Alice não viu Louis ir embora porque continuou trancada no quarto o resto do dia. Cora, a empregada, lhe levou algumas refeições e foi algumas vezes até lá para ver se precisava de algo. A senhora não era do tipo carinhosa, mas ainda assim não podia dizer que era tratada mal. Frieza e distância eram a melhor coisa que poderia querer.
A casa era mergulhada num silêncio assustador, bem diferente do que ela imaginava que fosse ser a casa de um músico. Não ouviu nada além de sussurros esporádicos entre Harry e Cora. Era impossível não morrer de tédio. O armário estava repleto de roupas dele, por isso tinha roupas limpas, mas não possuía livros ou um rádio. Nada para tirá-la daquele mundo por alguns momentos.
Já era noite quando Cora abriu a porta do quarto.
- O patrão Styles saiu, criança. – ela disse – Se quiser, seu jantar pode ser servido na sala ou no jardim.
- No jardim, por favor. – Ali respondeu tão rapidamente que ficou difícil esconder sua vontade de sair um pouco, respirar ar puro.
Cora assentiu saindo enquanto Ali tentava achar uma roupa do outro que lhe servisse melhor para sair da casa. Mesmo que fosse no quintal, que era rodeado por muros. Optando por uma T-shirt preta e uma samba-canção da mesma cor, ela saiu de seu calabouço.
Com os pés descalços, ela sentiu a grama fria e o vento fresco e sorriu. Abrindo os braços como se quisesse voar, ficou se balançando de um lado para o outro. Imaginava como seria se fosse livre novamente.
Um pigarro fez com que ela voltasse ao normal e sorrir sem graça. Cora a observava com uma bandeja nas mãos, esperando que ela estivesse sentada, pronta para se alimentar. E foi o que Ali fez assim que viu o olhar severo da mulher.
- Se precisa de mais nada, eu vou me recolher. – Cora disse para ela
- Na verdade... eu gostaria de saber uma coisa. – Ali falou – Eu posso sair do quarto quando o... o senhor Styles estiver em casa?
- Isso você precisa perguntar a ele, criança.
- Você sabe para qual lugar ele foi?
- Os de sempre, imagino. Só espero que desta vez ele não beba o suficiente para trazer outra estranha para casa. – respondendo isso, ela se retirou, com os grandes quadris balançando de um lado para o outro.
Alice decidiu se concentrar mais em sua comida e se pegou cantarolando por mais de uma vez enquanto colocava um pedaço de carne na boca. Quando terminou, levou a bandeja para a cozinha e lavou a louça, na sede de ter algo para fazer.
Caminhando um pouco pela casa, Ali viu que ali havia vários exemplares de livros que ela sempre sonhou em ler, ou até mesmo já havia lido. Os CDs e os DVDs pareciam igualmente interessante e perdeu a noção do tempo lendo cada sinopse, cada nome, cada capa. Pegou um exemplar de 'Razão e Sensibilidade', bem conservado e com uma linda capa de veludo. Jane Austen era sua autora favorita e nunca havia lido este livro em inglês.
Deitou-se no sofá e começou a ler. Sabia o começo, o meio e o fim. Mas, saber o que ia acontecer lhe parecia ser a melhor coisa, já que não fazia ideia do que aconteceria consigo. Se perdeu por entre as letras, as personagens, a trama. Estava ali, no país onde tudo se passara e não via nada de tão mágico. Tendo esperanças de que algo tão lindo e sincero acontecesse com ela também, adormeceu com o livro aberto em cima do peito.
Não ouviu a porta ser aberta e nem mesmo o vulto que se aproximava na escuridão da noite como um predador. Já passava das três da manhã e Ali estava absorta demais em seu sono para acordar. Até que sentiu um corpo cair sobre o seu e logo os beijos sedentos lhe acordaram. Pescoço, rosto, orelha, lábios. Ela era venerada por lábios quentes e úmidos.
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Encanto
FanfictionDois meses havia se passado; dois meses desde que ela morrera em seus braços e ainda doía, na mesma intensidade - ou até mais. Miranda tinha partido e ele, agora, se encontrava no fundo do poço, literalmente. Sentado numa cadeira vermelha, no escuro...