Os sentidos foram retornando aos poucos para Alice. Primeiro a audição que denunciava um quarto calmo com apitos eventuais de alguma máquina e o cantar de algum passarinho ali perto. Depois o gosto amargo em sua boca, gosto de remédio e sangue. E então todo o seu corpo latejou em dores fortes e a sensação de ainda estar naquele lugar, com aqueles homens. E foi justamente nesse momento que ela abriu os olhos, encarando uma luz branca forte que estava em cima de sua cabeça. Demorou alguns segundos para que ela reconhecesse aquele lugar.- Bom dia, querida. - uma voz doce e calma lhe cumprimentou e Alice, ainda desorientada, olhou para a enfermeira que lhe sorria amigavelmente.
- Eu estou...
- A salvo, sim. Foi um pouco difícil te trazer de volta e acredito que você esteja com muita dor ainda, mas acredite que isso é um bom sinal.
- Harry? Cadê ele? E os bandidos? Eli e os capangas... eles iam matar o Harry, iam..
A enfermeira segurou uma de suas mãos, fazendo com que ela parasse.
- Dos bandidos eu não sei, mas o seu Harry está bem. Deve acordar a qualquer minuto.
- Ele está muito machucado? - ela perguntou sentindo o nó na garganta.
- Fisicamente, sim. Mas, as feridas do corpo se curam com mais facilidade do que as da alma. - a mulher respondeu. - E essas, querida, você tem e estão profundas demais para serem ignoradas.
Alice desviou o olhar. Não precisava ouvir isso porque ela sentia cada rasgo em sua alma, cada pedaço que faltava em seu coração. Ela podia jurar que seu interior transbordava com as lembranças e sua pele passava a sentir tudo. Um ferida inteira, era assim que ela se sentia. A culpa não era o único sentimento. Medo, trauma, asco de si mesma por ter aceitado tudo, por ter se rendido. Tudo era um doloroso adicional.
- A médica já deve estar vindo. - a mulher falou. - Beba um pouco de água.
A água foi bem recebida pela sua garganta seca, refrescante como deveria ser. Quando a porta abriu revelou uma mulher mais velha com cabelos negros e um rosto indiano, vestindo um jaleco branco que lhe caia perfeitamente bem e Louis com o rosto cansado, mas olhos brilhantes. Com o passo apressado, ele passou pela doutora e se lançou para a garota, apertando-a contra o peito.
- Não consigo dizer como estou feliz por você estar viva. – ele disse.
- Eu...
- Minha paciente precisa respirar. – a médica interferiu. – O senhor já me atrapalhou demais com o senhor Styles.
Alice empurrou Louis um pouco para olhar a mulher.
- Harry acordou? – sua voz saiu fraca por causa da sensação de alívio.
- Sim, ele acordou. Vocês pareceram combinar até nisso. – Louis respondeu sorrindo, e logo passou a mão pelo rosto tentando esconder uma fina lágrima que rolara pelo seu rosto.
- Quero vê-lo agora. – Alice falou firmemente.
- Depois que eu te examinar, talvez você possa sair daqui acompanhada pela enfermeira. – a médica rebateu séria. – A propósito, sou a Doutora Padma.
Alice sorriu fracamente e Louis se afastou para o canto do quarto. Não soltou mais uma palavra enquanto a médica checava os aparelhos, sua temperatura, pressão arterial e seus ferimentos, apenas olhava para Louis que parecia tentar encorajá-la fazendo caretas que supostamente deveriam ser engraçadas.
- Mais tarde um psicólogo virá aqui para conversar com você. – Padma informou anotando alguma coisa em sua prancheta.
- Homem? Não teria como ser uma médica? Eu ... eu ... não...
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Encanto
FanfictionDois meses havia se passado; dois meses desde que ela morrera em seus braços e ainda doía, na mesma intensidade - ou até mais. Miranda tinha partido e ele, agora, se encontrava no fundo do poço, literalmente. Sentado numa cadeira vermelha, no escuro...