Capítulo 1

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Dois meses havia se passado; dois meses desde que ela morrera em seus braços e ainda doía, na mesma intensidade - ou até mais. Miranda tinha partido e ele, agora, se encontrava no fundo do poço, literalmente. Sentado numa cadeira vermelha, no escuro de um clube qualquer, Harry não se lembrava mais qual fora a última vez que estivera totalmente sóbrio. Deve ter sido no enterro. Foi quando desejou morrer e quando começou a esperar a morte do melhor jeito que conseguia.

- Mais uma rodada, amor? – uma mulher vestindo apenas as roupas íntimas da cor vermelha disse, sentando em seu colo.

- Da vodka, me traga a garrafa inteira; e de você, eu só quero mais um gole. – Harry falou friamente.

Ele estava vazio, tão vazio quanto seu copo naquele momento. A stripper levantou e chamou o garçom, mas não começou a dançar até o homem voltar com o pedido. Ela estava acostumada a ver homens afogarem suas mágoas na bebida e entre suas pernas; mas aquele homem ferido não passava de um garoto sufocado pela própria dor.

- Querido... – sua voz saiu carinhosa, movida pela pena quando viu a sede que o jovem entornava a bebida direto da garrafa.

- Dance. Não estou te pagando para falar. – ele a cortou rapidamente.

Conhecia aquele discurso. Ouvira de seus amigos, de seus pais e de cada stripper ou prostituta que lhe observava por mais tempo e com mais atenção.
A mulher calou-se e, assim que começou uma música nova, ela começou a se mover. Para uma estátua sem vida, mas fez seu melhor trabalho. Ao fim, recebeu seu dinheiro e saiu em silêncio enquanto o cliente olhava a garrafa pacientemente.

O álcool não estava adiantando mais e naquele buraco ,ele poderia achar algo mais forte, mais potente. Uma arma seria mais fácil, mais rápido, mas ele não merecia uma morte tão limpa. Ele merecia a dor.

Foi pensando nessa dor que ele viu um grupo de homens sumindo por uma porta negra no canto mais escuro da boate. Harry não fazia ideia do que estava aguardando-o, mas queria aquilo. Ergueu a mão chamando o gerente, sempre atento ao cliente com mais dinheiro - neste caso, ele.

- Posso ajudar? – o homem, que cheirava a colônia barata e cigarros, chegou perto.

- Para onde eles estão indo? – Harry perguntou grossamente.

- Não posso dizer, meu chapa. – ele respondeu nervosamente.

- O que eu faço para entrar?

- Dinheiro e uma indicação. – o gerente disse sorrindo maldosamente – E sangue frio, claro. O que acontece lá, fica lá.

Harry levantou-se e tirou um bolo de dinheiro na carteira. Podia andar com a quantia que quisesse; Louis havia posto um segurança na sua cola o tempo todo. O gerente pegou sem reclamar e Harry fez um sinal para uma montanha de carne e osso e dois metros de altura sair do canto do bar e vir até ele.

- Vou me divertir. – ele disse, indo até a porta e o homem foi junto. Não adiantava fugir: o segurança sempre o seguia.

Não havia uma sala atrás da porta preta, mas uma escada que guiava atrás um andar subterrâneo. Não havia volta e ele nem queria que tivesse. Venderia sua alma por um pouco de paz. Com dinheiro no bolso e a chave do carro, ele conseguiria qualquer que fosse o produto vendido ali.

Quando eles chegaram no lugar, Harry pareceu congelar por alguns momentos.

- Hoje é um dia importante, meu chapa. É dia de leilão e o produto principal é um Lírio de 20 anos; sabe como são raros, não é? – o gerente disse enquanto ele encarava a fila de mulheres formada e os homens que as observavam.

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