Capítulo 24

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  O vento do fim de tarde era morno ali e Alice quase havia esquecido daquilo. Harry havia feito de tudo para evitar que ela descobrisse onde estava até o momento em que o jatinho particular pousara numa pista preparada para eles, próximo a uma praia.

- Brasil. – ela sussurrou enquanto sentia os olhos se encherem de lágrimas.

Harry a abraçou e esperou todas as lágrimas saírem livremente. Ela soluçou por muito tempo até respirar fundo o ar de sua terra e sorrir para ele, agradecendo.

Agora estava ali, na beira do mar vendo o sol se pôr. A praia era particular também, perdida no meio do imenso litoral nordestino e tudo o que ela ouvia era o som das ondas e os passos de Harry que vinha encontrá-la. Ele a abraçou por trás, um ato que estava virando costume já, e suspirou olhando a paisagem de tirar o fôlego.

- Agora sei porquê você sente tanta falta daqui. – ele disse – É uma obra de arte.

- Quando eu era pequena, meus pais levavam eu e minha irmã para a praia e nós passávamos o dia inteiro brincando. E a tarde, depois de estarmos exaustas, nós sentávamos perto deles e víamos o sol tocar o mar. No momento exato, meu pai fazia um barulho estranho, como se a água estivesse evaporando por ser realmente tocada pelo sol e nós ríamos muito. – Ali contou e Harry apertou-a um pouco mais em seus braços.

- Talvez possamos fazer o mesmo com nossos filhos. – Harry falou fazendo a garota se virar para ele sorrindo docemente.

- Parece uma boa ideia. – ela murmurou quebrando a distância para beijá-lo.

As bocas se moviam e se mordiam em um ritmo que nem mesmo os poetas conseguiram nomear, e era quase possível ouvir o som da água evaporando enquanto o sol tocava o oceano. Alice segurou o pescoço de Harry com as duas mãos na ânsia de apenas se aproximar, ele alternou uma mão na nuca da garota e a outra em sua cintura. O vestido branco que ela usava era tão fino que o calor de seu corpo aquecia a mão dele, como um desafio. E seria tão fácil para Harry rasgá-lo ali mesmo e aceitá-lo de bom grado.

- Ali... – Harry tentou voltar ao pouco de consciência que lhe restava, mas a garota sequer abriu os olhos.

- Só me beije. – ela pediu e não foi preciso repetir.

Os braços de Harry mudaram de posição e carregaram Alice para dentro da casa, quebrando o beijo por alguns segundos para dar um ou outro passo. E não perceberam que já estavam dentro da casa, não perceberam que já estavam no quarto, nem perceberam que a luz alaranjada dos últimos raios de sol era a única iluminação do lugar.

Com cuidado e devoção, com paixão e pressa. Roupas se perderam, carinhos foram recebidos e dados, olhares, sorrisos, palavras desconexas. O momento prolongou por um infinito que não é contado por tempo.

Com as mãos entrelaçadas, com suspiros e com um grito abafado num beijo. Com movimentos como das ondas que batiam do lado de fora, com seus nomes sendo chamados em meio a respirações ofegantes, com corações perdendo uma ou outra batida e com uma explosão conjunta de felicidade, amor e prazer.

Caíram exaustos, abraçados na cama. Os sorrisos brilhavam na negritude da noite, os corpos satisfeitos por estarem interligados.

- Eu te amo. – Harry sussurrou baixinho enquanto ela se aconchegava sem seus braços.

- Eu te amo. – ela respondeu fechando os olhos, deixando-se guiar para sua primeira noite livre dos pesadelos.

O dia amanheceu e Alice acordou sozinha na cama. Esfregou os olhos e viu que na mesa do quarto havia uma bandeja com um café da manhã e uma rosa. Confusa, ela se levantou da cama e foi até lá. Havia também um bilhete.

Bom dia, meu amor

Tome seu café, se arrume e venha para a praia.

Eu amo você, Harry

Assim Alice fez. Tomou o café rapidamente, se jogou debaixo do chuveiro e não se incomodou com as roupas espalhadas no quarto. Colocou uma longa saia amarela e o biquíni preto, sentindo calor demais escolheu não usar uma blusa. E sorrindo, ela saiu quase saltitando pela casa. Passou pelo jardim que separava a praia da propriedade e sentindo o sol da manhã quase cegá-la, começou a procurar Harry.

Na areia, quase perto do mar, havia duas sombras paradas. Uma, sem dúvidas era a de Harry, alto e forte ele estava virado para ela, segurando a mão da outra sombra bem menor que ele. Um frio na barriga fez Alice estremecer toda e seus passos ficaram menos apressados e menos seguros.

-Ali. – a voz era da sombra menor e Alice tropeçou desastradamente mais alguns passos até conseguir ver, e então congelou.

Com o corpo mais desenvolvido e o rosto mais velho, a sombra tomou forma e cores. Alice sentiu como se tivesse levado um soco. A menina do outro lado chorava, e distraída pelas lágrimas da outra, Alice não percebia que seu rosto estava molhado com as suas próprias.

Harry sussurrou alguma coisa para a menina e ela saiu correndo em direção a figura congelada. Os braços dela criaram vida e se ergueram para receber o impacto do abraço daquele ser que corria como se fosse para salvar a própria vida. E quando o abraço aconteceu, as duas desmoronaram de joelhos na areia.

- Meu bebê, minha irmã.... – Ali conseguia balbuciar entre os soluços – Me perdoa, me perdoa...

A garota balançava a cabeça negativamente sem conseguir achar as palavras adequadas para aquele momento. Abraçadas, elas ficaram por muito tempo. Harry achou melhor deixá-las daquele jeito, um momento só delas, e apenas depois que o choro foi acalmando no peito de cada uma sendo substituído por sorrisos alegres e bobos, ele se aproximou.

Alice levantou os olhos para vê-lo e ajudou sua irmã mais nova a levantar.

- A viagem foi para isso? Para me trazer de volta a minha irmã? – ela perguntou enxugando as lágrimas.

- Não tem como começar uma vida nova deixando a família para trás. – ele respondeu. – É a última gota de remédio nas suas feridas.

- Obrigada. – ela disse dando um beijo rápido nele. – Rosa, esse é Harry Styles, meu namorado. Harry essa é Rosa, minha irmã.

Harry apertou a mão da menina que parecia pela primeira vez perceber quem ele era.

- Como é que você conseguiu ter o Harry Styles como seu namorado? – Rosa perguntou baixinho e ele fingindo não ouvir, segurou o riso.

Alice sorriu para ela e sussurrou no mesmo tom, a resposta.

- É uma longa história. Uma história de heróis, bandidos, sofrimento, alegria, amor e encanto.

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