Ela não sabia bem o que fazer quando começou a correr. Sua mente só gritava o quanto ela era perigosa para todos eles e que precisava sair dali, sair de perto deles. Não sabia se as ruas estavam vazias ou as pessoas não me percebiam, mas a cada passo que dava, se sentia mais sozinha.
Ouviu alguém falar uma piadinha, desviou de um carro de polícia estacionado numa esquina. E mesmo sem saber como chegar lá, seguiu as placas até ver o mar. E nas docas, se lembrou de tudo o que passou desde que saiu do Brasil, todos os momentos de desespero, cada vez que respirou aliviada. Lembrou-se dos olhos de Harry, dos beijos e de como ele fazia com que seu corpo sempre o quisesse.
Encostada na murada, ela observava os casais que passeavam sorridentes, os beijos roubados e a vida segura. Provavelmente, alguns ali estariam reclamando internamente sobre a rotina diária, mas não sabiam o quanto isso era prezado pelos que não o tinham. A certeza de uma vida calma.
- Você viu que o Zayn foi esfaqueado e que a namorada dele desapareceu? - Alice ouviu uma menina conversar com a amiga e tentou não olhar para ela, apenas ouvir.
- Estão dizendo que ela não é bem a namorada do Zayn. - a outra deu uma risadinha - A piranha chegou ao hospital com o Harry e, bem... não é preciso ser nenhum gênio pra entender o que está acontecendo.
Alice engoliu a seco e foi na direção oposta, passando por um trailer que vendia peixe frito e tinha a televisão ligada no último volume. Se escondeu atrás de um poste e ouviu a notícia:
"É isso mesmo, o integrante de 22 anos da banda One Direction foi esfaqueado essa madrugada, mas parece que está tudo bem com ele. O fato curioso é que a namorada do Zayn chegou ao Hospital acompanhada por Harry e de repente desapareceu. Temos agora um grande mistério nas mãos, meus queridos."
Alice se afastou rapidamente, até perceber que não possuía muito mais forças. Não tinha fome, mesmo sabendo que estava a horas sem comer e a fraqueza também provinha disso. Mas seu estômago estava revirando demais e não tinha dinheiro pra comprar comida, de qualquer forma.
Sentou num canto entre dois trailers e ficou esperando a noite cair. Olhando para o horizonte sentiu cada função de seu corpo enfraquecer, ouviu seu coração gritar por socorro, sua mente procurar cada possibilidade de fuga e a fome e o frio consumirem o que restara dela.
Por isso não viu a noite chegar. Ela já estava no escuro.
O dia já estava chegando ao fim, mas o tempo parecia congelado para ele. Já havia corrido por toda a cidade, olhando atentamente para cada esquina, cada canto; tinha ido a hotéis baratos e deprimentes e até mesmo Rob havia ido ao bar em que Harry comprara-a, mas não havia sinal dela em qualquer lugar. Era como se Alice nunca tivesse existido.
Louis havia mandado ele para casa para que Zayn não percebesse o que estava acontecendo. Niall não olhara mais para Harry e tinha ido fazer suas buscas sozinho, desesperado. Sem resultado. Liam tinha ficado com a difícil tarefa de vigiar Harry.
- Está ficando escuro e frio. - Harry murmurava - Aquela garota idiota vai morrer congelada.
- Ela vai ficar bem. - Liam falou calmo, mesmo, no fundo, não estando assim - Ela vai ficar bem.
- Eu quero que ela fique bem aqui comigo, nos meus braços, protegida! QUE INFERNO! Para que sair correndo pelo mundo como se isso fosse resolver nossos problemas? Isso é a merda da vida real, não um filme de romance. Eu não posso salvá-la todas as vezes, não posso salvá-la se não souber onde ela está. - ele disse pegando um casaco, correndo até a porta.
- Você não vai sair de novo, ela não quer ser encontrada. - Liam tentou impedi-lo, mas Harry não ouviu.
Havia um lugar, longe demais do hospital e improvável demais para ser pensado. Mas para eles tinha um significado. Se um dia ele quisesse lembrar dela, iria para aquele lugar, para ouvir a música tocada pelo violão de cantores anônimos e para lembrar de como foi perceber o que sentia. Por isso pegou o carro e dirigiu até o cais, esperando encontrar pelo menos um sinal. Dirigiu o mais rápido que conseguiu e quando chegou, viu o lugar vazio com o mar já negro por causa da noite, refletindo as poucas luzes que tinham ao redor.
- Alice! - ele chamou, andando por entre os restaurantes fechados. - Alice!
A resposta fora apenas alguns pássaros espantados pelos gritos, voando para longe dele. A noite estava fria, como uma clássica noite em Londres. O vento do mar fazia a temperatura ali ficar ainda mais baixa, indo a provavelmente dez graus. Porém, Harry não desistiu. Continuou gritando e chamando, andando pelo lugar olhando em cada parte, até que viu. Jogado no chão, um corpo parecia quase sem vida. Com o coração na boca, ele se aproximou e, então, sentiu seu próprio corpo gelado e sem força. Alice estava ali, pálida e com a respiração fraca.
- Harry! – ela chamava com a voz fraca, tentando ver um ponto de luz no breu.
- Alice! – como um eco, ele respondeu desesperado.
- Estou aqui. – Ali disse sacudindo as mãos.
- Por que você fez isso? Por que?- o choro ecoava agora pelo lugar vazio.
- Eu... eu...
Uma luz fraca começou a iluminar tudo, despretensiosa, sem compromisso. O vulto formado pelo corpo de Harry agachado no chão já podia ser visto. Alice sentiu seu coração bater um pouco mais rápido, como se o calor dele estivesse aquecendo-a naquele lugar. Mas ela estava tão distante...
- Nós podíamos ter ficado juntos. – ele dizia – Você aturaria meu mau humor e eu suas crises de insegurança... Por que?
Conforme a luz ganhava força, ela podia ver que Harry segurava algo nos braços. Alguém. Os cabelos esparramados no chão, o corpo sem vida e cor, a não ser o brilho das lágrimas dele que escorriam pela pele fria.
- Eu.... – ela tentava dizer, porém sua voz sumia ao passo que percebia que o corpo era o dela.
- Por favor, Ali. Respire. – ele pediu e ela tentou.
No entanto, seu peito parecia estar repleto de concreto e o ar não entrava. Sufocada, ela tentava pedir socorro, tentava respirar, tentava voltar a vida, abrir os olhos. Mas a escuridão voltou a abraçá-la com força e a voz de Harry não passava de um murmúrio.
- Ali, fale comigo. – Harry a segurou nos braços fortemente, ajoelhando-se no chão, levando-a para perto de seu corpo. – Por favor, respire.
Ele a sacudiu levemente e, decidido, colocou os lábios sobre os dela.
- Você não vai me deixar agora. – ele disse – RESPIRE!
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Encanto
FanficDois meses havia se passado; dois meses desde que ela morrera em seus braços e ainda doía, na mesma intensidade - ou até mais. Miranda tinha partido e ele, agora, se encontrava no fundo do poço, literalmente. Sentado numa cadeira vermelha, no escuro...