Capítulo 17

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- Eu tenho certeza, Louis. – Harry dizia ao telefone enquanto Alice o encarava, sentada no sofá – Nós vamos até a delegacia denunciá-los, isso foi longe demais.

Silêncio.

- Você precisa ver como ele a deixou, Louis. Só Deus sabe o que ele faria se o Rob não tivesse aparecido.

Mais silêncio.

- Ok, nos encontramos lá daqui a meia hora.

Então ele desligou o celular e olhou para Alice. Sabia que ela estava cansada, sabia que todo seu corpo estava dolorido, mas era preciso. Eles não tinham conversado muito, na verdade, poucas palavras foram ditas desde que ele chegara e todas haviam sido pronunciadas por ele. Tudo estava estragado, quebrado. Nenhum dos dois parecia realmente capaz de salvar toda aquela história.

- Precisamos ir. – ele disse por fim.

Ela manteve seu silêncio e caminhou até a porta com Harry logo atrás. Foram até o carro, entraram e começaram a sair com ele pela rua. Rob olhava para o carro com o cenho franzido, algo não parecia certo. E ele veria o que estava de errado se os dois homens não tivessem esperado Harry se distanciar o suficiente da casa para saírem do banco de trás do carro e apontarem uma arma na cabeça de cada um.

- Vire à direita e pare o carro. – um dos homens disse – E não tente fazer nenhuma gracinha, não temos nada a perder aqui.

Assim Harry fez, sem olhar para Alice, fixando a estrada enquanto sentia o cano frio da arma em sua nuca. Virou na esquina, como lhe fora mandado, e parou o carro. Foi posto para fora com brutalidade e viu a garota sendo retirada com força, como uma boneca. Os olhos dela buscavam os seus, esperando um apoio, revolta, um plano. Mas tudo o que ela conseguia ver era uma expressão fria e vazia, como se ele não estivesse ali.

Alice foi jogada no banco de trás, perplexa porque Harry levantou as mãos em sinal de rendição e entrou no carro, na direção oposta a de Ali, por vontade própria.

- Harry... – ela tentou falar, mas foi calada.

Surpreendentemente não foi um dos bandidos.

- Cala a boca, garota. – Harry falou com raiva na voz, sem encará-la. – É culpa sua estarmos aqui, culpa sua.

- Olha só, o playboy já se arrependeu de ter aceitado as frescuras da garota. – um dos caras falou.

Alice desviou os olhos. Sentiu as lágrimas descerem novamente, agora doendo mais do que doera em toda sua vida. O desprezo dele era quase sufocante.

Passaram por casas e rodovias durante horas até que Harry não reconhecia mais o caminho. Uma parte tão pobre e deserta que sequer parecia com a Inglaterra que ele conhecia.

- Não vão nos vendar. – Harry sussurrou tão baixo que ela quase não ouviu.

A garota nem se deu ao trabalho de perguntar a ele o que isso significava, sabia bem disso porque sentiu um frio percorrer sua espinha. A conclusão daquele fato era perturbadora. O fim estava próximo e Harry estava junto com ela, logo seria o fim dele também. Desesperada com esse pensamento, Alice virou-se para os homens:

- Soltem ele! – ela falou com a voz trêmula – Vocês viram que não estamos juntos, ele sequer suporta olhar para mim sem sentir nojo. Por favor, soltem ele e me levem.

O homem que estava no banco do carona olhou para ela com um sorriso maldoso nos lábios. Harry, que a observava pelo canto do olho e com a cabeça baixa, sentiu vontade de intervir, mas não poderia. Interromper o plano idiota dela colocaria o seu em risco. E o dele era bem melhor - pelo menos era o que o próprio achava.

- Não podemos soltar ele, boneca. – o motorista disse – Esse teatrinho ridículo de vocês fingindo que não se importam um com o outro já me deu nos nervos. Nós sabemos de tudo, vimos tudo. Um conselho? Aproveitem os minutos que faltam.

O plano de Harry não era tão bom assim.

Os dois se encararam apenas por segundos suficientes para fazer com que os braços de Harry puxasse Alice para perto, encostando-a em seu corpo, sentindo seu cheiro, tentando gravar o ritmo do seu coração.

- Eu tentei...

- Vai dar tudo certo, meu amor. – ele sussurrou com o rosto escondido nos cabelos dela.

Ela não acreditava nisso, tão pouco ele, mas valia a pena dizer.

- Ali, não importa o que eles digam ou façam, não se renda.

- Eles vão te machucar. – ela falou, apertando-o mais.

- Alice, você não vai se render. – o tom de voz de Harry era sério.

Não, ela não prometeu. Não teve tempo porque logo estavam parados num enorme galpão no meio do nada. Um portão de ferro foi aberto e o carro entrou. Tudo ficou escuro. Alice sentou ereta no banco, apenas segurando a mão de Harry com toda a força que podia reunir naquele momento.

- Não se renda. – ele disse e o motor do carro parou.

Uma dúzia de homens armados e mal encarados rodeava o carro. Eles estavam cercados.

- Lar doce lar. – o homem que estava sentado no carona grunhiu.

Harry foi retirado do carro com um pescoção e assim que saiu teve suas mãos algemadas. Alice fora agarrada pelos cabelos e com a força do puxão tropeçara nos próprios pés e caíra de joelhos no chão. Ele ainda tentou avançar até ela, mas um soco no estômago lhe atingiu, tirando o ar e os movimentos.

- Mas o que é isso? Não é a melhor maneira de se chegar em um lugar. – um homem alto e de bom porte, com cabelos grisalhos e um terno feito sob medida, se aproximou sorridente – Vamos levante o garoto. E você, querida, venha cá.

Ela foi conduzida até ele, ainda pelos cabelos.

- Tão bela... Me pergunto porque eu mesmo não a comprei. – o velho disse – Pouparíamos tanto trabalho e eu me divertiria...

- Por favor, deixe ele ir. – a garota suplicou, fazendo aquele desconhecido se aproximar dela, tocando-a.

A mão macia que lhe acariciou o rosto num carinho quase paternal quebrava sua alma aos pedaços. Ele era gentil, mas seus olhos possuíam uma maldade fria e carregavam promessas vulgares, momentos infernais.

- Não posso fazer isso, meu amor, sabe bem disso. Mas prometo que ele vai viver para ver tudo o que faremos com você e depois... depois ele poderá até se despedir. – ele falou calmo, fazendo com que Ali engolisse o choro. – Vamos entrar. O show precisa começar.

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