói. Muitos acham que é algo positivo, mas comigo não foi bem assim. Com a chegada do outono uma nova Diana surgiu.

"Di, estávamos quase chegando no baile da primavera. Convide quem precisar pra festa."

"Claro." Tentei parecer animada enquanto almoçava. Odiava aquelas conversas e ter que fingir que minha rotina estava perfeita, assim como tudo na minha vida. Eu nunca tinha parado pra pensar em como me sentia dentro da minha própria casa mas eu sei bem, era desconforto. Eu me sentia desconfortável e em apuros. Precisava simplesmente fugir dali.

"Anelise lembre dos preparativos pro chá um dia antes." Tudo era política com meu pai, as vezes parecia que minha mãe era mais uma de suas secretárias. Também nunca tinha visto aquela relação dessa forma e agora via como era tóxico.

"Vou pro balé." Disse já me levantando da mesa, não aguentava mais os ouvir falando dos preparativos pro tal chá que era onde os possíveis financiadores da campanha política do meu pai eram bajulados.

Eu nunca havia desobedecido meus pais ou mentido, mas enquanto observava a paisagem distorcida pela janela do carro em movimento eu pensei seriamente em fugir. Em ir pra casa de David e esquecer que tudo parecia tão confuso na minha vida. Na verdade, essa minha mudança não foi de um dia pro outro. Amadurecer é como uma onda que te atinge. Certas vezes por conta de um acontecimento específico, e é uma onda forte e turbulenta. Ou então é algo gradativo, que vai crescendo aos poucos, tomando forma e quando vê você já estava sendo engolido pela onda há muito tempo. Comigo foi como um tsunami. Eu não vi como começou, só senti quando já estava me engolindo e se espalhando ao meu redor.

Avistei o motorista saindo com o carro e fiquei sentindo o vento gostoso da estação. Eu não esperava que ele fosse aparecer.

"Você está linda." Ele foi delicado ao puxar meu rosto e plantar um beijo em meus lábios.

"Obrigada." Sorri me sentindo nervosa ao beija-lo em um local público, acho que ele nem havia reparado nesse detalhe pois fez questão de aprofundar seu toque em minha cintura me puxando pra perto. Nosso beijo era calmo e longo. Era quente em meio ao clima ainda gélido.

"Daniel." Me afastei buscando ar. Ele sorriu beijando meu pescoço.

"Quando você está perto eu perco o controle." Sorri sentindo seus lábios em minha pele.

Ele joga bem. Ouvia uma voz na minha mente gritando: perigo! Mas eu só queria beija-lo por mais tempo até os pensamentos defensivos sumirem. De alguma forma eu sabia que precisava exatamente daquilo: de David sorrindo pra mim enquanto me incentivava a fazer coisas que eu nunca havia feito.

"Vamos pra sua casa." Disse lhe abraçando pelo pescoço.

"Tem certeza?" Assenti olhando em seus olhos e observei o sorriso torto dele virar algo muito maior.

"Então, tá. Se prepare pra conhecer meu lugar preferido no mundo." Sorri melancólica.

Antes pensava no melhor lugar do mundo como sendo minha casa também. Hoje eu já não sei se tenho esse lugar.

Pois é, amadurecer é uma droga.



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