Capítulo 16

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Ela já estava acordada quando Harry abriu a porta de seu quarto na manhã seguinte, mas continuou de olhos fechados. Ele ficou parado por um breve momento e, com um suspiro pesado, fechou a porta novamente. Mesmo assim, Alice não se mexeu até ouvir o barulho do carro dele saindo em alta velocidade pela rua. E quando o fez, sentiu-se tonta e sufocada. Era como se as paredes do seu quarto estivessem se fechando, espremendo-a aos poucos, deixando-a sem uma saída. Respirou fundo duas vezes e foi decidida até o banheiro. Precisava sair, precisava correr um pouco, ouvir vozes, sentir cheiros. Tomou um banho rápido, colocou uma roupa confortável e aquecida e, sem dar satisfações a empregada ou a Rob, ela saiu.

A rua cheia e agitada pelo horário, mas ninguém parecia se importar com ela ali. Se alguém sabia quem ela era, não disse nada. Continuou caminhando e sentindo o aperto no peito diminuir. Sua mente permanecia num fluxo de pensamentos e lembranças, questionamentos e certezas. Tinha certeza de que não parecia muito normal para as pessoas que lhe observavam. Os olhos ainda estavam vermelhos e pesados, provavelmente tinha olheiras pela noite mal dormida. Será que sua vida com Liam seria sempre assim? Sempre voltando àquele velho assunto? Não sentia mais falta de ar, nem estava tonta, mas se sentia perdida e insegura. Talvez à noite, ela pudesse conversar com ele, com mais calma, sem todo aquele clima. Tentaria tirar dele uma explicação plausível.

Distraída demais com seus pensamentos, Alice não percebeu a sombra atrás dela. Provavelmente acostumada com a sensação de estar sempre seguida, até mesmo quando estava nos braços de Harry na sala de estar, ou segura em sua cama, ela parecia não ligar. Seus passos eram lentos e olhava tudo ao redor, sorrindo com um bebê brincalhão que passava na sua frente ou com algum casal de idosos brigando sobre algo mais apimentado na relação.

Sem motivo algum, quando ela conseguiu sorrir, se sentiu livre. Por um breve momento, distraída pela sensação de liberdade, ela virou uma esquina e depois outra e outra, caindo num lugar desconhecido. As pessoas continuavam a passar em menor quantidade e as casas não eram as que ela costumava a ver.

- Alice... – alguém cantou atrás de si – Alice...

A voz tentava sair melodiosa, porém, para ela, parecia o sopro de um torturador medieval. O que ele não deixava de ser. Talvez fosse um torturador pós-moderno. Em sua cabeça, as possibilidades pintavam quadros, todos sangrentos no final. Se gritasse, sangue. Se corresse, sangue. Se ligasse para Harry, sangue dele.

Sem saída, ela se virou para olhar o homem que a chamara. Lá estava ele, com seu sorriso amarelado e a barriga que parecia querer explodir. "O Médico" a encarava deliciado com o pavor estampado em seu rosto.

- Minha doce, Alice. – ele se aproximou enquanto ela continuava travada no mesmo lugar.

- Por favor...

O Médico segurou o braço dela com força e descrição, guiando-a até um muro decorado com trepadeiras espinhosas e empurrou-a ali, com as costas forçadas contra as pontas afiadas. Um choramingo por causa da dor escapou e Alice sentiu sua pele rasgando em diversos pontos.

- Você tem sido uma menina muito má. – o Médico censurou.

- Eu não...

- Você é sim. – ele falou, colocando seu corpo encostado no dela, escondendo-a de quem passasse.

Alice sufocou o grito e refreou seu corpo que teimava em fugir, quando sentiu o cheiro de nicotina e álcool dele em seu rosto e uma parte nojenta, dura demais para seu gosto, encostando lascivamente em suas pernas.

- Por favor, me deixa ir. – ela suplicou.

Apertou mais ela contra os espinhos, tornando muito difícil de respirar. Alice começou a sentir o sangue escorrer e ela procurou se concentrar em escapar dali.

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